Não são poucos os ingredientes que estão levando os investidores em Wall Street a olharem o mercado de capitais com mais cautela e menos apetite. Esse cenário vem sendo alimentado por questões como a inflação elevada, o aumento das taxas de juros e a desaceleração no crescimento dos lucros das empresas na temporada de resultados do segundo trimestre.
Mas há quem consiga enxergar sinais positivos em meio a esse caldeirão e analisar tal contexto com um viés otimista, ou para usar um termo mais adotado no mercado, “bullish”. Esse é o caso do time de analistas de equity strategy do J.P. Morgan, liderado por Mislav Matejka.
“Embora as impressões das atividades provavelmente permaneçam desafiadoras, nós acreditamos que a recompensa de risco para ações não é de toda ruim à medida que avançamos para o fim do ano”, afirmaram os analistas do banco americano em nota distribuída a clientes nessa segunda-feira, 8 de agosto.
“Na verdade, nós entendemos que entramos na fase em que o fraco fluxo de dados pode ser visto como bom, levando a uma mudança de políticas, e que a desaceleração da atividade pode revelar-se menos profunda do que se temia”, acrescentaram.
O time do J.P. Morgan não apenas contrapõe a visão menos animadora cultivada por boa parte do mercado como elenca dez fatores para justificar sua posição. Confira abaixo os componentes listados pelos analistas do banco:
1- Os valuations parecem atrativos, tanto em termos absolutos, quanto em relação à renda fixa. Os analistas destacam que os mercados internacionais, em particular, estão sendo negociados a 12,6 vezes os lucros futuros, um desconto de 20% em relação ao patamar histórico. “Portanto, mesmo prejudicando os ganhos, o suporte do valuation está lá”, escrevem.
2- As posições estão reduzidas e os níveis de caixa dos investidores institucionais estão, em geral, elevados. Na visão do banco, há uma disposição de colocar esses recursos “na rua”.
3- O sentimento dos investidores tem, atualmente, um viés excessivo de mercado em baixa (bearish), com os índices compilados pela American Association of Individual Investors (AAII) perto do seus menores níveis nos últimos 30 anos, o que, em muitas oportunidades, é visto como um indicador de alta para as ações.
4- Para o banco, a visão de que as medidas mais agressivas adotadas pelo Federal Reserve (Fed) já atingiram o seu pico deve ganhar força, o que pode ser reforçado, mais à frente, por níveis de inflação mais estáveis. Os analistas também esperam que o Fed se torne mais “sensível” com os dados econômicos.
5- Da mesma forma, eles acreditam que o dólar também já pode ter alcançado seu pico no ano.
6- Apesar de muitos indicadores em contração, os analistas entendem que essa desaceleração econômica não se traduza, necessariamente, em uma forte recessão. E destacam que os balanços dos bancos estão em “forte posição”.
7- Embora o mercado habitacional tenha enfraquecido acentuadamente, com os preços dos imóveis se estabilizando após fortes ganhos, a expectativa do banco é de resiliência nesse segmento.
8- As empresas revisarão seus ganhos, mas os analistas esperam que isso não se traduza em reduções agressivas.
9- É provável que os efeitos nos consumidores sejam amortecidos pelo excesso de economias acumuladas durante a Covid-19, à medida que as taxas de poupança caem materialmente abaixo das médias longo prazo.
10- É improvável que a desaceleração econômica global seja sincronizada. Um exemplo citado é a China, que tem apresentado melhora em alguns indicadores. “Isso é importante, à medida que muitas empresas europeias e globais obtêm uma fatia significativa de suas vendas da China”, observam os analistas.