Desde que a Ambev anunciou que Bernardo Paiva deixaria o cargo de CEO da empresa e passaria o bastão para o jovem Jean Jereissati Neto, muitos se perguntaram quem seria e o que pensa o próximo presidente da Ambev.
Com 21 anos de casa, dos quais os últimos cinco anos no comando da operação do grupo na Ásia, Jereissati ainda não havia se pronunciado. Mas, pela primeira vez em público, o executivo, que vai assumir o posto no dia 1º de janeiro de 2020, deu pistas do que pretende fazer.
No palco do evento CEO com Propósito, da plataforma Ideia Sustentável, do qual o NeoFeed foi parceiro de mídia, Jereissati se apresentou como o próximo CEO da companhia e fez um mea-culpa sobre o comportamento da empresa nos últimos anos.
“A verdade é que a Ambev, nos últimos anos, ficou muito autocentrada, olhou muito para o seu umbigo, estava muito preocupada em fazer a sua expansão global, uma correria para ter o seu footprint”, disse Jereissati Neto.
Olhando para trás, diz o executivo, percebe-se que a empresa foi muito bem-sucedida nesse processo. Mas, obviamente, está pagando por isso. “Faltou olhar para além dos nossos muros, ter um pouco mais de empatia, escutar mais”, disse Jereissati Neto.
A reflexão do novo presidente da maior empresa de bebidas da América Latina é mais do que necessária para o momento que a empresa vive. “Faz parte a gente fazer esse mea-culpa, esse reconhecimento. Isso ajuda a gente a andar para frente.”
Mas, afinal, o que vem pela frente? Jereissati Neto diz que pretende trazer um novo conceito para a Ambev. Olhar a empresa menos como uma companhia e mais como um ecossistema.
“Um ecossistema que começa com o agricultor, que planta cevada, e termina com um empreendedor, geralmente pardo, em uma metrópole, que está montando um bar e tentando servir o copo para o consumidor.”
“Faltou olhar para além dos nossos muros, ter um pouco mais de empatia, escutar mais”, disse Jereissati Neto
“Temos de ser protagonistas dentro desse ecossistema e transformá-lo em um ambiente sadio, colaborativo e em expansão. É isso o que a gente quer fazer.” É uma maneira para se aproximar ainda mais das pontas da cadeia e, assim, reduzir as ameaças que têm batido à porta da empresa.
E elas são grandes e cada vez maiores. A Ambev, é verdade, ainda tem uma participação de mercado superior a 60%. Mas ela vem sendo reduzida por concorrentes como a Heineken, que recentemente anunciou um investimento de R$ 1 bilhão no País.
Na mais recente teleconferência com analistas para explicar os resultados do terceiro trimestre, Bernardo Paiva foi bombardeado com perguntas sobre o aumento da competição no mercado de cervejas.
A resposta esteve o tempo todo na ponta da língua. “Nós perdemos participação de mercado no terceiro trimestre, mas ainda temos ganho de participação no acumulado do ano”, dizia Paiva. E logo emendava a explicação.
“Os custos de produção subiram muito e as empresas estão operando com margens pressionadas. Os concorrentes ganham mercado a custo de perda nas margens. Isso não é sustentável por muito tempo. É uma estratégia que não funciona no longo prazo.”
A perda de participação de mercado não foi o único dado ruim do balanço. O lucro de R$ 2,49 bilhões foi 11,6% menor, se comparado ao mesmo período do ano passado. O Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) também caiu 3,9%, para R$ 4,41 bilhões.
O desafio de Jereissati Neto é fazer essa gigante ganhar mercado com velocidade
O desafio de Jereissati Neto é fazer essa gigante ganhar mercado com velocidade. E, ao que parece, ele está se preparando para isso. Ele subiu ao palco de muletas. Há 15 dias passou por uma cirurgia no joelho, que já havia sido planejada.
Jereissati Neto contou no palco que, ao chegar em São Paulo de sua cidade natal Fortaleza para cursar administração na FGV, seu sonho era empreender. “Eu tinha convicção que ia ser empreendedor. Por alguma razão, caí na Ambev. Achei que ia aprender alguma coisa, ganhar uma grana e ia voltar para empreender.”
Acabou virando um intraempreendedor, como são chamadas as pessoas que empreendem dentro de uma organização. “A verdade é que a Ambev veio me empoderando, dando desafios, recursos, aceitando meus erros e, de alguma maneira, ela conseguiu preencher esse meu desejo de empreender, de assumir riscos, de errar e fui ficando na empresa.”
“Na verdade, com o tempo, aprendi que o meu desejo não era só empreender, mas sim empreender e causar impacto. No começo da minha carreira queria causar impacto ao meu redor, com os meus amigos, com os meus clientes, crescer como um todo”, diz Jereissati Neto.
Hoje ele afirma que, dentro da Ambev, pensa em ter capacidade de causar impacto em nível global. “E, se a Ambev me deixou empreender dentro dela, a minha capacidade de causar impacto com ela, é muito maior do que se eu estivesse em carreira solo e é por isso que estou aqui até hoje.”
O executivo que, logo depois de sua cirurgia, passou a usar cadeira de rodas temporariamente, afirma que a experiência “foi um exercício forçado de empatia, que faz a gente repensar como o Brasil precisa crescer e melhorar em termos de inclusão”.
“Essa turma são super-heróis para viver em cadeira de rodas, é uma reflexão, muda a nossa perspectiva”, disse. Jereissati Neto também só terá a perspectiva, de fato, de como será a jornada à frente da empresa em que começou como estagiário no dia 1º de janeiro, o dia em que vai se sentar na cadeira hoje ocupada por Paiva.
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