Segundo homem mais rico do mundo, o fundador da Microsoft, Bill Gates,  é conhecido por financiar causas humanitárias e negócios de impacto social. Mark Zuckerberg, do Facebook, outro integrante do clube dos bilionários, também passou a destinar cifras generosas a essas vertentes nos últimos anos, por meio da Chan Zuckerberg Initiative, fundação que mantém com sua mulher.

Nesse roteiro, a dupla tem um ponto em comum: o investimento na Bridge, startup com origem no Vale do Silício, que desenvolveu um modelo de educação de baixo custo, inferior a US$ 5 mensais por estudante. Sediada no Quênia, a empresa já atua em quatro países da África e também na Índia.

Além do aporte, Gates e Zuckerberg têm direito a um assento no Conselho de Administração da companhia, fundada em 2007 pelo casal Jay Kimmelman e Shannon May.

“A educação precisa de uma mudança dramática ”, diz Kimmelman. “E para o que estamos propondo, precisamos atrair investidores de peso, que enxergam o potencial dessa transformação.”

Kimmelman, que também é o CEO da Bridge, estará no Brasil nesta semana. Ele é um dos palestrantes do OurCrowd Sync, evento que será realizado em São Paulo, a partir de 24 de setembro.

Hoje, além de Quênia, Nigéria e Índia, a empresa está presente em Uganda e Libéria. E começa a traçar planos de expansão. Nessa estratégia, a América Latina e, em especial, o Brasil, são alguns dos mercados em potencial.

“Nos próximos dois anos, estaremos ativos nessa frente e o Brasil, com certeza, é um dos focos”, afirma Kimmelman. Mas ele faz uma ressalva: “Todo esse aparato tecnológico não funciona sem um elemento: vontade política.”

Investimentos

Até o momento, a Bridge passou por cinco rodadas de investimento. A quarta delas, realizada em 2015 e liderada pela família Zuckerberg, é a única de valor conhecido, US$ 10 milhões.

Segundo a revista americana Inc., no entanto, o valor total captado pela startup até aqui é de US$ 100 milhões. Além do fundador do Facebook e de Bill Gates, as rodadas contaram com a participação de nomes como o International Finance Corporation (IFC), braço de investimentos do Banco Mundial.

Bill Gates (à esq.), e Mark Zuckerberg

A ideia da Bridge começou a ser formatada em 2005, quando Kimmelman e Shannon viviam em uma pequena comunidade agrícola em Huangbaiyu, na China, por conta das pesquisas do doutorado de antropologia de Shannon. E nasceu, de fato, durante a lua de mel do casal, na África, dois anos depois.

Nesse roteiro, eles viram um cenário se repetir: muitas crianças vivendo abaixo da pobreza e fora da escola. E outras tantas que frequentavam colégios, mas que possuíam conhecimentos precários, mesmo em questões básicas.

O pano de fundo para o projeto combinava a experiência em educação de Shannon e a bagagem tecnológica de Kimmelman. Três anos antes, ele havia vendido a Edusoft, companhia de software do Vale do Silício que atendia escolas públicas americanas, por US$ 20 milhões.

Modelo

A tecnologia é, de fato, a base para o modelo proposto pela Bridge. O ponto de partida é o estabelecimento de parcerias, em sua maioria, com governos locais, dispostos a financiar parte do projeto.

Com os acordos formatados, a startup usa recursos como ferramentas analíticas e de geolocalização para mapear o local ideal de instalação das escolas da rede. As construções, por sua vez, seguem um modelo simplificado e rapidamente escalável.

Os professores passam por treinamentos constantes. E trabalham munidos com tablets, que fornecem roteiros específicos para cada aula. Os conteúdos seguem o currículo de cada país. E são desenvolvidos por acadêmicos da Bridge em conjunto com especialistas e autoridades de educação locais.

Para permitir que o projeto se torne realidade, a startup desenvolveu e incorporou softwares e equipamentos adaptados ao trabalho em locais com infraestrutura precária de rede.

A Bridge tem cerca de 1,5 mil escolas, que abrigam dez mil professores e 800 mil alunos

Com esse modelo, a Bridge tem hoje cerca de 1,5 mil escolas nos cinco países onde atua, que abrigam dez mil professores e cerca de 800 mil alunos.

Segundo Kimmelman, um dos grandes avanços do projeto, no entanto, é o uso de ferramentas de análises de dados. Esses recursos fornecem informações sobre a eficácia das metodologias propostas pela empresa, quase em tempo real.

“Nós conseguimos avaliar rapidamente se uma abordagem que propomos está funcionando em determinada escola”, explica. “E, se preciso, oferecemos um conteúdo, com uma nova formatação, mais personalizado, na semana seguinte.”

Aprovado?

Em um contraponto a esse discurso, a Bridge também vem atraindo críticas de alguns especialistas. A empresa chegou a ganhar a alcunha de McDonald’s da Educação, sob acusações de oferecer um formato extremamente padronizado, sem abertura para que os professores saiam do roteiro pré-formatado e para eventuais e necessárias adaptações.

A Bridge chegou a ganhar a alcunha de McDonald’s da Educação, sob acusações de oferecer um formato extremamente padronizado

Questionado, Kimmelman afirma que há um grande mal entendido nessas alegações acerca do modelo proposto. E recorre a alguns resultados obtidos pela empresa. “Reduzimos o absenteísmo de professores, por exemplo, em mais de 80%”, afirma.

A companhia também divulga dados de seus projetos para reforçar o sucesso de sua proposta. No Quênia, por exemplo, em média, 31% dos alunos de suas escolas superam os padrões de leitura estabelecidos pelo governo, contra 16% de escolas vizinhas.

Já em Lagos, na Nigéria, 80% dos estudantes da Bridge têm desempenho acima da média em alfabetização. Nas escolas particulares de baixo custo e nas escolas públicas tradicionais, esse índice é de 62% e 18%, respectivamente.

“Muitos dizem que a transformação da educação leva, no mínimo, uma geração”, diz Kimmelman. “Mas nós identificamos resultados consistentes em um ano de operação do nosso sistema.”

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