Mais do que a viabilidade ou necessidade de se mexer na meta de inflação, tema que mobilizou boa parte dos economistas do país nos últimos dias, o fator mais importante para levar o Brasil a uma trajetória consistente de queda de inflação e de redução das taxas de juros é a sinalização que o governo Luiz Inácio Lula da Silva dará ao mercado com o arcabouço fiscal que deve apresentar ao Congresso Nacional no próximo mês.

Esse foi o recado de Mansueto Almeida, economista-chefe do BTG Pactual, em debate com alguns dos principais executivos do banco. Entre eles, o sócio Eduardo Loyo e o estrategista-chefe do BTG Pactual Asset Management, Tiago Berriel.

“O grande debate atual não deveria ser a meta de inflação ou a autonomia do Banco Central, o governo precisa mostrar qual será sua estratégia fiscal para o BC poder cortar juros”, afirmou Almeida, lembrando que o momento é de dar clareza para o mercado melhorar sua expectativa de juros futuros.

Ele cita a “boa notícia” passada pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que disse que vai antecipar a proposta do arcabouço fiscal para março e falou no evento nesta quarta-feira, 15 de fevereiro, de que o buraco fiscal deve fechar o ano em R$ 120 bilhões, abaixo do esperado. Mas fez uma ressalva. “Qual o déficit projetado para 2024 e 2025? Não sabemos.”

“A proposta de enviar as medidas em março é fruto de uma ponderação do ministro Geraldo Alckmin e da ministra Simone Tebet, para que as medidas tramitem em abril, no Congresso, junto com a LDO (Leis de Diretrizes Orçamentárias)”, disse Haddad, no evento do BTG.

Segundo Almeida, a sinalização do governo de que pretende elevar o salário mínimo, aprovar aumento de isenção de IR para quem ganha até R$ 5 mil e melhorar o orçamento de saúde dificulta prever qual será a regra fiscal.

“Sabemos que a questão de equilíbrio fiscal se resume a cortar despesa ou aumentar a arrecadação, ocorre que a carga tributária já está alta e a dívida não para de crescer”, afirmou. “Sem dar uma sinalização de que a dívida não vai crescer, pode trocar o presidente do BC e mudar a meta de inflação que não vai adiantar.”

Berriel disse que é difícil estimar quando o BC vai começar a cortar juros e até onde poderá ir. “Vai depender da taxa jura neutra de longo prazo, que é difícil de estimar no Brasil, pois pode variar de acordo com incertezas fiscais e movimento do mercado de capitais”, afirmou.

Mais cedo, o evento do BTG reuniu três pesos pesados do mercado, Rogério Xavier, da SPX, André Jakurski, da JGP, e Luis Stuhlberger, da Verde Asset. Os três defenderam uma revisão da meta de inflação, alegando que ela é irreal.