Citando conversas gravadas, e-mails, mensagens e até fotografias dos bastidores, a empresa Hindenburg Research, especializada em pesquisa financeira forense, publicou um dossiê que indica que a startup de veículos elétricos Nikola pode ser uma grande fraude.

O relatório, que derrubou as ações da Nikola em 11%, diz que o fundador e CEO da startup, Trevor Milton, enganou a todos e "firmou parcerias com algumas das principais empresas automotivas do mundo, todas desesperadas para alcançar a Tesla e aproveitar a onda dos veículos elétricos".

A denúncia acontece dois dias depois do acordo firmado entre General Motors e Nikola. A montadora, com sede em Detroit, concordou em fornecer tecnologia à startup e produzir a picape Badger, desenvolvida e comercializada pela Nikola, em troca de uma fatia de 11% da operação da novata.

Segundo o documento assinado pela Hindenburg Research, a startup desenvolveu sua estratégia ao redor de uma "bateria revolucionária", uma tecnologia que nunca foi apresentada ou comprovada. O relatório levanta ainda mais suspeita ao fato de que, com a nova parceria com a GM, a Nikola tenha optado por usar a bateria da montadora em seus modelos.

"Além de usar a tecnologia de bateria da GM, a Nikola busca usar também sua produção e célula de combustível. A startup parece não aportar nada nesta parceria, exceto designs de conceito, sua marca e até US$ 700 milhões, que eles devem pagar à GM pelos custos de produção", diz um trecho do documento.

Outra denúncia feita pela Hindenburg Research é de que a Nikola "manipulou" o vídeo em que mostra seu caminhão em atividade, intitulado "Nikola One in Motion".

A Hindenburg Research diz que ouviu um ex-funcionário da startup e conduziu uma investigação in loco que comprova que o caminhão em cena foi guinchado até o topo de uma colina remota para ser filmado na descida, se movendo apenas pelo efeito da gravidade. 

"Nós levamos um veículo ao mesmo lugar e, em ponto morto, alcançamos uma velocidade máxima de 56 milhas por hora (90 km/h) e rodamos por aproximadamente 3,3 km", explicam. 

Parte do dossiê em que o vídeo da Nikola é contestado, inclusive com informações de ex-funcionários

O dossiê questiona ainda o fato de Trevor ter indicado seu irmão Travis ao cargo de diretor de produção de hidrogênio/infraestrutura, mesmo sem que ele tenha as qualificações para a posição. "A experiência de Travis parece se resumir a trabalhos terceirizados de reformas em casas no Havaí", informa o relatório.

Travis, por sua vez, não ficou calado diante de todas as acusações. Em seu perfil no Twitter, o empresário postou: "Os covardes fogem, os líderes ficam e lutam por sua integridade. A Hindenburg está apenas fazendo com que as pessoas nos amem mais ao tentar nos destruir. Vai tomar o resto do dia para responder às alegações falsas unilaterais, mas vou publicar um relatório detalhado sobre o assunto. Enquanto isso, continue". 

Na mesma rede de microblog, Trevor também chama atenção para o fato de que a empresa trabalha com vendas descobertas, uma prática arriscada e comum, mas muito criticada por empresários como Elon Musk.

Os vendedores a descoberto muitas vezes espalham notícias negativas sobre uma empresa para forçar a queda do preço de suas ações e, com isso, aumentar seus próprios lucros. A própria Hindenburg confirma, ao final de seu dossiê, que têm ações da Nikola vendidas em seu estoque. 

https://www.youtube.com/watch?v=IAToxJ9CGb8

Caso as acusações sejam comprovadas, a Nikola pode entrar para a "lista negra" do Vale do Silício, junto a Teranos. A companhia fundada em 2003 pela empreendedora Elizabeth Holmes chegou a ser avaliada em US$ 9 bilhões sob a promessa de revolucionar testes sanguíneos.

Depois de rodadas milionárias de investimento, a biotech falhou em comprovar sua tecnologia, num dos escândalos mais "caros" dos Estados Unidos. Holmes está presa e, desde 2018, aguarda julgamento para diferentes crimes de fraude. A defesa estuda alegar "problemas mentais" para justificar o comportamento da empresária.

Outro caso semelhante é o de Ruja Ignatova, a búlgara que levantou até £4 bilhões para a criação da criptomoeda Onecoin, que nunca saiu do papel. Pouco antes de um mandado de prisão ser expedido pelas autoridades americanas, em 2017, Ignatova desapareceu.

Seu paradeiro desconhecido inspira diferentes teorias e roteiros de ficção. Recentemente, a New Regency Television comprou os direitos para explorar a história em filme ou documentário.

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