A americana Amy Webb ganhou fama nos Estados Unidos por ser uma das mais respeitadas futuristas e especialista em novas tecnologias que estão moldando o mercado de trabalho. Nesta quinta-feira, 4 de agosto, ela discursou na Expert XP e deixou claro: os investidores têm se comportado de maneira emocional pelo medo de perder alguma oportunidade.
É o que se conhece no meio como FOMO (Fear Of Missing Out), que, na tradução para o português, significa algo como “medo de perder algo”. Neste sentido, muito dinheiro e esforço vem sendo despejado em tecnologias que a especialista considera como “modinhas”.
Ela citou como exemplo os carros voadores, assunto que já tem um espaço cativo no noticiário de automobilismo quando o assunto trata a respeito das inovações do setor. Webb disse se tratar de uma modinha ao exemplificar que projetos neste sentido são elaborados há mais de um século. Em 1917, o americano Glenn Curtis desenvolveu o primeiro protótipo de um modelo que combinaria um carro com uma aeronave.
“Estamos tentando desenvolver a mesma tecnologia idiota há mais de 100 anos”, afirmou Webb. Ela diz que o ideal não é pensar em um carro voador, mas em novas formas mais eficientes de transportar pessoas de um lugar ao outro. “Não estamos fazendo a pergunta correta. Qual o futuro dos carros? Não precisamos de carros. Precisamos nos movimentar.”
Para Webb, “carros voadores são uma modinha, não uma tendência real e significativa”. Para ela, o futuro do transporte talvez seja um novo tipo de trem que possa ser movido no ar ou elevadores que se movimentam de forma horizontal. “É preciso pensar no longo prazo e fazer investimentos em pesquisa e desenvolvimento”, afirmou durante sua apresentação.
Outro exemplo de uma tecnologia "modinha" citada pela futurista foi a realidade virtual embarcada em dispositivos como óculos e headsets. “Eu não acho que o futuro será com os dispositivos VR. Quando você usa um headset deste tipo, fica isolado. Não é algo que possa ser usado num espaço público, por exemplo”, disse Webb. Para ela, a tendência é que surjam dispositivos que possam “estender a realidade”.
Webb citou como exemplo o Google Glass, um dos maiores fiascos da empresa de Mountain View. O conceito, no entanto, era promissor. A ideia era que o usuário pudesse ter informações que enriqueceriam a realidade física sem se desconectar totalmente do mundo real.
“O que está vindo por aí é mais prático e grandes empresas dos Estados Unidos e da China estão se dedicando a isso”. Segundo ela, uma nova tecnologia neste sentido deve começar a aparecer por volta de 2024 e 2025.
O metaverso e a descentralização
Webb começou sua apresentação no fim da tarde desta quinta-feira falando sobre descentralização. Segundo ela, este deverá ser um dos vocábulos mais utilizados no mundo em 2023. É preciso, no entanto, não confundir o termo com o que algumas aplicações, principalmente relacionadas ao metaverso, tentam vender para seus usuários. “O metaverso ainda não existe”, disse Webb.
A futurista afirma que aplicações que exploram esta ideia não passam de jogos virtuais interativos em que o usuário cria um avatar e se conecta em um mundo virtual. “Este tipo de metaverso não é descentralizado, persistente, interoperável... Não tem blockchain. É um videogame”, afirma Webb.
Para Webb, “todos estão olhando para NFTs e colecionáveis, porque é o que chama a atenção. Mas não é o que importa”. Em sua visão, é preciso olhar com mais atenção para protocolos. Nesta esteira, Webb cita a questão das finanças descentralizadas (DeFi), em que aplicativos podem usar blockchain e conexões peer-to-peer (P2P) para transacionar valores. “A descentralização muda tudo de figura e dá mais liberdade.”
Ao mesmo tempo, Webb diz que ainda é preciso resolver alguns problemas. Sem bancos, mais pessoas teriam acesso ao sistema financeiro. Porém, há pouca ou nenhuma prestação de contas. Não há uma instituição que poderia resolver um problema. “Em um sistema descentralizado, eu não sei como poderia obter ajuda”, afirma.
O mesmo questionamento surge em relação às redes sociais descentralizadas. Ao mesmo tempo que há mais liberdade para que usuários de países com governos autoritários possam ter maior liberdade de expressão porque seria impossível bloquear o acesso a essas plataformas, há também a dúvida de como seria possível controlar o discurso. “Vira uma situação em que quem grita mais alto é ouvido”, diz.