Com 53 anos de idade e há três décadas no setor financeiro, o carioca André Esteves, sócio do BTG Pactual, é um daqueles veteranos do mercado que sempre vão se lembrar dos tempos em que a taxa básica de juros, a Selic, rodava acima de 20% ao ano, tendo chegado ao nível de 45% em 1999.
Agora, ainda que a taxa tenha saído da mínima histórica de 2% atingida durante a pandemia e subido para 5,25%, Esteves parece pouco preocupado com essa alta e está enxergando o copo meio cheio.
“Se a gente considerar um juro estável de 6%, é uma enorme conquista para a sociedade. É o resultado de termos mais acertado do que errado na política econômica durante os últimos 20 anos ou 30 anos”, disse Esteves, durante painel de encerramento de evento online organizado pela TAG Investimentos.
Para ele, o juro só volta a subir para níveis muito maiores se o Brasil fizer um “grau de bobagem” que jogue tudo a perder. “Mas não estou vendo isso nem pela área econômica, pela condução econômica, ou pela condução legislativa”, afirmou Esteves.
Por enquanto, avalia o sócio do BTG, o Congresso tem sido o grande líder da agenda de reformas no Brasil. “Estou gostando de ver a atuação parlamentar”, disse. “Estamos votando os projetos como se fossem PECs (projetos de emenda constitucional), com mais de 400 votos de aprovação, como a privatização da Eletrobras e o projeto do Banco Central (BC) independente.”
O risco, acredita ele, está na esfera institucional. Para Esteves, a agenda só não avança com mais velocidade por causa dos recentes atritos entre o presidente Jair Bolsonaro e o Supremo Tribunal Federal (STF), que andam se bicando após o chefe do Executivo insistir no que ele chama de voto impresso e auditável nas próximas eleições, com a alegação de que o modelo atual, com as urnas eletrônicas, está exposto a fraudes.
“Eu espero que quem esteja criando confusão pare de criar confusão, até porque não precisa. O presidente tem uma agenda boa pela frente e ganhou eleições apuradas e muito bem apuradas por urnas eletrônicas, eficientes, eficazes e que orgulham a sociedade de certa maneira”, afirmou Esteves.
Para 2022, Esteves demonstrou ter uma visão pragmática para as eleições presidenciais. Na visão dele, o Brasil vive uma “falsa polarização”, pois os pré-candidatos que lideram as pesquisas, o presidente Bolsonaro (sem partido) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), não “expressam os desejos extremos da sociedade”.
O sócio do BTG acredita que o candidato vencedor - independentemente de ser de esquerda, de direita ou de centro - terá de compor com as forças políticas centristas para poder ter sucesso.
“A eleição será decidida ao centro, não necessariamente por alguém de centro, porque a maior parte da população não quer radicalismos”, disse Esteves. “O vitorioso será quem trouxer melhor esse sentimento, da esquerda ou da direita, levando tranquilidade para a classe média urbana, para o empresariado e para o mercado.”