A varejista Passarela chegou a faturar por volta de R$ 400 milhões em seus tempos áureos. Mas, desde 2016, a companhia, fundada em 1981 por Vanoil Pereira, começou a enfrentar dificuldades financeiras por conta de crise econômica e da recessão.
Com o fechamento da economia por conta da Covid-19, o faturamento despencou e a companhia, que foi uma das pioneiras da venda de calçados pela internet, não conseguiu mais renegociar dívidas com fornecedores. A solução foi buscar a recuperação judicial em agosto de 2020, com dívidas de R$ 85 milhões.
Com o plano de recuperação judicial aprovado por 87% dos credores mais de um ano depois, a Passarela, que tem sede em Jundiaí, está agora se reinventando. Primeiro, lançou um marketplace que vai além do calçado, entrando em itens como confecções e cosméticos. “Viramos um shopping da moda”, afirma Luis Tomasetti, CEO da Passarela, ao NeoFeed.
Agora, a Passarela está testando um modelo de franquia com a marca Babado, que será um outlet voltado para as classes C e D. “Vamos vender coleções passadas ou pegar produtos que estão passando por reposicionamento para vender no Babado”, diz Tomasetti.
A primeira loja do Babado começou a operar no modelo de franquia em Limeira, no interior de São Paulo. A ideia é vender produtos por um tíquete médio que será metade do da Passarela, entre R$ 59 e R$ 69. E o plano é ter de 10 a 15 franquias do Babado até meados do ano que vem.
"O objetivo é conquistar um nicho de mercado que vem deixando de ser atendido pela Passarela a partir de seu reposicionamento", afirma Tomasetti. "A marca Passarela passa a atender o público B/C, se assumindo como um shopping de moda."
De acordo com o CEO da Passarela, essa é uma forma de manter vínculo com uma camada variada de público, ganhando escala e gerando fluxo de clientes que já passa pelo marketplace da companhia.
Um site, que já está no ar, vende os produtos com descontos de diversos fornecedores, como Beira Rio, Grendene, Ipanema, Via Marte, Penalty, entre muitas outras marcas. Essa operação online deve funcionar como um gerador de negócios para as franquias. “O seller do Babado será o franqueado”, diz Tomasseti.
O marketplace, lançado em novembro do ano passado, está também avançando. Atualmente, conta com 55 sellers. A meta é chega a 100 vendedores nos próximos 12 meses.
Além disso, com apenas três meses de operação, o marketplace passou a representar 50% da venda do canal online – os outros 50% são divididos igualmente em vendas diretas do site da Passarela e de receita vinda de outros marketplaces, como C&A e Marisa. Com essas mudanças na estratégia, a meta é chegar a um faturamento de R$ 70 milhões em 2022.
Com o marketplace e com o Babado, a Passarela tenta relembrar a época em que foi uma das protagonistas do setor online, por ser uma das primeiras a apostar em vendas de calçados online nos anos 2000.
Neste período, as vendas online davam os primeiros passos e era raro encontrar empresas que vendiam calçados e roupas. A Passarela era uma delas e chegou a competir com Netshoes, hoje comprada pela Magazine Luiza, e Dafiti.
Atualmente, a Passarela conta com 15 lojas, menos da metade de antes da recuperação judicial. Todas elas estão localizadas no interior de São Paulo, em cidades como Campinas, Piracicaba e Limeira.
Recuperação judicial
Com a casa em ordem, a Passarela acredita agora ter fôlego para voltar a crescer. O plano de recuperação judicial dá um ano de carência para começar a pagar os credores e conseguiu um deságio na dívida de até 80%. O prazo para quitar todas elas em até 15 anos.
Além disso, a Passarela desenhou uma estratégia para engajar os fornecedores e abater a dívida num período de tempo menor. Um exemplo são os fornecedores que dão prazo de pagamento de 90 dias. Caso o produto seja vendido, um percentual é amortizado da dívida.
Outra forma para reduzir a dívida é fornecer produtos em consignação - quando vendidos, uma parte da dívida é paga de forma antecipada.
É o caso da Pegada, um fornecedor do Rio Grande do Sul que aderiu o plano e hoje fornece produtos para o marketplace e em consignação.
“A Passarela era um dos nossos 100 maiores clientes”, Gustavo Ranft, responsável pela área comercial da empresa, que tem 15 mil clientes. “Estamos mantendo um limite de crédito similar a de antes da recuperação judicial.”