No calendário político e econômico brasileiro, poucos temas estão tão em alta quanto a elevação da meta de inflação. Em boa parte das rodas, incluindo os “embates” entre o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o Banco Central, o assunto vem rendendo discussões acaloradas.
Na manhã de quarta-feira, 15 de fevereiro, esse debate teve como um de seus palcos a CEO Conference 2023, evento promovido pelo BTG Pactual. E contou com a participação de três dos mais respeitados gestores de fundos do País: Rogério Xavier, André Jakurski e Luis Stuhlberger.
Quando três lendas do setor falam, não apenas a Faria Lima para para escutar o que eles têm a dizer - o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, por exemplo, estava na primeira fileira acompanhando o painel. E a mensagem passada pelo trio em relação a essa questão não deixou dúvidas de que há um consenso, ao menos entre eles, do que deve ser feito.
“Não faz sentido nenhum perseguir uma meta de 3% e trabalhar com um juro real de 8%. É uma loucura”, afirmou Xavier, sócio-fundador da SPX Capital, gestora com R$ 58,4 bilhões de ativos sob gestão. “Não adianta buscar algo inalcançável e que gera um custo imenso, seja financeiro, social ou político.”
Em um dos pontos para justificar sua visão, ele ressaltou que a meta atual foi definida em meados de 2020, com base em um cenário que não se materializou e que não colocava na conta choques como a extensão da Covid-19 e a guerra da Ucrânia.
“Então, eu não entendo, se a cada mês de junho temos uma reunião para reavaliar as metas de inflação, por que é um dogma tão grande corrigir?”, questionou. “A meta foi ‘setada’ há dois, três anos, quando o cenário era diferente, e está errada. Por que não pode mudar? O próprio modelo prevê isso.”
Para reforçar esse posicionamento, Xavier destacou que, em apenas uma oportunidade, desde que essa política começou a ser adotada, em 1999, o País alcançou uma meta de 3%. E acrescentou que as projeções de boa parte do mercado para esse ano apontam para uma inflação na casa de 6%.
“Não estou dizendo que a meta deveria caminhar para 6%, mas o custo de trazê-la para baixo é muito grande, porque é uma meta irreal”, disse Xavier. “Não tem perda de credibilidade. Eu vou e altero. Não tem nada de errado nisso. O que adianta buscar 3,25% se eu vou fazer 6%? É falta de bom senso.”
Quem também engrossou esse coro foi Luis Stuhlberger, sócio-fundador da Verde Asset Management, gestora com R$ 32,8 bilhões de ativos sob gestão. “Perseguir uma meta irreal não é algo bom para o Brasil no momento atual”, disse. “A discussão da meta é cabível e não é o fim do mundo.”
Além de ratificar essa linha e destacar que a taxa de juros no Brasil é “impressionantemente alta”, André Jakurski, sócio-fundador da JGP, gestora com R$ 26,9 bilhões de ativos sob gestão, acrescentou que, nesse caso, a ordem dos fatores altera o produto, ao chamar atenção para a questão fiscal.
“Acho que é mais importante definir primeiro a regra fiscal que vai substituir o teto de gastos”, afirmou Jakurski. “O medo é que ela tenha uma porção de válvulas de escape e que não tenha nenhuma meta de crescimento de despesa. Essa é a grande preocupação do mercado.”
Nesse ponto, com a presença de Fernando Haddad, ministro da Fazenda, na primeira fileira do evento, Xavier, da SPX, não titubeou em dar nome e cravar o que está “tirando o sono” do mercado.
“Ninguém tem coragem de chegar no ministro Haddad e falar: ministro, sabe qual é o problema da meta de inflação? É porque as pessoas não têm confiança no pacote fiscal que você está propondo”, disse. “Mas é preciso falar o motivo, ser sincero e usar o argumento correto. Não é a meta da inflação. É a execução fiscal.”