NOVA YORK - O melhor lugar para se observar skyline de Manhattan é fora da ilha. E, este ano, será possível admirar Nova York com um drinque na mão e os pés na areia num beach club badalado, depois de curtir uma manhã de paz num spa luxuoso. O endereço é Governors Island, até então mais conhecida como destino pacato para nova-iorquinos que tentam fugir dos turistas que invadem a Big Apple no verão.
A poucos minutos de ferry boat do sul de Manhattan e também do Brooklyn, a ilha com 70 hectares, que já funcionou como base militar e hospedagem para os governadores britânicos (de onde surgiu seu nome), não permite a entrada de carros de passeio, nem condomínios residenciais.
Há muito verde, curiosidades históricas, algumas construções abandonadas (com fantasmas dos tempos das guerras) e a paisagem estratégica da baía que separa Nova York e Nova Jersey. Alugar uma bike ou fazer um piquenique com as crianças durante as férias escolares sempre foram os programas preferidos dos cerca de 800 mil visitantes que costumavam passar apenas o dia no local, entre junho e outubro.
Atrações menos bucólicas, porém, têm mudado o perfil da ilha, com objetivo de atrair um público mais diverso e, claro, mais investimentos. Hoje, Governors Island já é acessível o ano todo, fica aberta até mais tarde e permite até que alguns hóspedes passem a noite lá.
A novidade aguardada para o fim do mês, contudo, é o Gitano, um restaurante e beach club que leva o clima tropical de Tulum, no México, para a ilha, depois de ter feito o mesmo, por algumas temporadas, num terreno entre os bairros de Tribeca e Soho. Como Governors Island não tem praia, foi preciso carregar 350 toneladas de areia de balsa para lá, junto com palmeiras e hibiscos.
O espaço, de 2,5 mil metros quadrados, comporta até 600 pessoas em barracas, algumas privativas. Com culinária mexicana moderna, variedades de drinques com Mezcal, DJs internacionais e performers, o Gitano promete ser um cenário bem diferente ao que os visitantes da ilha estão acostumados.
O próprio CEO, James Gardner, disse que mora há mais de 20 anos em Nova York e nunca tinha ido a Governors Island. Mas o recém-inaugurado Casa Cipriani o convenceu. O novo e exclusivo hotel, aberto no ano passado, tem apenas 47 quartos com vista para a Estátua ou a Ponte do Brooklyn, e fica no histórico Battery Maritime Building, um dos últimos terminais de balsa que conserva o estilo Beaux-Art. Os ferries que saem para a ilha ficam logo ali, e o dono do Gitano espera lucrar com a sinergia.
Um outro empreendimento inaugurado na ilha este ano foi o spa de QC NY, o primeiro do grupo QC Terme Spas and Resorts nos Estados Unidos. Como é tradição nas outras unidades, as massagens, banhos e duchas têm inspiração europeia, mas a ambientação é local. O spa foi construído em prédios que funcionaram como quartéis e foram devidamente restaurados – projeto que levou anos para ser planejado e finalizado (em parte por causa da pandemia), e consumiu US$ 50 milhões.
Uma das saunas temáticas, chamada “Spa and the City”, tem arranha-céus em relevo de madeira nas paredes e uma janela que dá para os prédios de verdade. Outra simula o Central Park, com sons de pássaros, folhas de outono e cheiro de lavanda. Mas o destaque é mesmo a piscina com fundo infinito, que tem vista para o sul de Manhattan. Passar três horas no spa com 50 minutos de massagem custa a partir de US$ 295.
Os serviços do QC NY são oferecidos com desconto para quem se hospeda no Collective Retreats, o glamping que, desde 2018, tem permitido aos visitantes realizar o sonho de passar a noite na ilha. As tendas mais sofisticadas custam a partir de US$ 850, para dormir em contato com a natureza e, ao mesmo tempo, de olho na Estátua da Liberdade.
Mas é curioso pensar que um holandês comprou a ilha dos nativos, em 1637, por “duas cabeças de machado, um colar de contas e um punhado de pregos”. E, depois de acomodar amigos do rei, militares e a Guarda Costeira, foi vendida pelo governo federal a Nova York, em 1995, pelo valor simbólico de US$ 1.
Hoje, parte pequena da ilha é administrada pelo Serviço Nacional de Parques e o resto, por uma organização sem fins lucrativos em parceria com a prefeitura e uma associação de “amigos”, que envolve voluntários e representantes de grandes empresas.
Incremento no turismo
“Realmente há algo para todo mundo na ilha, e eu mesmo não vejo a hora de experimentar isso”, comentou o prefeito Eric Adams, ao abrir a atual temporada, no final de maio. Ele foi explícito sobre a intenção de incluir a ilha nos planos de recuperação econômica pós-Covid.
“Não podemos ficar sentados e esperar que nossa cidade se recupere por conta própria – precisamos mostrar tudo o que Nova York tem a oferecer, e Governors Island deve estar na lista de programas obrigatórios para todo nova-iorquino e visitante este ano”.
Setores como turismo, hospitalidade e economia criativa foram os mais afetados pela pandemia, e o prefeito assumiu o cargo, em janeiro, com a promessa de recuperar os 400 mil empregos perdidos nos últimos dois anos. O fluxo de turistas despencou para 22,3 milhões em 2020, após ter atingido seu recorde, com 66,6 milhões, no ano anterior.
A cidade recebeu 32,9 milhões de visitantes no ano passado, espera fechar o atual com 56,4 milhões. Ano que vem ainda deve ficar um pouco abaixo do pico alcançado antes da Covid, já que o turismo internacional não voltou com força aos trilhos.
Os visitantes de fora do país devem chegar a 8 milhões este ano. Vale mencionar que o Brasil está entre os cinco países com maior número de visitantes em Nova York (a previsão para 2022 é de 479 mil brasileiros, mais até do que o total estimado de chineses, uma nacionalidade importante para o setor e que esteve impedida de vir).