A XP Inc. resolveu subir o tom na briga que está travando com seu sócio Itaú em torno de uma campanha publicitária do Itaú Personnalité que ataca a transparência dos agentes autônomos.
Em entrevista agora há pouco, Gabriel Leal, sócio e head comercial e de relacionamento com clientes da XP, disse que a campanha do Itaú “é uma grande atitude de desespero do banco”.
“É a incapacidade do banco de se reinventar. E surpreende a todos um banco tão sério como o Itaú colocar uma campanha de tão mal gosto e denegrindo a imagem de profissionais capacitados”, disse Leal.
Segundo Leal, todos os dias R$ 150 milhões saem do Itaú e vêm para a XP. “Se fizer uma projeção no tempo, não seria difícil imaginar que o Personnalité, em três anos, poderia se extinguir e acabar.”
O executivo disse ainda que o Itaú tem 200 mil investidores que investem em fundos de renda fixa conservadores que cobram taxas de 1,5% a 1,75% ao ano. Leal também afirmou que o Itaú tem fundos de uma única ação que cobram taxas de 3% ao ano.
“Para comprar uma ação, há várias corretoras que cobram taxa de corretagem zero”, disse Leal. “O Itaú não refletiu melhor sobre esses conflitos internos antes de atacar os supostos conflitos do mercado.”
De acordo com Leal, as remunerações dos agentes autônomos da XP são transparentes e que todas as comissões são abertas ao investidor. Mas quando questionado onde estavam essas informações, ele informou que era necessário ser cliente da XP para ver os dados.
Essa não foi a única provocação do dia entre as duas instituições financeiras. Pela manhã, o Itaú fez um post pedindo para as pessoas marcarem o amigo "que em 2019 acreditou mais no coletinho do que em uma carteira diversificada".
A frase é uma referência aos coletes que seriam usados pelos corretores da XP. A companhia respondeu logo depois, dizendo que o ano é 2020 "e ainda tem gente criticando a roupa dos outros".
O cofundador e CEO da XP, Guilherme Benchimol, também respondeu a provocação do Itaú na rede social Linkedin.
"É isso mesmo que você leu. Nós vamos presentear os clientes da XP que fizerem uma TED do Itaú pra cá e postarem marcando @xpinvestimentos", escreveu o executivo.
Segundo Benchimol, para cada colete presenteado, a XP vai doar também um cobertor para pessoas em situação de vulnerabilidade social, por meio de organizações não governamentais (ONGs).
O empresário falou sobre o caso durante uma live promovida pela MoneyWeek, Benchimol afirmou estar confuso com a atitude do Itaú. “Eu fiquei surpreso porque é confuso acreditar que alguém que comprou a sua ação não acredita no negócio e, se isso for verdade de fato, não faria sentido essa pessoa continuar como seu acionista”, afirmou.
O Itaú comprou 49,9% da XP em maio de 2017. Hoje, a XP tem valor de mercado de US$ 24,4 bilhões (R$ 125,2 bilhões). O Itaú Unibanco, por sua vez, vale R$ 246,7 bilhões.
Procurado, o Itaú Unibanco disse que não iria se manifestar sobre as declarações da XP.
Entenda o caso
Na manhã quarta-feira, 24 de junho, o Itaú Unibanco lançou uma campanha publicitária em que partiu para cima da XP. A propaganda, que divulga o novo posicionamento do Itaú Personnalité, criticou o modelo de corretoras que investem em comissões para agentes autônomos para venderem produtos financeiros.
Em um dos filmes da campanha estrelada pelo ator Marcos Veras, um cliente diz que, em 2019, a moda é ter conta em corretora e um assessor. “Ele insiste o tempo todo, investe nisso, investe naquilo. Não tem risco. Estou me sentindo o rei de Wall Street”.
O cliente aparece no quadro, um ano depois, dialogando com sua versão de um ano antes. “Aqui em 2020 deu pra ver que não tinha risco. Pra ele, né? Que ganhava comissão por tipo de investimento. Ainda bem que você deixou o dinheiro no Itaú Personnalité. São especialistas isentos. Aprendeu, rei de Wall Street?”
Após a divulgação da campanha, o cofundador e CEO da XP Inc., Guillherme Benchimol, foi ao seu LinkedIn responder à campanha do Itaú.
“A campanha do Itaú só reforça que estamos no caminho certo. Para o maior banco do País, com mais de 90 anos de tradição, ir a público e ofender uma profissão tão fundamental para o desenvolvimento financeiro dos brasileiros, é porque realmente percebeu que não consegue mais competir colocando o cliente em primeiro lugar”, escreveu Benchimol.
Procurado pelo NeoFeed após o posicionamento de Benchimol, o Itaú Unibanco afirmou que a campanha busca ressaltar os atributos positivos do Personnalité, como a plataforma aberta de produtos financeiros e o modelo de incentivos que tem como foco uma visão de longo prazo, além dos resultados e satisfação para o cliente.
“O Itaú Unibanco acredita que ética independe de modelo e há bons profissionais em todas as configurações, seja um agente autônomo ou um gerente de banco. O Itaú Unibanco está sempre aberto ao debate transparente e honesto, e não é diferente desta vez.”