O Brasil possui uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo, com quase 90% de fontes renováveis, mas desperdiça energia como poucos países em desenvolvimento. Entre as 16 maiores economias globais, o País ocupa a constrangedora 15ª posição no combate ao desperdício energético - à frente apenas do México.
Essa contradição será um dos principais desafios quando o País sediar, em menos de dois meses, a COP30 em Belém (PA), entre os dias 10 e 21 de novembro. Será a primeira vez que a Conferência das Nações Unidas para Mudanças Climáticas acontece na América do Sul.
"A direção da COP precisa trazer casos concretos, mostrando experiências de empresas que deram certo, mas também compartilhar casos que não funcionaram. É importante reconhecer que temos problemas", diz Rafael Segrera, CEO da Schneider Electric na América do Sul ao NeoFeed.
Para o executivo venezuelano, essa transparência é fundamental para o aprendizado coletivo. A necessidade dessa abordagem realista fica clara nos números.
Pesquisa do Conselho Americano para uma Economia de Energia Eficiente (ACEE), divulgada em julho deste ano, coloca o Brasil em penúltimo lugar entre as principais economias mundiais em eficiência energética.
"O Brasil está pronto na geração de energia. Na área do uso eficiente, não. Há muitos processos que poderiam ser automatizados e garantiriam mais produtividade na indústria", afirma Segrera.
O maior problema, segundo ele, está na "última milha" da distribuição energética, onde a responsabilidade recai sobre o setor privado. É nesse ponto que surgem os pontos cegos da gestão de energia elétrica no Brasil, onde ninguém assume a responsabilidade.
Um exemplo prático dessa ineficiência: em muitas fábricas brasileiras, os responsáveis pela infraestrutura elétrica não se comunicam com os gestores de processos produtivos. "Eles não se falam. Mas, no final, todos precisam de energia", observa o CEO. "É preciso conectar power a process."
Desmistificando o custo da eficiência
Segrera contesta a percepção comum de que sustentabilidade é cara. Para ele, implementar tecnologias na distribuição de energia é justamente para diminuir custos. É possível utilizar a mesma energia para produzir mais. Mas, para isso, é preciso medir e controlar.

A Agência Internacional de Energia projeta que o mundo precisará triplicar a geração de energia renovável, mas também duplicar a eficiência energética. "No caso do Brasil, essa eficiência precisará crescer três vezes", explica o executivo.
O lançamento do programa Nova Indústria Brasil, no início do ano passado pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), foi um avanço, mas insuficiente para enfrentar o problema.
"Este programa tem o objetivo de incentivar e financiar a descarbonização da indústria. A intenção é boa, mas ainda não tem resultados concretos. Precisa ir mais rápido", afirma ele.
Para o executivo, o poder público deveria criar incentivos mais claros para empresas eficientes. "Se uma empresa produz mil sapatos gastando 15% menos energia que a concorrente, por que o governo não reconhece isso? Hoje tem condições de fazer essa comparação e estimular investimentos."
No início de setembro, a Schneider Electric firmou um memorando com o MDIC para acelerar a descarbonização da indústria brasileira. O acordo prevê três fases de estudos, com resultados apresentados durante a COP30.
A primeira etapa mapeará cenários de descarbonização baseados em experiências internacionais. As fases seguintes tratarão de políticas de desenvolvimento industrial sustentável e intercâmbio entre especialistas.