Ibovespa em forte alta e dólar e juros em firme queda coroam o encerramento do 1º turno das eleições brasileiras no domingo, 2 de outubro. Mas o desempenho excepcional desses ativos vai além das urnas e das fronteiras. Reflete um alinhamento ao cenário externo.

Depois de um trimestre de grandes perdas nos principais mercados, a abertura do quarto trimestre, nesta segunda-feira, 3 de outubro, traz um alento que, lembram analistas, é pontual e não é exclusivo do Brasil. O ambiente é de correção de preços favorecida por maior apetite ao risco.

As bolsas avançam no mundo inteiro e os índices mais representativos dos EUA – S&P 500, Dow Jones e Nasdaq – alimentam a trajetória altista desde o início da sessão, contagiando os mercados europeus que chegaram a operar em queda, mas fecharam no azul.

Os juros referentes aos bônus soberanos com prazo de 10 anos sofrem ajustes e para melhor. De um elenco de 15 títulos de economias desenvolvidas e emergentes, 10 registram queda de juros, informa o Trading Economics.

“Benchmark” no mercado internacional de capitais, o Treasury americano atravessou a segunda-feira cotado em torno de 3,60%, após ter arranhado 4% há poucos dias. O rendimento do bônus do Brasil transacionado no mercado internacional, também com 10 anos para o vencimento, rompeu o consistente suporte de 12% e passou a 11,7%.

As moedas replicaram a tendência de valorização quando confrontadas ao dólar americano. E nove, de um elenco de 15 referentes a economias desenvolvidas e em desenvolvimento, fortaleceram.

O Dollar Index (DXY), que representa a relação da moeda americana com as de seis economias desenvolvidas, deslizou de mais de 112 pontos para 111 pontos. Na semana passada, esse indicador chegou aos 114 pontos, em reação à defesa de dirigentes do Federal Reserve (Fed) por uma atuação mais agressiva da instituição no combate à inflação.

O real, entre as moedas de melhor performance no mundo, mudou radicalmente de patamar nesta segunda-feira, 3 de outubro. Caiu mais de 4% para R$ 5,17.

Hideaki Iha, operador da Fair Corretora, reconhece que o resultado do 1º turno das eleições trouxe um alívio ao câmbio, mas não considera que há mudança de tendência da taxa e vê a forte queda como “pontual” por uma combinação de fatores.

Ao NeoFeed, o especialista destaca o comportamento dos mercados internacionais – inclusive de alta de preços das commodities que transitam na contramão do dólar – e a mobilização de grandes investidores locais que decidiram sair do mercado, ante a súbita elevação das cotações.

“Nessas horas de troca de posição de investidores ou traders, o mercado fica pequeno e, hoje, ela ocorreu a favor do real. Mas o cenário externo é preocupante”, diz Iha.

Ele avalia que, embora o 1º turno tenha sugerido que Lula e Bolsonaro poderão caminhar mais para o centro político, lá fora há nervosismo, inclusive, com o desenvolvimento da situação do Credit Suisse, que passa por dificuldade.

“É um banco com atuação global. Terá ele um desfecho como vimos no passado com o Lehman Brothers que quebrou? É difícil saber, mas o temor, se agravado, contamina os mercados. E o dólar tem alta sensibilidade”, afirma.

Cleber Alessie Machado, chefe da mesa de derivativos financeiros da Commcor DTVM, reforça a percepção de que o dólar negociado no Brasil, assim como outros ativos, passa por correção nesta abertura de trimestre.

Ele lembra, porém, que nas últimas semanas, sobretudo as bolsas e o dólar foram muito penalizados no mercado internacional por expectativas de recessão e inflação e pela atuação dos bancos centrais na política monetária. “Até por isso é arriscado dizer que a atual precificação será duradoura”, observa.

Machado avalia que o mercado doméstico tem reagido ao cenário externo que vem sendo pautado por busca de segurança. “E os mercados andam juntos na alegria e na tristeza. Hoje é um dia de alegria pelo comportamento dos ativos lá fora”, diz.

Mas o especialista em câmbio também inclui o resultado do 1º turno das eleições brasileiras como elemento favorável ao real nesta segunda-feira. E esclarece que não se trata de Bolsonaro – melhor colocado no placar final do que o sinalizado pelas pesquisas. Machado destaca as vitórias de parlamentares nas urnas mais inclinados para o campo do centro-direita no Congresso.

Com essa configuração, analisa Machado, da Commcor, “mesmo que Lula ganhe no 2º turno, o cenário que se coloca é de um Congresso que deverá fazer frente a medidas mais extremas ou evitar a reversão de outras medidas agora vigentes”.

Essa leitura da composição do Congresso, pontua o especialista, “deixou o mercado mais tranquilo”. E, paralelamente, diz, o Brasil é capaz de atrair muito capital estrangeiro e não apenas para operações de carry-trade em função da nossa taxa de juro. “A inflação está alta, mas desacelerando e a bolsa oferece oportunidades.”