Depois do impacto sobre os trabalhadores das fábricas, a tecnologia agora ameaça os empregos “colarinho branco”, com a inteligência artificial (IA) reforçando um movimento crescente de cortes profundos nos setores administrativos das empresas.

A Amazon foi a mais recente empresa a anunciar esse tipo de medida. A plataforma de e-commerce informou nesta semana a intenção de cortar 30 mil postos administrativos, o maior corte de sua história. Esse é um movimento que não deve parar.

Antes dela, a Nestlé anunciou o corte de quase 16 mil empregos no mundo, sendo 12 mil deles administrativos. A empresa de logística UPS e a varejista Target também divulgaram cortes em seus backoffices, de 14 mil e 1,8 mil vagas, respectivamente.

É o “novo normal” no mundo corporativo, sobretudo nos Estados Unidos, onde as empresas vêm reduzindo drasticamente vagas administrativas, abrindo menos oportunidades para recém-formados e restringindo espaço para profissionais mais experientes, tornando-se cada vez mais seletivas.

Parte dessa onda de cortes é atribuída ao avanço da IA, com empresas adotando a tecnologia para substituir funcionários bem remunerados e reduzir despesas.

Fatores como incerteza política e aumento de custos também afetam as contratações, segundo reportagem do The Wall Street Journal (WSJ), com investidores pressionando líderes empresariais por mais eficiência com menos pessoal.

A tecnologia está desafiando a ideia de que um diploma universitário garante estabilidade e bons salários. Um estudo do Fed da Filadélfia concluiu que empregos com salários elevados e exigência de diploma de bacharelado estão mais expostos à IA do que outras funções.

Na consultoria SBI, a equipe de desenvolvedores de software — antes altamente demandada e bem remunerada — foi reduzida em 80%. E a produtividade aumentou, segundo o CEO Mike Hoffman.

“Temos alguém gerenciando grupos de agentes que estão programando”, disse ele ao WSJ. “Nossa IA escreve seu próprio código Python.”

Outra empresa que adotou IA em nome da produtividade foi a plataforma de cursos online Chegg. Na segunda-feira, 27 de outubro, anunciou o corte de 388 vagas, o equivalente a 45% de seu quadro, substituindo parte da equipe por uma plataforma de IA capaz de responder às dúvidas dos alunos.

Muitas empresas estão desacelerando contratações para cargos como consultores e gerentes, reduzindo áreas como finanças, enquanto adotam IA para tarefas de contabilidade, detecção e prevenção de fraudes.

O resultado é de desalento entre os americanos. Uma pesquisa do WSJ com o instituto NORC revelou que apenas 20% das pessoas estão muito ou extremamente confiantes de que conseguiriam um bom emprego se quisessem - o menor nível em quase seis anos.

Por outro lado, funções de “linha de frente” e de “colarinho azul” mostram-se mais resistentes à adoção da IA. A demanda por profissionais da saúde, hospitalidade e construção tem crescido nos Estados Unidos.