A crise financeira nos Estados Unidos causada pela quebra do Sillicon Valley Bank (SVB), na sexta-feira, 10 de março, pode até ter suscitado a mesma sensação de insegurança ocorrida na grande crise financeira global de 2008, cujo maior símbolo foi o Lehman Brothers.
Entretanto, as razões e efeitos são totalmente distintos desta vez. É o que assegura Mark Zandi, economista-chefe da Moody's, agência internacional de avaliação de risco de crédito.
Depois de ser questionado inúmeras vezes nos últimos dias sobre as semelhanças entre o que ocorreu em 2008 e a atual turbulência, Zandi se manifestou.
O economista recorreu ao Twitter na madrugada desta quarta-feira, 15 de março, para enumerar quatro diferenças fundamentais entre os dois episódios.
Didático, Zandi diz que o alcance da atual crise, as normas legais vigentes, a reação do governo americano e o momento da economia dos Estados Unidos são suficientes para colocar um ponto final em eventuais comparações.
Confira os pontos destacados pelo economista:
1 – Na crise global de 2008, todas as instituições foram impactadas
De acordo com Zandi, os problemas atuais atingem apenas alguns bancos de pequeno e médio porte, que foram surpreendidos pela desaceleração do setor de tecnologia e pelo colapso do mercado de criptomoedas.
“Na GCF (Grande Crise Financeira) quase todas as instituições financeiras, grandes e pequenas, foram pegas pela corrente negativa", tuitou Zandi, referindo-se aos efeitos recessivos da crise de 2008.
O colapso do mercado de hipotecas subprime dos Estados Unidos na época provocou um aperto de liquidez no sistema bancário global e uma queda acentuada nos empréstimos bancários.
2 - Reformas maciças no setor financeiro após a GFC
Para evitar outro grande choque no sistema bancário, as autoridades americanas implementaram reformas maciças no sistema financeiro do país após 2008. Segundo Zandi, existem atualmente muito mais exigências regulatórias para os bancos.
“Essas reformas exigem que os bancos mantenham muito mais capital, sejam muito mais líquidos e se envolvam em testes de estresse para determinar quanto capital eles precisam para enfrentar cenários econômicos muito sombrios”, observou.
3 - O governo dos EUA respondeu rapidamente a esta crise
O economista da Moody’s elogiou a agilidade do governo americano em evitar um contágio da crise para o sistema bancário, ao garantir todos os depósitos do SVB.
Zandi escreveu que a nova linha de crédito para os bancos anunciada pelo Federal Reserve no domingo “está em contraste marcante com a decisão de quebrar o Lehman Brothers” durante a crise de 2008.
Em 15 de setembro de 2008, o Lehman Brothers, um dos grandes bancos de Wall Street, quebrou, agindo como o gatilho final para a crise financeira global – mas a economia já estava há meses em uma bolha imobiliária.
No entanto, o resgate de US$ 700 bilhões, anunciado em 3 de outubro de 2008, e outras regulamentações importantes, como a Lei Dodd-Frank, só foram sancionadas muito tempo depois, em julho de 2010, pelo então presidente Barack Obama.
4 - O cenário econômico é diferente desta vez
"A economia atualmente está crescendo fortemente, há muitos empregos e o desemprego é muito baixo", tuitou Zandi, em contraste com a recessão de 2007-2009.
Os números reforçam a diferença. O PIB dos Estados Unidos cresceu fortemente no ano passado, a uma taxa anual de 2,9% no último trimestre de 2022 O mercado de trabalho continua aquecido – a taxa de desemprego está em apenas 3,6%.
Entre 2007 e 2009, durante a grande crise global, o PIB dos Estados Unidos caiu 4,3%. A taxa de desemprego atingiu 10% em outubro de 2009.
“Quando o sistema financeiro desmoronou na crise de 2008, a economia já estava havia 9 meses em uma recessão significativa e com quebra imobiliária”, finalizou Zandi.