A pressão do governo de Luiz Inácio Lula da Silva e a série de boas notícias recentes da economia brasileira não foram suficientes para convencer o Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, a a sinalizar um início da taxa de juros a partir de agosto.

Na decisão anunciada no início desta noite, 21 de junho, o Copom manteve a taxa Selic pelo 11º mês consecutivo em 13,75% ao ano. O tom duro do comunicado do Copom passou a colocar em dúvida a expectativa de que o possível início do ciclo de queda de juros ocorra na próxima reunião do Copom, em agosto.

“A conjuntura atual, caracterizada por um estágio do processo desinflacionário que tende a ser mais lento e por expectativas de inflação desancoradas, segue demandando cautela e parcimônia”, diz um trecho do comunicado, resumindo um pessimismo que se mantém ao longo de todo o texto.

Além de citar o “ambiente externo adverso” já na primeira linha do comunicado divulgado ao mercado, os técnicos do Banco Central alinham “fatores de risco em ambas direções" para  a inflação.

Entre os riscos de alta, uma maior persistência das pressões inflacionárias globais, “alguma incerteza residual sobre o desenho final do arcabouço fiscal a ser aprovado pelo Congresso Nacional” e seus impactos sobre as expectativas para as trajetórias da dívida pública e da inflação.

Também citam “uma desancoragem maior, ou mais duradoura, das expectativas de inflação para prazos mais longos”.

Entre os riscos de baixa, dois dos três argumentos se baseiam no cenário internacional: queda adicional dos preços das commodities internacionais em moeda local e desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada.

Os técnicos do BC também citam “uma desaceleração na concessão doméstica de crédito maior do que seria compatível com o atual estágio do ciclo de política monetária”.

Meta de inflação

Na semana que vem, no entanto, o Conselho Monetário Nacional (CMN) deverá decidir a meta de inflação para 2026.

Como o governo tem maioria de dois dos três votos, a expectativa é que aumente a meta, atualmente em 3,25%. Se isso ocorrer, analistas não descartam um recuo do Copom, adiando para setembro uma decisão sobre a queda de juros.

Apesar de esperada, a decisão frustrou parte do mercado financeiro – pelo menos a julgar pelos indicadores do dia.

Pouco antes do anúncio do Copom, o Ibovespa fechou em alta de 0,67%, com 120.420 pontos. Foi a primeira vez desde abril de 2022 que o índice fecha acima do patamar de 120 mil pontos.

O clima de otimismo foi replicado no mercado de câmbio. O dólar comercial fechou o dia cotado a R$ 4,767 na compra e R$ 4,768 na venda, com baixa de 0,59% -- menor cotação de fechamento desde 31 de maio de 2022.

A expectativa de uma queda imediata da taxa de juros, que não veio,  começou a ganhar corpo com a queda consistente da inflação nos últimos meses.

Em maio, por exemplo, o índice oficial de inflação do Brasil foi de 0,23%, segundo dados divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

No acumulado em 12 meses, o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) recuou para 3,94% –a menor variação para o mês desde 2020.