Após um período de letargia diante da queda acentuada dos indicadores da economia em julho, o governo da China anunciou na sexta-feira, 18 de agosto, reformas no mercado de capitais para aumentar a confiança dos investidores. Em outra frente, adotou medidas para evitar a queda da cotação do renminbi, a moeda chinesa, no mercado de câmbio.
A desaceleração da economia do país já começa a preocupar investidores estrangeiros, pois atinge todos os setores da atividade produtiva.
O anúncio das medidas coincidiu com o pedido de proteção contra falência nos Estados Unidos da incorporadora Evergrande, uma das maiores da China e listada na bolsa americana. Os calotes com fornecedores internos e investidores externos a partir de 2021 abriram uma crise no mercado imobiliário chinês que está arrastando outras empresas do setor.
A reforma no mercado de capitais tem como objetivo impulsionar os investimentos financeiros em ações e títulos. O índice de referência CSI 300 do país, de ações listadas em Xangai e Shenzhen, cai mais de 2% este ano, em comparação com um aumento de quase 14% para o S&P 500 dos EUA.
Por isso, a Comissão de Valores Mobiliários da China prometeu estender o horário de negociação para os mercados de ações e títulos do país e reduzir as taxas de transação para os corretores. As autoridades também querem estimular as recompras de ações para ajudar a estabilizar os preços dos papéis negociados na bolsa chinesa.
Na véspera, o Conselho de Estado havia prometido "otimizar" o ambiente para empresas privadas e fazer maior esforço para atrair investimentos estrangeiros. O setor privado responde por 60% do Produto Interno Bruto (PIB) e 80% do emprego urbano chinês.
O anúncio foi feito horas depois de o Banco Popular da China (o banco central do país) intensificar a defesa do renminbi após mais um corte na taxa de juros, o terceiro nos últimos meses, anunciado na terça-feira.
Para evitar uma desvalorização da moeda, o BC chinês estabeleceu uma banda média diária para o renminbi de 2% - em torno do qual a moeda pode ser negociada em qualquer direção -, com base no câmbio de 7,2006 Rmb por dólar.
A moeda chinesa perdeu cerca de 5% de seu valor em relação ao dólar até agora este ano, tornando-se uma das moedas asiáticas com pior desempenho.
Desaceleração e crise
A desaceleração da economia chinesa começou a ganhar corpo este ano em meio à redução de demanda das exportações chinesas e a fraca recuperação do mercado interno após a reabertura econômica pós-covid, em janeiro.
O alerta atingiu nível máximo em julho, quando a China registrou a maior queda de suas exportações e importações desde o início da pandemia, em fevereiro de 2020.
As exportações caíram 14,5% no mês passado, em dólares, na comparação com julho do ano anterior, efeito da redução de demanda do Ocidente, às voltas com o ciclo de inflação e juros elevados. O que mais preocupou foi a queda de importações no mês, de 12,4%, indicando uma baixa acentuada do consumo interno.
Analistas ocidentais vêm advertindo que o governo do presidente Xi Jinping está demorando para aprovar reformas mais estruturantes na economia chinesa para reverter o fraco desempenho do ano. A estratégia, aparentemente, é encobrir os problemas com medidas pontuais.
Um exemplo foi a decisão no início do mês de parar de anunciar o índice de desemprego entre os jovens chineses nas cidades, que está em 21%, sob o argumento de que vai revisar os critérios. A falta de emprego castiga boa parte dos jovens entre 16 e 24 anos, que somam cerca de 300 milhões de chineses.
O peso Evergrande
Outra crise aguda envolve o setor imobiliário, ainda efeito do estouro da bolha, em 2021, que teve a Evergrande no centro do escândalo.
A incorporadora buscou o Capítulo 15 do código de falências dos EUA, que protege empresas não americanas que estão passando por reestruturações de credores que esperam processá-las ou bloquear ativos no país.
A reestruturação da dívida offshore da Evergrande envolve um total de US$ 31,7 bilhões, que incluem títulos, garantias e obrigações de recompra. No final do ano passado, a incorporadora relatou passivos totalizando US$ 335 bilhões, incluindo 720 mil apartamentos vendidos e não concluídos.
Desde o estouro da bolha imobiliária, empresas responsáveis por 40% das vendas de imóveis da China entraram em inadimplência, a maioria delas incorporadores imobiliários privados. O setor responde por um quarto da economia do país.
No início do ano, o governo estimou em 5% o crescimento do PIB da China para 2023. A japonesa Nomura, umas das principais corretoras globais, anunciou nesta sexta-feira a revisão de sua expectativa de crescimento chinês para 4,6%.