No acumulado dos quatro últimos trimestres, a economia brasileira avançou 3,3%. O desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) está bem acima da projeção para o ano de 1,26%, de acordo com o Focus. O problema é que as boas notícias sobre a atividade econômica devem parar por aqui.

A tendência é de um desempenho bem modesto daqui para frente, pelo impacto causado pela taxa de juros e pela provável desaceleração da economia ao longo do ano. Ou seja, o avanço de 1,9% da economia brasileira no primeiro trimestre de 2023, na comparação com os últimos três meses do ano passado, segundo dados divulgados na quinta-feira, 1º de junho, pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), pode ser chamado de voo de galinha - termo usado quando a economia apresenta um salto, mas não consegue manter um crescimento sustentável.

Isso explica alguns números superlativos divulgados pelo IBGE. Levando-se em conta o aumento do PIB somente do primeiro trimestre, trata-se do melhor desempenho da economia brasileira no período desde 2010. Frente ao mesmo trimestre de 2022, o PIB cresceu 4,0%.

No primeiro trimestre, resultado positivo foi puxado pelo setor agropecuário, que teve um crescimento de 21,6%, apresentando a maior alta desde o quarto trimestre de 1996 - desempenho atribuído à safra recorde da soja.

O problema para o PIB é que a safra de soja vai se concentrar no primeiro semestre e o setor de serviços (que representa quase 60% do cálculo do PIB) avançou pouco (0,6%), assim como outros ramos da economia. Por isso, especialistas consultados pelo NeoFeed foram cautelosos em relação à expectativa dos próximos trimestres.

O economista Mauro Rochlin, professor da FGV-RJ, reconhece que alguns indicadores têm surpreendido positivamente. Ele cita o mercado de trabalho, que tem apresentado crescimento expressivo de contratações com carteira assinada.

Segundo ele, até o setor de serviços surpreendeu no último mês e cita os efeitos do Bolsa Família no consumo das famílias como um fator para a alta do PIB, ao lado do desempenho do agro. Ele lembra que a ajuda para 20 milhões de pessoas (antes eram 14 milhões) ainda teve um incremento de renda, que passou de R$ 400 para R$ 600.

“Essa surpresa, no entanto, é relativa”, prossegue Rochlin, acrescentando que outros indicadores de atividade econômica, como boletim mensal de comércio e da indústria, apontam uma desaceleração.

Avanço sazonal

Para Alex Agostini, economista-chefe da agência de risco Austin Rating, o desempenho do agro foi sazonal e, por isso, não dá para contar com uma ajuda tão significativa ao longo do ano.

Segundo ele, o que chama a atenção são os componentes do PIB pelo lado do consumo, como investimentos com índice negativo e o consumo das famílias próximo de zero. “Nenhum pacote do governo vai segurar a desaceleração da economia, que já estava em curso”, diz.

Agostini acredita que o setor de serviços, que continua com preços lá em cima, deve começar a recuar, juntamente com a taxa de juros, no segundo semestre: “Estimamos uma retomada econômica mais para o final do ano e início de 2024, ou seja, não vejo a economia surpreendendo daqui para frente em 2023 como no primeiro trimestre.”

Os economistas veem o setor de serviços ainda crescendo no segundo trimestre, e depois desacelerando. O sinal de alerta do PIB do primeiro trimestre foi a formação bruta de capital fixo, que caiu 3,4%. Esse é uma consequência da alta de juros que se reflete na compra de máquinas e equipamentos e na construção.

Os juros, por sinal, são apontados como o grande vilão para a tendência de o PIB dos próximos trimestres andar de lado. “A taxa elevada da Selic é a maior responsável pela piora relativa dos números”, aponta Rochlin, da FGV. “Daqui para o final do ano, o crescimento do PIB não deve superar 2%, e isso seria uma previsão otimista.”