Toda ação gera uma reação. Essa parece ser a percepção de Larry Fink em relação a crise do Silicon Valley Bank (SVB).
O CEO da BlackRock, a maior gestora de recursos do mundo com US$ 8,6 trilhões de ativos sob gestão, afirmou que o colapso do SVB foi “um exemplo do preço que estamos pagando por décadas de dinheiro fácil”.
De acordo com Fink, há uma “crise lenta” em andamento no sistema financeiro dos Estados Unidos após a falência do Silicon Valley Bank. Um dos trechos de sua carta anual para investidores e executivos diz que há “mais convulsões e fechamentos chegando” após a crise do banco de startups ocorrida em 10 de março.
“Ainda não sabemos se as consequências do dinheiro fácil e das mudanças regulatórias se espalharão pelo setor bancário regional dos EUA com mais apreensões e paralisações chegando”, escreveu o gestor da BlackRock.
Essa crença está relacionada com o atual cenário macroeconômico. Em especial, com o aumento das taxas de juros nos EUA e que Fink classificou como “o primeiro dominó a cair” – o SVB foi o segundo. O impacto do aumento da taxa de juros pode afetar principalmente bancos e investidores regionais que dependem de alavancagem.
Ainda que tenha elogiado a ação regulatória que ajudou a estabilizar os mercados após o colapso do SVB, Fink comparou os eventos recentes com outras crises financeiras, como a enfrentada durante a década de 1980 nos EUA, quando houve problemas de poupança e empréstimos e mais de 1 mil credores quebraram.
O temor atual é de que os bancos recuem na concessão dos empréstimos. Desta forma, empresas deverão recorrer ao mercado de capitais. O problema é que fundos investidos em ativos ilíquidos (como private equity, imóveis e crédito privado) podem enfrentar problemas caso emprestem dinheiro para aumentar seus retornos.
Como consequência deste cenário, Fink disse que “líderes de empresas públicas e privadas estão trocando eficiência e custos mais baixos por resiliência e segurança”. O executivo acredita que a inflação irá persistir e que será “mais difícil para os banqueiros domá-la”. Sua expectativa é de que o índice fique entre 3,5% e 4% nos próximos anos.
Resposta aos críticos
Ao longo de mais de 20 páginas do documento enviado para executivos e investidores, Fink também aproveitou para revidar as críticas de investidores conservadores que após ter declarado apoio ao combate às mudanças climáticas por meio de investimentos. Curiosamente, ele também está na mira de ativistas ESG.
Os críticos, que já retiraram mais de US$ 4 bilhões de fundos geridos pela BlackRock, alegam que a gestora está “boicotando” empresas de combustíveis fósseis e também levantando preocupações sociais em detrimento do dever fiduciário de maximizar os retornos aos clientes. A BlackRock nega as acusações.
“Parte do apoio aos nossos clientes inclui falar sobre questões importantes para seus investimentos”, escreveu ele. “Há muitas pessoas com opiniões sobre como devemos administrar o dinheiro de nossos clientes. Mas o dinheiro não pertence a essas pessoas. Também não é nosso. Pertence aos nossos clientes, e nossa responsabilidade e nosso dever são para com eles.”