NOVA YORK - Em um mundo cada vez mais incerto, com uma preocupação cada vez maior sobre estagflação e tensões geopolíticas, o economista Nouriel Roubini demonstra otimismo com as perspectivas do Brasil, que pode se beneficiar da perspectiva de um superciclo de commodities que começa a se formar.

Conhecido por suas previsões pessimistas em relação à economia, a ponto de ganhar o apelido de “Dr. Doom” (Doutor Apocalipse, em tradução livre), Roubini afirmou que a situação que o mundo está prestes a viver, com a combinação de inflação em alta, transição energética e combate ao aquecimento global, está gerando um ambiente favorável para as commodities pelos próximos dez anos.

“Para o Brasil, existem oportunidades significativas por estarmos num superciclo de commodities”, afirmou Roubini nesta segunda-feira, dia 8 de maio, durante o evento CEO & Board Lunch do Citi. “Exportadores de commodities vão ir bem neste cenário.”

Segundo ele, com a transição energética, está ocorrendo um menor investimento no mercado de petróleo e gás. Ao mesmo tempo, porém, o avanço de matrizes limpas não é suficiente para compensar a redução no uso de combustíveis fósseis.

E mesmo diante da expectativa de que o crescimento global não será robusto como foi antes da pandemia, haverá um aumento da demanda por uma variedade de commodities, de metais passando por produtos agrícolas, estes últimos sendo afetados por alguma restrição de oferta provocada pelos efeitos do aquecimento global, com a desertificação de certas regiões.

“Eu espero que este superciclo, em termos estruturais, permaneça pelo menos pela próxima década”, disse Roubini. “Se houver algum tipo de desaceleração econômica, algum tipo de correção ocorrerá, mas ela será temporária.”

Neste aspecto, o Brasil também deve se beneficiar da boa relação com a China, que deve querer manter uma boa relação com o País, como também pode ver um interesse maior dos Estados Unidos.

Para Roubini, além do fato do Brasil ser uma potência em commodities, os americanos vão querer ter boas relações para contrapor um pouco da influência de Pequim, abrindo caminho para acordos comerciais e de investimentos.

“As pessoas vão cortejar o Brasil e a América Latina. Os chineses vão, os europeus vão, os Estados Unidos também, então isso é positivo”, afirmou.

O otimismo com o Brasil, porém, não veio sem críticas. Roubini fez um alerta que o mundo pode cair em problemas com o populismo, que podem adotar políticas antimercado que podem ter como consequência prejudicar o crescimento econômico.

“O Brasil pode ser uma boa história de sucesso, mas isso requer estabilidade macroeconômica, sem fazer coisas que possam prejudicar o potencial de crescimento, mas que o mantenham nos níveis atuais ou acima”, disse.

O alerta de Roubini sobre os riscos do populismo pelo mundo veio acompanhando de uma série de outras pontuações sobre problemas que ele vê adiante. Entre eles, o elevado índice de endividamento de países, empresas e pessoas, os efeitos da desglobalização sobre a inflação e a inteligência artificial resultando em problemas sociais ao resultar num maior desemprego da população de baixa renda.