A criação de empregos formais e a evolução do crédito, indicadores divulgados pelo Ministério da Economia e Banco Central (BC) nesta segunda-feira, 29 de agosto, são datados, respectivamente, de julho e junho, e contam a mesma história. A economia brasileira crescerá acima da expectativa no primeiro semestre; no segundo terá crescimento morno; e, em 2023, irá desacelerar de vez.

A criação de vagas com carteira assinada, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), desacelerou em julho, quando foram abertos 219 mil postos. O mercado esperava cerca de 250 mil.

Com base em dados dessazonalizados, a criação de empregos declinou de 241 mil em junho para 193 mil em julho, calcula a XP. “Apesar do declínio, o resultado é muito bom. Trata-se de uma desaceleração suave”, afirma Rodolfo Margato, economista da XP.

Em maio e junho, avalia Morgato, a criação de vagas foi surpreendentemente positiva, superior a 250 mil a cada mês. “No início do segundo semestre, porém, o aperto monetário se faz sentir mais claramente no mercado de trabalho e na economia real.”

Em entrevista ao NeoFeed, ele pondera, entretanto, que o aperto monetário – com contribuição baixista para a atividade – terá como contraponto os estímulos fiscais.

“O pé no freio exercido pela política monetária é compensado com o pé no acelerador dos estímulos fiscais de curto prazo, como aumento do Auxílio Brasil, vouchers e liberação de FGTS. De todo modo, contamos com arrefecimento no Caged de agosto”, afirma.

Margato pondera que a política monetária no Brasil entrou em fase contracionista no final de 2021 e seu efeito pode ser sentido mais fortemente depois de dois trimestres. “Consideramos que a Selic a 13,75% se estende até junho de 2023. Portanto, as condições financeiras estarão apertadas nos próximos meses”, diz.

O economista vê a atividade no Brasil influenciada também pelo crescimento menor do PIB global, adesaceleração da economia chinesa e o risco de recessão na Europa. Para ele, ainda neste ano, o setor de serviços terá uma colaboração cíclica positiva para a atividade, pois alguns segmentos – como transportes e atividades turísticas – ainda estão avançando, mas o benefício “tende a se dissipar”.

Em sua visão, o crédito ainda é uma alavanca importante para o crescimento econômico. Margato esperava, inclusive, uma desaceleração mais clara das concessões em julho. Contudo, embora alguns segmentos tenham avançado em ritmo menor, ele afirma que “o nível das concessões ainda é favorável, mas deve perder tração até o fim do ano”.

Segundo o Banco Central (BC), as concessões de crédito – espécie de termômetro de novas contratações – cresceram, em média, 4,9% no junho e 24,3% em 12 meses. Já o estoque de crédito avançou 1,6% em junho, ante maio, para R$ 4,956 trilhões. Em 12 meses, o saldo avançou 17,8%. O BC prevê expansão de 11,9% no ano.

Fabiana Moreira, economista do Santander, avalia que apesar de alguns números recentes da atividade em 2022 estarem surpreendendo para cima, a desaceleração das concessões de crédito já vem ocorrendo desde o primeiro trimestre. “E é natural, dado que o crédito é o principal canal de transmissão da política monetária à atividade”, comenta.

Moreira observa que, dadas as condições econômico-financeiras e a desaceleração do crédito já em curso, o Santander revisou a projeção para expansão do crédito em 2022 de 9,4% para 11,2%. Para 2023, a estimativa passou de aumento de 6,8% para 7,2%.

O juro mais elevado – decorrência do ajuste da Selic – pesa nas projeções, porque esse é o resultado esperado de um ciclo de aperto monetário, pondera a economista. “Mas como também projetamos o início do ciclo de queda na Selic já em 2023, o mercado de crédito tende a ter boa recuperação a partir do segundo semestre do ano que vem”, afirma.

Ela acrescenta: “As festas de fim de ano geralmente têm efeito sobre o crédito, mas assim como qualquer outro indicador de atividade econômica, os efeitos sazonais são desconsiderados”, diz.

A Copa do Mundo, que ocorre este ano, pode ter algum efeito, em especial para o crédito voltado ao consumo, como o cartão. No entanto, a economista considera que esse movimento deva ser marginal.