Após o choque inicial com a decisão dos Estados Unidos de elevar as tarifas de importação sobre o Brasil a 50%, em julho deste ano, os grandes exportadores se reorganizaram e buscaram alternativas, adaptando-se ao “novo normal” do comércio internacional.

Com a abertura de novos mercados e ajustes nas operações, as empresas brasileiras e com operações no País estão conseguindo navegar nesse cenário e se sentem mais seguras em relação ao momento atual, permitindo-se melhorar o humor diante da situação internacional.

Essa é a conclusão do levantamento Global Trade Pulse, pesquisa realizada pelo HSBC com 6,7 mil executivos de empresas atendidas pelo banco em 17 mercados, antecipada com exclusividade ao NeoFeed.

Segundo o estudo, cerca de 60% dos representantes de empresas brasileiras e aquelas com representação no País estão otimistas com o cenário atual – o banco ouviu 250 das 600 companhias que atende no País.

O resultado destoa da média global, de 40% de otimismo, e foi obtido antes de os Estados Unidos anunciarem a retirada das tarifas de 40% sobre produtos como café, carne e frutas. A pesquisa ocorreu entre 6 e 21 de outubro; a reversão do tarifaço foi divulgada em 20 de novembro.

“A pesquisa mostrou grande resiliência da nossa economia e capacidade das empresas de encontrarem alternativas às barreiras tarifárias”, afirma Vinicius Pergola, diretor de produtos de trade finance e operações de crédito do HSBC Brasil. “O destaque foi que o otimismo veio da identificação de rotas alternativas.”

O levantamento revelou que 45% das companhias expandiram negócios para outros mercados, com destaque para Ásia e Europa, principais destinos das vendas, com resultados positivos.

Dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic) indicam que as exportações para a Ásia subiram 21,2% em outubro, na comparação com o mesmo período de 2024, com vendas para a China avançando 33,4%. Para a Europa, houve alta de 7,6%, enquanto para os Estados Unidos recuaram 38%.

A diversificação dos destinos, somada à melhora dos preços das commodities, fez a balança comercial registrar o segundo melhor resultado para meses de outubro, com superávit de US$ 6,9 bilhões, alta de 70,2% em base anual.

Para Pergola, o fato de o Brasil ser grande produtor de commodities facilita o redirecionamento das vendas. “Para produtos como soja, açúcar, café e carne, não é simples um país deixar de comprar do Brasil e passar para outro, pela quantidade que produzimos”, diz.

Ele destaca ainda que o Brasil é visto como país mais “neutro” nessa guerra comercial, ganhando espaço em mercados antes dominados pelos americanos.

“No mundo, Estados Unidos e Brasil são os maiores produtores de soja. Mas com os EUA ‘fora do jogo’, somos os players óbvios”, afirma Pergola. “Na medida em que os americanos não avançam nas negociações, nós estamos abertos.”

Apesar de conseguirem redirecionar vendas, a mudança não foi “indolor”. A pesquisa identificou aumento no prazo de pagamento das mercadorias, exigindo mais alternativas de financiamento.

Segundo o HSBC, 55% das empresas ampliaram a necessidade de crédito para manter o ciclo operacional-financeiro, repassando parte do custo ao consumidor, reflexo das incertezas globais.

Mesmo mais otimistas, especialmente após o fim do tarifaço americano, as tarifas seguem no radar, com avaliação de que o cenário não está totalmente resolvido.

O levantamento também mostrou preocupação com o preço dos insumos importados, alguns afetados por tarifas externas.

“Temos balança comercial deficitária com os EUA e, se a discussão tarifária não se resolve, pode haver aumento de custos”, diz Pergola.

A flutuação cambial, velha questão da economia brasileira, também preocupa, por representar risco aos custos de produção.

Para enfrentar esses desafios, 52% dos entrevistados disseram estar diversificando fornecedores e reforçando estoques de insumos, garantindo estabilidade da produção.