Se a economia global já anda cambaleando em 2022, a situação deve ser ainda mais difícil em 2023. Os principais problemas enfrentados neste ano geraram “nuvens de tempestade”, que devem desaguar em 2023 e deixar um gosto amargo de recessão na maior parte das pessoas e empresas.

Segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), o mundo deve crescer 3,2% neste ano e 2,7% no próximo. As projeções foram divulgadas nesta terça-feira, dia 11 de outubro, em relatório que traz as perspectivas para a economia global.

Enquanto a expectativa para 2022 se manteve em relação ao relatório anterior, divulgado em julho, a estimativa para 2023 recuou em 0,2 ponto percentual. Ela representa a menor projeção publicada pelo FMI desde 2001, depois de retirados os anos de pandemia. 

E a situação pode ser ainda mais complicada. O FMI estima uma probabilidade de 25% de o PIB global registrar um crescimento abaixo de 2% em 2023. Se isto ocorrer, será um dos piores crescimentos em quase meio século, como visto nos anos de 1973, quando ocorreu o choque do petróleo, em 1981, e 2009, período da crise financeira. 

“Mais de um terço da economia global vai contrair neste ano ou no próximo, enquanto as três maiores economias do mundo – Estados Unidos, União Europeia e a China – permanecem empacadas”, diz trecho do relatório. “O pior ainda está por vir, e para muitas pessoas, 2023 parecerá com uma recessão.”

Tão discutida ao longo deste ano, a questão da inflação continuará o epicentro dos problemas previstos para 2023, com as medidas para remediar a questão pesando sobre a atividade econômica global. 

O desequilíbrio entre oferta e demanda provocada pela pandemia e as medidas econômicas para aliviar os efeitos da paralisação dos países fez com que os bancos centrais elevassem os juros significativamente pelo mundo para controlar a disparada da inflação. 

O aperto monetário e das condições financeiras vão pesar sobre a demanda e devem ajudar gradualmente a controlar a inflação. O FMI projeta que a inflação global fechará o ano em 8,8%, depois de atingir 4,7% em 2021. Para 2023, ela deve desacelerar e alcançar 6,5%. 

A calibragem desse aperto é o principal desafio dos bancos centrais e o que ditará o ritmo de crescimento nos próximos anos. Se muito leve, não controlará o processo inflacionário, erodindo a credibilidade das autoridades monetárias e desancorando as expectativas de inflação. Mas, se for muito duro, jogará o mundo numa recessão dura e terá efeitos muito duros sobre os mercados. 

Ainda assim, o FMI entende que é preciso manter “mão firme” na política monetária, mantendo o combate à inflação, por entender que ela é “muito mais prejudicial para a estabilidade macroeconômica no futuro, ao minar gravemente a credibilidade conquistada pelos bancos centrais”.

Embora centrais, o aperto monetário e o controle da inflação não representam os únicos fatores que pesarão na economia global em 2023.

Colabora ainda para esse cenário negativo a guerra na Ucrânia, com as consequências enfrentadas neste ano – alta dos preços das commodities e do gás natural – permanecendo no próximo ano. Quem será mais prejudicado com isso será a Europa, com a Rússia cortando o fluxo de gás em função das sanções que vem sofrendo. 

A China é outro centro de problemas, com sua política de Covid zero pesando sobre a economia, especialmente nos segundo trimestre. Além disso, o setor imobiliário, que representa um quinto da atividade econômica, está desacelerando rapidamente. 

Dado o tamanho da China, a segunda maior do mundo, na casa dos US$ 14,7 trilhões, e sua importância na cadeia de suprimento global, o FMI alerta para os efeitos no comércio global. 

No meio disso tudo, o FMI projeta que o Brasil vai crescer 2,8% em 2022, um aumento de 1,1 ponto percentual ante o relatório de julho. Em 2023, a economia deve expandir 1%, pouco abaixo do 1,1% calculado anteriormente. 

Sem detalhar as condições que o País enfrentará em 2023, o organismo estima que a inflação alcançará 4,7% em 2023, uma desaceleração significativa frente aos 9,4% projetados para 2022.