GUARUJÁ - Após a repercussão negativa da medida que aumentava alíquotas do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-AL), deu o recado direto ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad: os gastos do governo precisam estar na mesa.
Durante participação de painel neste sábado, 7 de junho, no Fórum Esfera, organizado pelo grupo Esfera Brasil, no Guarujá, Motta foi duro nas críticas à falta de controle fiscal da administração pública federal que, segundo ele, faz com que a população arque cada vez mais com essa conta. “O brasileiro já apertou demais o cinto. Não é razoável que o Estado siga aumentando a própria barriga”, afirmou.
Segundo ele, é necessário que o Brasil saia dessa “encruzilhada”. “É preciso dizer com todas as letras. Não há justiça social com irresponsabilidade fiscal. Não há crescimento com improviso”, disse, ao ser aplaudido pela plateia que acompanhava a fala do chefe do Legislativo.
Com isso, o presidente da Câmara escalou o tom que vinha adotando desde o início da semana, ao criticar a forma como o ministro da Fazenda lidou com o plano fiscal, sem discutir com quem, de fato, precisa votar e aprovar a proposta. E sem ter a dimensão do inevitável impacto que o aumento tributário traria.
Para o presidente da Câmara, faltou senso de realidade da administração pública federal sobre a percepção da sociedade e, em outro momento em que foi fortemente aplaudido, deixou claro que é necessário coragem para mudar esse eixo. “Coragem para entender que a boa política começa no orçamento e não na propaganda.” Nesse sentido, ele deixou claro que a redução das isenções fiscais precisa estar no novo plano.
Desde sexta-feira, quando começou o evento, o discurso do presidente da Câmara estava entre os mais aguardados por líderes empresariais presentes no encontro. O objetivo era ter pistas mais concretas do que deverá ser tratado na reunião neste domingo, 8 de junho, com líderes do Congresso, incluindo o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), com Haddad em Brasília.
O consenso geral nos corredores do hotel Jequitimar, onde é realizado o Fórum Esfera, é que a equipe econômica perdeu a oportunidade, ao apresentar, com o aumento do IOF, mais uma medida que onera o setor produtivo e afeta o bolso da população em geral, sem focar no enxugamento das contas públicas.
O político verbalizou o que empresários vinham apontando como principal deficiência do pacote, que postergava o problema, sem uma alternativa definitiva e imediata. “Temos um modelo fiscal que, ao invés de organizar o presente, transfere angústias para o futuro”, disse. “Isso não é apenas ineficiência. Isso é injustiça.”
Com o controle das discussões, Motta adiantou também que a Câmara vai colocar no debate a necessidade de enfrentar um tema que, segundo ele, já deveria estar na pauta, que é a reforma administrativa.
Recentemente, Haddad fez críticas à discussão sobre esse tema nesse momento, alegando que isso geraria aumento de gastos. Na fala, o parlamentar rebateu esses argumentos. “O Estado precisa andar na velocidade da sociedade. Ele custa mais do que entrega.”
Entre líderes políticos, a avaliação é de que, agora, o ajuste será na marra, e ainda com a influência significativa dos congressistas. Há clima para que Câmara e Senado possam incluir mais itens, como a questão administrativa, no debate fiscal.
No fim do painel, o presidente da Câmara disse que ainda espera as explicações de Haddad e qual o plano para enfrentar as críticas pelo alto volume de despesas do governo. “A gente deu o prazo de 10 dias e vamos aguardar o que está no radar do governo. Agora a oportunidade é de ouvir os congressistas.”
A expectativa é de que, com o avanço da discussão, o projeto de decreto legislativo entre em pauta na Câmara na próxima terça-feira, 10 de junho. “Vamos fazer com que aquilo que já está difícil não seja piorado. Por isso que chamamos a atenção do governo pela medida infeliz do IOF”, afirmou. “A oportunidade está posta. O País não aguenta mais essa situação das contas públicas.”