Diante das preocupações com o futuro da situação fiscal do País, investidores institucionais brasileiros pioraram suas expectativas para o mercado acionário brasileiro, adotando uma postura mais cautelosa na alocação de recursos em renda variável. A constatação é de uma pesquisa conduzida pelo Itaú BBA com 42 gestores entre os dias 23 e 28 de novembro. 

Segundo o estudo, 38,1% dos entrevistados demonstraram ter uma visão otimista sobre o mercado de ações nos próximos três meses. O resultado impressiona, considerando que na pesquisa passada, feita em outubro, 77,6% afirmaram estar otimistas com as perspectivas futuras. 

Já 31% dos entrevistados afirmaram ter uma visão negativa para a bolsa, enquanto em outubro apenas 1,7% responderam desta forma. Aqueles com uma visão neutra para os próximos três meses passou de 20,7% para 31%. 

Desde o fim da eleição, no fim de outubro, o mercado está reagindo negativamente às notícias de que o governo do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva busca aprovar uma PEC que exclui do teto de gastos as despesas com o programa Bolsa Família. 

A chamada PEC da Transição prevê gastos de R$ 198 bilhões fora do teto por até quatro anos, gerando preocupações sobre os efeitos dela para a inflação e sobre a possibilidade de o Banco Central ter que voltar a elevar os juros, quando se esperava o início de um afrouxamento monetário a partir de meados do ano que vem 

“A curva de juros local, a perspectiva fiscal e de crédito e a possibilidade da nova equipe econômica aparecem como os principais fatores para o mercado de ações local, enquanto a inflação global e as curvas de juros global foram menos relevantes comparado com a última pesquisa”, diz trecho de relatório assinado pelos analistas Marcelo Sá e Matheus Marques. 

Diante dos riscos vislumbrados, a maioria dos gestores está mais cautelosa, com 54,8% dos entrevistados informando que entrarão com uma postura neutra em relação a ações com características de growth

Em termos de alocação, a maioria estará mais posicionada em nomes da área de utilities, que incluem empresas da área de saneamento e energia, sendo o setor com maior número de gestores informando estarem sobre-alocados (78,6% das respostas), por agregar empresas menos sujeitas à volatilidade da economia. 

Na pesquisa passada, a quantidade de gestores que informaram estarem comprados no segmento era de 63,8%. Entre as empresas mais citadas pelos entrevistados estão Eletrobras, Equatorial e Sabesp

Já o setor de bens de consumo e varejo foi o que mais sofreu com o pessimismo dos gestores com a economia e, consequentemente, com a bolsa. O número de entrevistados que diz estar comprado nesses papéis caiu de 41,4% para 21,4%. 

Além dele, os investidores demonstraram pessimismo com o segmento de siderurgia e mineração, ao verem uma deterioração dos preços das commodities e a piora do mercado interno do aço.

O número de gestores vendidos que disseram estar fora de siderurgia e mineração foi de 38,1%, uma melhora frente aos 63,8% apurados em outubro. Mesmo assim, é o maior número entre os segmentos pesquisados pelo Itaú BBA. 

Por volta das 13h16, o Ibovespa registrava alta de 0,67%, aos 111.652 pontos. No ano, ele acumula alta de 6,5%.