O difícil cenário econômico dos Estados Unidos, intensificado na semana passada pelo rebaixamento da nota de crédito do país pela agência Moody’s – Fitch Ratings e a S&P Global Ratings já haviam tomado a mesma decisão anteriormente – caminha para uma tendência de agravamento da crise. A avaliação é de Jamie Dimon, CEO do J.P. Morgan Chase.

Durante o evento anual Investor Day do banco, em Nova York, na segunda-feira, 19 de maio, Dimon afirmou que os mercados e líderes de bancos centrais estão subestimando os riscos causados pela tensão internacional a partir do tarifaço implementado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o déficit recorde no país.

Segundo ele, as chances de uma inflação mais alta não estão devidamente representadas pelos valores de mercado de ações, que apresentaram uma breve recuperação após atingir índices mínimos com o Dia da Libertação, em 2 de abril, como Trump chamou o momento em que apresentou as novas taxas de importação aos Estados Unidos.

“Temos déficits enormes. E considero bancos centrais quase complacentes”, disse Dimon, segundo a CNBC. “Vocês todos acham que eles conseguem administrar tudo isso. Eu não acho que eles consigam”, afirmou o banqueiro.

Para Dimon, o risco de uma estagflação, marcada pela recessão junto com a inflação, é praticamente o dobro do que o mercado espera. “Na minha opinião, as pessoas se sentem muito bem porque ainda não vimos tarifas efetivas”, afirmou o CEO do J.P. Morgan. “O mercado caiu 10%, e voltou a subir 10%. Isso é uma complacência extraordinária.”

Ainda no evento do banco, Dimon disse acreditar que as estimativas de lucros de Wall Street para as empresas, no índice S&P 500, que já haviam desabado nas primeiras semanas após os anúncios e a escalada da guerra comercial de Trump, cairão ainda mais, à medida em que muitas companhias seguirão retirando e reduzindo projeções, em meio ao cenário de incertezas.

“Em seis meses, essas projeções cairão para zero de crescimento nos lucros, após começar o ano em torno de 12%. Se isso acontecer, os preços das ações provavelmente cairão”, afirmou o CEO.

O banco manteve sua previsão anual de cerca de US$ 90 bilhões em receita líquida de juros, além de um potencial adicional de US$ 4,5 bilhões em operações com ativos, dependendo das condições de mercado.

Dimon também criticou o que chamou de excessivas regras bancárias estabelecidas pela Casa Branca. “Muitos desses cálculos são completamente estúpidos.”

Em abril, ele afirmou que a credibilidade internacional dos Estados Unidos corria sério risco, justamente pela condução de Trump da guerra tarifária global. Ainda que visto como uma grande potência econômica e militar, os Estados Unidos poderiam ver essa força duramente abalada a partir das incertezas econômicas no país.

Acesso a criptomoedas

Dimon também disse que, em breve, sem definir uma data exata, os clientes do J.P Morgan vão poder ter acesso a investimentos por criptomoedas na plataforma, em um cenário de mudança da política da instituição financeira, que proibia este tipo de produto a investidores.

No entanto, o CEO afirmou que o banco não será custodiante das unidades adquiridas em bitcoin. Ele também reforçou suas críticas ao tipo de ativo e à tecnologia blockchain. “Nós estamos gastando muito com isso. E ele não é tão importante quanto os outros querem que pensemos.”

Em entrevista em janeiro à CBS, ele fez duras críticas à modalidade de investimento que, segundo ele, não tem valor intrínseco. “Ele é amplamente utilizado por traficantes sexuais e lavadores de dinheiro. Então, não me sinto bem em relação ao bitcoin.” Ele chegou a dizer que, se fizesse parte do governo federal, acabaria com esse modelo.

Um assunto que Dimon não discorreu muito durante o evento foi justamente sobre sua saída do comando do J.P. Morgan, cargo que ele ocupa desde 2006. Ele afirmou que ainda pretende seguir como presidente do conselho após deixar o posto de CEO. Mas tudo isso sem uma data definida. No ano passado, ele chegou a dizer que deixaria o cargo provavelmente em até cinco anos.

“Obviamente, depende do conselho. Se eu ficar aqui [como CEO] por mais quatro anos e talvez mais dois ou três como presidente executivo, é muito tempo”, disse o banqueiro de 69 anos.