Quando o assunto é a trajetória do dólar, o otimismo está no curto prazo, com a moeda americana dando sinais de que cederá frente ao real com o início dos cortes de juros nos Estados Unidos. Mas, ao olhar para 2026, a visão é de cautela, diante da situação das contas públicas e dos efeitos da eleição presidencial.
Quem apresentou recentemente suas premissas para o dólar foi o Itaú Unibanco. A equipe de macroeconomia divulgou na sexta-feira, 19 de setembro, a revisão da projeção para a taxa de câmbio de R$ 5,50 para R$ 5,35 em 2025. O valor ficou pouco acima dos R$ 5,31 em que a moeda americana encerrou o pregão de quinta, 18.
A decisão acompanha a revisão feita pelo UBS BB. O banco anunciou, na quarta-feira, 17 de setembro, a redução de sua projeção para o dólar — a referência para este ano e o próximo é de R$ 5,40, abaixo dos R$ 5,80 estimados para 2025 e dos R$ 5,86 para 2026.
Os movimentos foram impulsionados pelas sinalizações do Federal Reserve (Fed, o banco central americano). Na quarta, 17, cortou os juros em 0,25 ponto percentual, reduzindo a banda entre 4% e 4,25%. Essa foi a primeira redução desde dezembro de 2023, e a expectativa é de manutenção do ritmo de cortes, segundo o próprio Fed.
Para os economistas do Itaú, a autoridade monetária americana reforçou a tendência de enfraquecimento global do dólar, favorecendo ativos de risco. “Nesse ambiente, o real deve continuar operando em níveis mais apreciados no curto prazo”, diz trecho do relatório.
O UBS BB destacou que o afrouxamento nos Estados Unidos ocorre num momento em que os juros no Brasil permanecem elevados, criando espaço para queda da moeda americana.
Enquanto o Fed reduziu os juros, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) decidiu, por unanimidade, manter a Selic em 15% ao ano, maior patamar em duas décadas. “Os fatores de curto prazo favorecem o real”, afirma o relatório do UBS BB.
Para 2026, porém, a perspectiva é nublada pela situação interna. O Itaú manteve a projeção em R$ 5,50, citando o déficit em conta corrente e a expectativa de que o Copom só comece a reduzir os juros no próximo ano. Os dados mais recentes do BC apontam que, nos 12 meses até julho, o déficit em transações correntes foi de US$ 75,2 bilhões, o equivalente a 3,5% do PIB.
“Para 2026, esperamos que a taxa de câmbio volte a ficar mais pressionada à medida que o diferencial de juros se estreite com a queda da Selic e o cenário de contas externas fragilizadas persista”, diz o relatório do Itaú.
Mesmo projetando uma taxa de câmbio menor, o UBS BB destacou que 2026 pode ser marcado por turbulência política, fator que historicamente pesa sobre o câmbio.
“Em outubro de 2026, cerca de 160 milhões de brasileiros irão às urnas para eleger deputados estaduais, governadores, os 513 assentos da Câmara dos Deputados, dois terços dos 81 senadores e decidir pela reeleição ou não do presidente Lula. Períodos eleitorais costumam ser voláteis”, escreveram os analistas.
Por volta das 10h15, o dólar registrava alta de 0,15%, a R$ 5,32. No ano, a moeda americana acumula queda de 15,3%.