O aeroporto do Guarujá, no litoral de São Paulo, que fica ao lado do Porto de Santos, entra em sua fase final de construção e deve estar concluído no início de 2026, com recursos do novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e de emendas parlamentares

As companhias aéreas Latam, Azul e a gigante petrolífera brasileira Petrobras já enxergam oportunidades na utilização deste novo aeroporto a partir do ano que vem e demonstraram interesse na conexão com o espaço, hoje administrado pela Prefeitura de Guarujá e operado, nesta fase pré-conclusão, pela Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero).

A intenção da Petrobras é utilizar o espaço como uma base para os trabalhadores da companhia que atuam nas plataformas da Bacia de Santos, em área de pré-sal, com uma das maiores reservas de petróleo do País.

No início de setembro, técnicos da petrolífera estiveram na prefeitura de Guarujá, em reunião com secretários e representantes do governo, para discutir a utilização a partir da liberação do aeroporto pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).

“Neste caso, o diálogo está mais avançado, porque a empresa já pediu a documentação do aeroporto para que eles possam usar de fato como base para levar os funcionários”, diz ao NeoFeed Thais Margarido, secretária municipal de Desenvolvimento Econômico e Portuário de Guarujá, que participou da reunião com a Petrobras.

No fim de agosto, o presidente da Frente Parlamentar de Portos e Aeroportos, deputado federal Paulo Alexandre Barbosa (PSDB), reuniu-se em Brasília com os CEOs da Latam, Jerome Cadier; da Azul, John Rodgerson; e com o presidente da Associação Brasileira de Empresas Aéreas (Abear), Juliano Noman, quando falaram do caminho das aéreas para aterrissar em Guarujá.

“A conversa foi muito positiva com os presidentes, porque estamos trabalhando para ter operação de linhas aéreas em Guarujá. A Azul já demonstrou interesse e se comprometeu a oferecer as rotas Guarujá-Rio de Janeiro e Guarujá-Brasília”, diz Barbosa, em entrevista ao NeoFeed.

“A Latam está estudando a demanda para decidir suas eventuais linhas. Mas essa é a primeira etapa do aeroporto, que, a partir do momento em que estiver em funcionamento, terá uma fase de expansão, para aviões maiores”, complementa o ex-prefeito de Santos por dois mandatos (2013 a 2020).

Para Gianfranco Beting, consultor aeronáutico e cofundador da Azul, além de destinos como Rio de Janeiro e Brasília, faz sentido a criação de rotas de Guarujá para Guarulhos e o Sul do País.

“No caso de Cumbica, seria uma espécie de hub para conectar com outros voos nacionais e até internacionais. Por isso que a aviação regional é tão importante. Mas tudo depende do modelo e da companhia”, diz Beting.

Segundo ele, aeroportos têm grande capacidade de atrair investimentos, mobilidade urbana e melhorar a qualidade de vida nas regiões, além de impactar diretamente o valor de mercado de imóveis.

“A proximidade relativa com Congonhas não pode ser encarada como justificativa, porque ele é enganosa. Essa distância pode representar uma viagem até longa, dependendo das condições da estrada”, afirma o consultor.

John Rodgerson (Azul), Juliano Noman (Abear), Paulo Alexandre Barbosa e Jerome Cadier (Latam), em reunião em Brasília

Procuradas pelo NeoFeed para comentar a intenção de operar no aeroporto do Guarujá, as companhias aéreas não negaram o interesse e falaram de possíveis novas oportunidades de crescimento em aeroportos regionais no País.

“Como empresa competitiva, a Azul está sempre atenta ao mercado e avalia constantemente as possibilidades de incremento de sua malha. Neste momento ainda não há definição quanto ao planejamento das operações no Guarujá”, diz a companhia, em nota.

“Em paralelo, a Azul vem nos últimos cinco anos consolidando seu DNA regional, alcançando mercados estratégicos com sua subsidiária Azul Conecta, que opera voos para 44 destinos, com uma frota de 24 aeronaves Cessna Grand Caravan”, afirma a empresa.

Ainda segundo a Azul, no primeiro semestre de 2024 foram realizados cerca de 7,2 mil voos, com 28 mil passageiros em todas as regiões do País, “promovendo conexão com muitos lugares em que o único acesso seria por via fluvial”.

A Latam informou que “avalia todas as oportunidades para ampliar de forma sustentável a conectividade de sua malha aérea e qualquer nova operação será comunicada oportunamente”. Segundo a companhia, o número de aeroportos atendidos no Brasil cresceu de 44 para 59 desde 2021.

A Petrobras confirmou o encontro com técnicos da Prefeitura e da Infraero. “A Infraero promoveu uma reunião no dia 03/09, no âmbito do protocolo de intenções firmado com a Petrobras, que contempla o intercâmbio de conhecimentos e visitas técnicas a bases sob a sua gestão”, diz a empresa, em nota.

“Além do aeroporto do Guarujá, outras instalações aeroportuárias geridas pela Infraero em outras regiões do país estão sendo visitadas ou serão incluídas no cronograma. Ressaltamos que, até o momento, não há definição ou previsão sobre operações da Petrobras em qualquer base do escopo desse estudo”, completa a companhia.

Ligação porto e aeroporto

O litoral sul de São Paulo está cercado de grandes obras de infraestrutura. O aeroporto do Guarujá, cujos investimentos somam R$ 40 milhões, já tem o prefixo SSZ como código aeroportuário International Air Transport Association (IATA). Ele ficará ao lado do Porto de Santos, uma área que será revitalizada ao tráfego com o leilão para construção do túnel Santos-Guarujá, que ligará as duas margens do maior terminal portuário da América Latina.

A expectativa é que, com a obra entregue para a homologação da Anac, a partir da conclusão do terminal de passageiros, os pousos e decolagens tenham início no segundo semestre de 2026. A meta é de, inicialmente, alcançar um volume de 200 mil passageiros ao ano.

O horizonte é de que haja, no início, entre dois e quatro voos semanais (além de taxi aéreo) no aeroporto, que terá uma pista com 1.390 metros por 45 metros de largura, maior do que a do Santos Dumont, no Rio de Janeiro (a pista principal tem 1.323 metros). A entrega da pista foi em abril deste ano, com a presença do ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho.

O aeroporto se enquadra no modelo terceiro nível, onde está o serviço aéreo regional, com menor volume de embarques e de passageiros transportados. O segundo nível é para voos domésticos maiores e o primeiro nível, para internacionais.

O volume de passageiros no Guarujá é pequeno se for levar em consideração a grande movimentação do aeroporto mais perto, o de Congonhas, em São Paulo, que fica a 90 quilômetros de distância e que recebeu 23,1 milhões de pessoas em 2024 (1,9 milhão por mês).

Mas, quando comparado com os aeroportos regionais, no mesmo conceito que será implementado no Guarujá, com menor porte e que servem para conectar pequenas regiões do País, a distância é menor.

A quantidade anual no Guarujá será somente um pouco abaixo da movimentação do aeroporto de Fernando de Noronha (PE), que hoje recebe 260 mil turistas ao ano, mas que está em fase de ampliação.

Entre outros pontos vistos como vantagem para utilização do aeroporto está o potencial econômico e turístico da Baixada Santista, que tem uma população de quase 2 milhões de habitantes nas nove cidades da região e um PIB de R$ 99,7 bilhões - o equivalente a 2,9% do estado de São Paulo.

O objetivo da Prefeitura, segundo Margarido, secretária de Desenvolvimento Econômico e Portuário, é que, a partir da homologação, haja a definição da empresa que será concessionária do espaço.

“Há possibilidade de uma PPP, de um consórcio, para que a iniciativa privada possa fazer essa ampliação, com mais hangares e com um terminal maior. Nossa ideia é reduzir o modal rodoviário para o aéreo”, diz ela.

O interesse para a viabilização de um aeroporto em Guarujá não é recente, a exemplo do período acima de 100 anos que levou para que o túnel começasse a sair da fase apenas de projeto. A criação de um aeroporto regional ocorre no espaço em que já funciona a Base Aérea de Santos, utilizada pela Força Aérea Brasileira (FAB).

Em 2019, a FAB cedeu uma área adicional de 55 mil metros quadrados para a construção do aeroporto civil de passageiros. O espaço passou a ser, então, de controle da Secretaria de Aviação Civil, que na época era vinculada ao Ministério de Infraestrutura.