Enquanto os investidores e as empresas brasileiras estão retraídos no mercado de emissão de dívidas, depois de anos marcados por um volume elevado de colocação de títulos, o mercado exterior apresenta uma demanda por papéis corporativos latino-americanos.
A avaliação é da equipe de debt capital markets (DCM) do Citi para América Latina, analisando que a profundidade e a possibilidade de prazos mais longos para os títulos em mercados desenvolvidos têm permitido aos investidores internacionais olharem para a região.
“O volume de emissões ainda não está tão forte quanto o do primeiro trimestre do ano passado, mas é principalmente pela questão do emissor, não do investidor”, disse Adrian Guzzoni, head de DCM para a América Latina. “O investidor [estrangeiro] está sobredemandando o mercado.”
Segundo Alexandre Castanheira, head de DCM Brasil, os fundos estrangeiros ficaram muito tempo sem investir em emissões da América Latina e agora demonstram interesse por papéis do Brasil. Mas a demanda não é por qualquer nome.
“Tem apetite para Brasil, tem partes do espectro de crédito com mais e menos apetite, mas para os grandes nomes. Para os emissores frequentes, para os bancos soberanos e quase soberanos, o mercado internacional está aberto”, disse Castanheira.
A preferência por nomes líquidos e com melhor qualidade de crédito é uma situação normal nestes momentos de retomada dos mercados, segundo Guzzoni. E no caso do Brasil ganhou um reforço após nomes como Americanas e Light apresentarem problemas financeiros, o que deixou os investidores ressabiados.
“A análise de crédito vai ser cada vez mais importante para colocar qualquer coisa no mercado”, afirmou Guzzoni. “Antes, quando a taxa era basicamente zero, se fazia análise de crédito basicamente com alavancagem. Agora, se olha atentamente o fluxo de caixa, entender a companhia e a estratégia.”
Já o mercado brasileiro, segundo Castanheira, está retomando lentamente após os anos de euforia, mas com pouca profundidade sobre o ponto de vista de investidor institucional.
Um ponto que pesou foi a questão dos fundos multimercados, que estava alocando em crédito, mas a situação macroeconômica e os preços em alta dos títulos acabaram afugentando esse player.
“Nós mapeamos, até o final de abril, mais de R$ 100 bilhões em saques em fundos de crédito. Então, praticamente tudo que entrou na segunda metade do ano passado já saiu”, afirmou Castanheira.