Quinze minutos após o fim do pronunciamento do presidente Luiz Inácio Lula da Silva determinando a intervenção federal no Distrito Federal, em resposta à ocupação terrorista da praça dos Três Poderes e à invasão e à depredação dos prédios do Congresso, do Planalto e do Superior Tribunal Federal, os principais executivos de uma empresa que administra mais de R$ 15 bilhões foram chamados para uma reunião de emergência.

A temperatura da conferência foi resumida desta maneira: “Estamos apreensivos porque achávamos que a simples transição já seria difícil. Veio a semana passada, que foi dura também. E agora esses acontecimentos... Há um medo do que vem do exterior, mas sobretudo de como as instituições brasileiras lidarão com isso”, contou ao NeoFeed um dos sócios.

No mercado financeiro, uma das expressões mais utilizadas é que se deve “comprar no boato e se vender no fato”. Nas últimas semanas, a expectativa dos investidores locais e internacionais é ruim com o futuro do Brasil.

O head do escritório brasileiro de uma gestora com mais de US$ 2 trilhões sob gestão no mundo estava em casa quando começou a receber mensagens no WhatsApp. Era um estrangeiro enviando reportagens do The Guardian com as notícias que vinham de Brasília.

“Os gringos já vinham pisando no freio na questão dos investimentos aqui; com a chegada do novo governo e das mensagens da equipe econômica, a situação piorou; agora, com esses ataques, ficou pior ainda”, diz ele. “Já estamos na periferia da alocação de investimentos e o que preocupa é se esse movimento escalar.”

“A primeira reação de quem está fora do País é se antecipar à possibilidade desse tipo de coisa acontecer novamente, no longo prazo. Vai ser uma espécie de medo no retrovisor”, afirma o estrategista-chefe de uma gestora que conversa diariamente com os maiores hedge funds do mundo.

A preocupação com a escalada da violência, com uma possível repetição em outros lugares, pode piorar o cenário de incerteza. Um outro gestor resumiu assim a visão que predominará a partir desta segunda: “As próximas 48 horas serão decisivas para os 100 primeiros dias, que serão muito importantes para os 48 meses do governo Lula”.

A primeira semana do governo eleito espalhou insegurança e falta de coordenação, como Ângela Bittencourt destacou na sua coluna Visão Econômica. O resultado é uma curva futura de juros em ascensão. Para 2024, a taxa estava sendo negociada na casa dos 13,70%. Mas a avaliação sobre o humor dos mercados nesta segunda-feira, 8, ainda é imprecisa.

“A princípio é ruim pois traz o risco institucional de volta ao processo, algo que estava em segundo plano”, diz o sócio de um banco de investimentos. “Para o preço dos ativos, o ato é mais ruído do que sinal. A reação do governo é que será importante. Se o Lula vier ‘escalando’ o problema, o mercado vai muito para baixo. Mas, se vier apaziguando, a bolsa pode até subir.”

Nos primeiros cinco pregões do governo Lula, o Ibovespa encerrou em queda de 0,5%. O risco-país atingiu 253 pontos na sexta-feira, 6. Há 12 meses, o indicador estava em 209 pontos.

Com a percepção de risco em alta, as buscas pela proteção do patrimônio em moeda estrangeira são crescentes. Segundo executivos da Avenue, a maior corretora digital que dá acesso aos ativos listados nos Estados Unidos para brasileiros, a procura aumentou desde o fim do segundo turno.

No fim do domingo, o acesso ao site da corretora estava muito forte. Na segunda, haverá a confirmação se essas consultas se transformaram em cadastro, que também vem apresentando picos de preenchimento nas últimas semanas.

Os temores do mercado financeiro encontram eco nas empresas. O presidente de uma multinacional do setor industrial disse ao NeoFeed que o que mais preocupa agora é que esse movimento se generalize e que piore ainda mais a posição do Brasil na busca por investimentos.

“Não estamos com essa bola toda, já estamos perdendo muitos investimentos para o México”, diz ele. “Investimentos de empresas que querem estar mais próximas dos mercados consumidores por conta dos problemas das cadeias globais de abastecimento.”

Outro grande empresário, cuja companhia tem capital aberto na B3, afirmou ao NeoFeed que o que deve mudar nesse cenário, pelo menos no curto prazo, é o timing para que novos negócios surjam. "Vamos esperar as coisas se acalmarem para fazer M&As", diz ele. "Vivemos e empreendemos no Brasil."

“A imagem que passa é a de que, em vez de se organizar para cuidar de temas como inflação, gasto público e medidas que geram crescimento, o País vai ficar brigando em cima de eleição”, disse outro empreendedor. “E o dinheiro não gosta de confusão. Quando existe confusão, o dinheiro sai e espera.”

Entre todos que conversaram com o NeoFeed, havia uma preocupação sobre os posicionamentos institucionais. No universo político, o mundo condenou o vandalismo e manifestou apoio à democracia.

Na economia, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) foi uma das primeiras a assinar uma nota oficial, que diz que “o governo e as instituições precisam voltar a funcionar dentro da normalidade, pois o Brasil tem um desafio de voltar a crescer, gerar empregos e riqueza e alcançar maior justiça social.”

Para a Febraban, “as cenas de desordem e quebra-quebra na tarde de domingo em Brasília causam profunda perplexidade institucional, que exigem firme reação do Estado”. A Anbima também afirmou que “o Brasil é um país forte, com instituições democráticas estabelecidas. Estamos convictos de que o estado de direito prevalecerá e que continuaremos contribuindo para o desenvolvimento da nossa economia e fortalecimento da nossa sociedade”.

No fim do domingo, a Quaest Consultoria informou que coletou uma amostra aleatória com 2,2 milhões de postagens nas redes sociais sobre a invasão em Brasília. O resultado é que 90% das menções eram de teor negativo, ou seja, repudiando o ocorrido. Assim como a horda de terroristas golpistas, apenas uma minoria apoiava a barbárie. Mas, infelizmente, essa minoria ruidosa pode causar enormes estragos para o Brasil.

Colaboraram Moacir Drska e Ivan Ryngelblum