A economia dos Estados Unidos cresceu 2,4% no segundo trimestre, índice acima dos 1,7% projetados por agentes econômicos.

Boa parte desse avanço se deve a investimentos privados de infraestrutura, que começam a surtir efeito cerca de um ano depois da entrada em vigor do pacote de duas  leis que somam US$ 1,2 trilhão - Lei de Investimentos e Empregos em Infraestrutura e Lei de Redução da Inflação -, idealizadas pelo presidente Joe Biden.

Os números do segundo trimestre da economia americana - divulgados nesta quinta-feira, 27 de julho, pelo Bureau of Economic Analysis (BEA), agência responsável pela coleta dos indicadores econômicos dos EUA – chamaram a atenção algumas razões.

A primeira delas, por afastar a possibilidade a curto prazo de uma recessão no país – que vem mostrando inflação em queda, desemprego no nível mais baixo em anos e crescimento econômico acelerado.

No primeiro trimestre, a economia americana havia crescido 2% e a expectativa era de um avanço menor, por causa política monetária restritiva adotada desde o ano passado pelo Federal Reserve (Fed), o banco central dos EUA.

Na véspera, quarta-feira, 26 de julho, o Fed havia anunciado novo aumento da taxa de juros de 0,25 ponto percentual, elevando a taxa básica para a banda entre 5,25% e 5,5% ao ano. Embora a inflação no país esteja em queda, com índice anual de 3% registrado em junho, o Fed admitiu elevar os juros em algum momento até o final do ano.

Alguns dados do segundo trimestre reforçam o efeito da política monetária dos últimos meses. Os gastos do consumidor, por exemplo, que haviam crescido 4,1% no primeiro trimestre, avançaram num ritmo bem menor, de 2,6% entre maio e junho.

Outros indicadores, como produção industrial, mercado imobiliário e contratações do mercado de trabalho também recuaram em relação ao primeiro trimestre.

Gastos em infraestrutura

Por isso o crescimento robusto do segundo trimestre foi atribuído aos investimentos empresariais em infraestrutura, que cresceram a uma taxa anualizada de 7,7%, um grande salto em relação ao avanço de 0,6% no primeiro trimestre.

Apenas esta rubrica, classificada oficialmente como investimento fixo não residencial, que registra quanto as empresas estão gastando em fábricas e equipamentos de transporte, foi responsável por quase 1 ponto percentual de elevação do PIB entre abril e junho.

Na semana passada, o Morgan Stanley já havia detectado esse aumento de investimentos em infraestrutura, o que levou o banco a revisar pela terceira vez, desde janeiro, sua previsão de crescimento do PIB dos EUA para 2023 – de 0,4% no início do ano, para 1,3%.

Os investimentos privados e também federais foram citados no relatório do banco. “A economia na primeira metade do ano está crescendo muito mais forte do que esperávamos por conta dos efeitos da Lei de Investimentos e Empregos em Infraestrutura que estão impulsionando um boom de grande escala nesse setor”, escreveu Ellen Zentner, economista-chefe do Morgan Stanley nos Estados Unidos.

Até agora, o governo Biden alocou US$ 225 bilhões em financiamento de infraestrutura para cerca de 35 mil projetos. De acordo com a Casa Branca, empresas privadas anunciaram outros US$ 503 bilhões em investimentos relacionados.

Muitas das estradas, pontes, tubulações, portos e conexões de internet novas e melhoradas devem levar ao menos cinco anos para produzir melhorias significativas na vida cotidiana dos americanos – daí a surpresa de parte dos economistas pelo fato desses investimentos já começarem a aparecer nas estatísticas do segundo trimestre.

Uma explicação é que o pacote de US$ 1,2 trilhão atraiu mais de US$ 491 bilhões em novos investimentos privados, parte agora sendo executada – como na construção de fábricas e contratação de mão de obra (o que também ajuda a explicar o baixo índice de desemprego, de 3,7%).

Otimismo com o PAC

Os primeiros resultados dos investimentos em infraestrutura os EUA certamente devem reforçar  os argumentos do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para aumentar os recursos previstos para serem usados no novo Plano de Aceleração Econômica (PAC).

Após adiar o anúncio três vezes, o presidente Lula prometeu lançar o novo programa de infraestrutura do governo federal em 11 de agosto e com recursos maiores do que haviam sido previstos – dos cerca de R$ 80 bilhões inicialmente admitidos para cerca de R$ 240 bilhões até 2026.

Além dos recursos públicos, haverá financiamentos de bancos para estados e municípios e investimentos da iniciativa privada em concessões e Parcerias Público-Privadas (PPP).

O presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), Aloizio Mercadante, afirmou no começo da semana que o banco de fomento estatal terá R$ 50 bilhões para financiamento de projetos de infraestrutura apenas neste ano.

“A grande lição dessa notícia dos EUA é que, um ano depois dos estímulos do governo Biden saírem do papel, estamos vendo o setor público e principalmente o setor privado investindo em infraestrutura”, afirma Roberto Guimarães, diretor de Planejamento e Economia da ABDIB (Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base).

De acordo com Guimarães, a exemplo do que está ocorrendo nos EUA, os efeitos do novo PAC só deverão impactar nos indicadores da economia brasileira em 2024.

Até lá, ele espera que avanços obtidos pelo novo governo – como aprovação do arcabouço fiscal, consolidação da queda de inflação e eventual queda de juros – atraiam investimentos privados para o programa.

“O importante, ao longo da execução do PAC , é evitar retrocessos regulatórios, para assegurar o aumento de investimentos privados”, diz Guimarães.