Conhecido pela realização do seu encontro anual em Davos, na Suíça, que reúne personalidades e líderes da economia global, o Fórum Econômico Mundial esteve envolvido com uma outra agenda – interna - nos últimos meses.
Atribulado, esse calendário colocou em xeque um outro nome de peso, e de suas próprias fileiras: Klaus Schwab, fundador e presidente do conselho administrativo da entidade, que renunciou ao posto em abril de 2025, após ser alvo de uma série de denúncias, ao lado de sua esposa, Hilde Schwab.
O caso foi o estopim para um período conturbado para o Fórum e suas lideranças, a partir da abertura de uma investigação a pedido do conselho da organização, que, na sexta-feira, 15 de agosto, trouxe seu “veredito”, na tentativa de acalmar esses ânimos.
Em comunicado, o conselho afirmou que concluiu uma investigação ampla. E que, após uma análise completa de todos os fatos, não há evidências de irregularidades materiais cometidas por Schwab, tampouco por sua esposa.
“Pequenas irregularidades, decorrentes de linhas pouco claras entre contribuições pessoais e operações do Fórum, refletem profundo comprometimento e não intenção de má conduta”, ressaltou a entidade, na nota.
O conselho também disse ter adotado medidas para solucionar os problemas identificados, incluindo o fortalecimento da sua governança. E lamentou “profundamente” o escrutínio público que precedeu a conclusão da investigação e a pressão “indevida” que o processo exerceu sobre Klaus e Hilde.
O caso em questão veio à tona a partir de uma carta anônima, enviada ao conselho do Fórum em abril deste ano. A denúncia trazia a acusação de que o casal misturava assuntos pessoais com recursos da entidade, sem a devida supervisão.
Entre outras supostas práticas, Schwab pedia que funcionários fizessem saques em caixas eletrônicos e usassem os recursos do Fórum para pagar massagens em hotéis. Hilde, por sua vez, agendaria reuniões simbólicas, financiadas pela entidade, como pretexto para viagens de férias de luxo.
Em comunicado divulgado na época da sua renúncia, Schwab e Hilde negaram todas as denúncias contidas na carta. E afirmaram que pretendiam entrar com uma ação judicial contra quem estivesse por trás da carta anônima ou qualquer que espalhasse essas mentiras.
Já na sexta, 15, um porta-voz do casal disse ao jornal americano The Wall Street Journal que pretende retirar um processo contra os denunciantes anônimos e uma ação movida contra o Fórum, que, por sua vez, acrescentou:
“Com os fatos agora claramente estabelecidos, avançaremos com clareza, uma governança mais forte e foco renovado em nossa missão”, observou o Fórum.
Nesse contexto, a entidade também anunciou que Peter Brabeck-Letmathe, ex-CEO da Nestlé, que havia assumido interinamente o posto de Schwab, renunciou ao cargo. E divulgou ainda a nomeação de Larry Fink, o CEO da BlackRock, e do bilionário suíço André Hoffmann, como copresidentes interinos.
“É uma honra assumir essa função interinamente em um momento crucial para o Fórum”, afirmou a dupla, em declaração conjunta. “O mundo está mais fragmentado e complexo do que nunca, mas a necessidade de uma plataforma que reúna empresas, governos e sociedade civil nunca foi tão grande.”
Entretanto, a própria renúncia de Brabeck-Letmathe mostra que ainda há arestas a aparar dentro do próprio Fórum. Segundo o WSJ, ele afirmou que testemunhou pessoalmente um ambiente de trabalho “tóxico” na entidade, em sua carta de demissão.
Ao mesmo tempo, o ex-CEO da Nestlé também frisou que a única maneira de seguir em frente era o conselho buscar um “acordo amigável” com Schwab para resolver a disputa. Outros conselheiros seguiram a mesma linha.
Em contrapartida, alguns membros do colegiado entendiam que as descobertas da investigação justificavam novas ações. E argumentaram que esse era o caminho a ser seguido pelo Fórum, que precisava mostrar que levava sua governança a sério.
Outros apoiaram Schwab, afirmando que as conclusões eram insignificantes em comparação com as décadas que ele passou construindo a organização, disseram as fontes. No final, o conselho concordou na sexta-feira que era hora de resolver a disputa e se concentrar novamente nas atividades do Fórum.
"Tenho um conjunto de valores e um senso de integridade. Não me sinto a pessoa certa para liderar o conselho de administração na próxima fase”, disse Brabeck-Letmathe, ao jornal americano, nessa sexta-feira. “Há diferentes prioridades e diferentes sentimentos sobre o que deve ser feito ou não.”
Oficialmente, o Fórum afirmou que o momento marca uma transição crucial. E que, agora, seu conselho irá se concentrar na “institucionalização” da entidade como uma Organização Internacional resiliente para a cooperação público-privada. E acrescentou:
“O próximo capítulo será guiado pela missão original desenvolvida por Klaus Schwab: reunir governo, empresas e sociedade civil para melhorar a situação do mundo”.