Somente em 2025, o Brasil deve perder US$ 7 bilhões em exportações a partir da tarifa de 50% imposta pelo presidente Donald Trump sobre os produtos brasileiros que entrarem no País a partir de 1º de agosto. Para o ano que vem, essa conta deve aumentar para US$ 13 bilhões.

Isso significa que, em um ano e meio, as empresas brasileiras deixarão de arrecadar US$ 20 bilhões com vendas de seus produtos para o mercado americano. Essa é a perspectiva do banco BTG Pactual, em relatório divulgado na quinta-feira, 10 de julho, o dia seguinte do tarifaço.

De qualquer forma, ainda que seja um valor expressivo, o volume não deve ser muito representativo na conta final, já que, segundo o BTG, a tendência é que os exportadores redirecionem suas exportações para outros mercados. A perda de 2025 representará o equivalente a 0,3% do Produto Interno Bruto (PIB). E a do ano que vem, 0,6%.

Para o banco, uma possível retaliação do governo federal, como afirmou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no comunicado horas após o anúncio de Trump, na noite de quarta-feira, 9, traria mais efeitos colaterais à economia brasileira.

“Por um lado, ajudaria a reduzir o impacto líquido sobre o saldo comercial. Por outro, aumentaria incertezas, geraria distorções adicionais e encareceria as importações de bens de capital e intermediários, afetando produtividade e investimentos domésticos”, diz o relatório assinado pelas analistas Iana Ferrão e Luiza Paparounis.

“Na prática, o maior custo dessa nova rodada de tarifas está menos no potencial impacto direto sobre os fluxos de comércio e mais na piora do ambiente econômico, na deterioração da relação de parceria histórica entre os dois países e na incerteza gerada”, afirma o texto.

Na avaliação do banco, ainda que a Casa Branca estenda tarifa de 50% para toda a pauta de exportação brasileira, incluindo as exceções que contam com isenção, como o petróleo bruto, hoje o principal produto no mercado de exportação para os Estados Unidos, a perda de receita subiria poucos degraus.

“Isso porque o setor de petróleo conta com maior flexibilidade comercial e capacidade logística para redirecionar embarques a outros mercados. Nesse cenário, a redução das exportações alcançaria US$ 8 bilhões em 2025 e US$ 14 bilhões em 2026”, afirma.

Nas contas do BTG, com base em dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), o setor de petróleo e derivados faturou US$ 7,6 bilhões com produtos exportados para os Estados Unidos em 2024, o que representa 18,8% de tudo o que foi arrecadado com vendas de produtos brasileiros no mercado americano.

Na sequência, estão semimanufaturados de ferro de aço, com US$ 2,8 bilhões (6,9% de participação), aeronaves, com US$ 2,4 bilhões (5,9%), materiais de construção e engenharia, com US$ 2,2 bilhões (5,4%), e café, com US$ 1,9 bilhão (4,7%).

Segundo análise do BTG, a tarifa de 50% não será cumulativa aos 25% aplicados a automóveis e peças, e nem sobre os já 50% aplicados sobre aço e alumínio. Já o setor de aviação, que enfrentava tarifa de 10%, será impactada pela decisão de Trump, com acréscimo de 40 pontos percentuais.

Ainda que a participação dos Estados Unidos nas exportações brasileiras tenha recuado de quase 25% no início dos anos 2000 para 12% em 2024 (US$ 41 bilhões), o mercado americano segue como o segundo principal destino das vendas externas do Brasil e o mais relevante para bens manufaturados de maior valor agregado, como aeronaves, autopeças e máquinas. A China representa 27% da receita com exportações dos produtos brasileiros.

“Levando em consideração as tarifas setoriais já aplicadas e a nova tarifa recíproca de 50%, acreditamos que a tarifa efetiva média dos EUA sobre os bens brasileiros passará de 1,3% em 2024 para 37,2% em 2025, representando um aumento de quase 36 pontos percentuais”, afirma o relatório do BTG.

Para as analistas do BTG, Trump fugiu do padrão adotados nos demais casos de aumento de tarifas de exportação para o mercado americano, em que, em tese, adotou critérios econômicos, relacionados ao equilíbrio da balança comercial com os países. Agora, a política ficou em primeiro plano.

“A medida, comunicada por meio de uma carta ao presidente Lula, rompe com o padrão adotado em relação a aplicação de tarifas a outros países e não tem como justificativa principal o comércio, mas sim divergências políticas, incluindo o tratamento dado ao ex-presidente Jair Bolsonaro e debates sobre regulação de redes sociais.”