O mercado global de petróleo reagiu nesta segunda-feira, 3 de abril, com um aumento de 6% na cotação do preço do barril menos de 24 horas depois da decisão da Opep +, grupo que reúne a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) e aliados, de cortar a produção de 1,66 milhão de barris por dia até o fim do ano.

O Brent, valor de referência mundial para o preço do barril, fechou em alta de US$ 5,04, a US$ 84,93 dólares, depois de atingir o maior nível desde 7 de março, a US$ 86,44.

A boa notícia é que a combinação do aumento na cotação registrado ao longo do dia, mesclada com o corte anunciado da produção – apenas 3% da oferta total da Opep+ -, não deverá afetar a inflação e taxas de juros pelo mundo, como se temia. E, de quebra, vai melhorar o caixa da Petrobras.

Um efeito nocivo só entra no radar se a cotação ultrapassar a barreira dos US$ 100 o barril – o que parece pouco provável no curto prazo. De acordo com Francisco Nobre, economista da XP, inicialmente essa redução de produção, com aumento de preço do barril, não é problemático para o cenário global.

“Antes da crise bancária nos Estados Unidos, o preço Brent estava em torno de US$ 85, depois caiu para US$ 70”, disse ele. “O que houve foi uma correção pelo lado da oferta de uma queda da demanda registrada nas últimas semanas.”

De acordo com o economista da XP, o contágio desse aumento do preço do barril lá fora não deve afetar no preço dos combustíveis no mercado interno e tampouco causar efeito imediato na inflação brasileira.

“Na verdade, pode beneficiar a Petrobras, pois ela exporta óleo cru e deverá ter um ganho que deve aumentar a arrecadação do governo”, explicou Nobre.

Pressão por aumento

O mercado internacional enxergou a iniciativa da Opep+ como uma manobra para forçar o aumento do preço do petróleo.

No ano passado, em meio ao efeito da guerra na Ucrânia, o preço do petróleo chegou a ser negociado em torno de US$ 120 o barril em junho. Depois começou a cair, o que levou a Opep+ a anunciar, em outubro, uma redução de 500 mil barris/dia da Rússia e o corte acentuado de 2 milhões de barris/dia da Opep.

Como represália, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, decidiu reduzir Reserva Estratégica de Petróleo do país, liberando mais oferta de petróleo nos mercados – o que teria irritado Rússia e Arábia Saudita, líderes dos 23 países exportadores.

A iniciativa desse grupo, que controla cerca de 40% da oferta mundial de petróleo, surpreendeu os mercados na segunda-feira.

Analistas não esperavam que a Opep+ modificasse seus níveis de oferta no momento, pois temiam abertura de nova frente de pressões inflacionárias.

"Acreditamos que esses cortes não são recomendados neste momento devido à incerteza do mercado e deixamos isso claro", disse um porta-voz do Conselho de Segurança da Casa Branca.

O comissário europeu para o Mercado Interno, Thierry Breton, alertou que a decisão da Opep+ deixa claro que o mercado petrolífero "é um mercado artificial" e defendeu o abandono das fontes fósseis o mais rápido possível.

"Depois desta decisão, é urgente, verdadeiramente urgente, deixar de depender dos combustíveis fósseis porque quem os controla, ou pelo menos controla a parte maior, está brincando com isso", criticou Breton em entrevista à emissora de rádio France Info.