Em meio a um cenário ainda conturbado geopoliticamente, mas com boas perspectivas econômicas com a queda dos juros, o Brasil desponta como um mercado que reúne boas condições para realizar a alocação de recursos. A visão é de Luis Stuhlberger, CEO e CIO da Verde Asset Management, que demonstrou um otimismo cauteloso quanto às perspectivas do País. Pelo menos para 2024.

“O Brasil parece ser um lugar em que você pode fazer uma alocação de ativos, sem imaginar que vai ter um grande setback motivado pelo Brasil”, disse Stuhlberger, nesta terça-feira, 30 de janeiro, na 11ª edição Latin America Investment Conference (Laic), organizado pelo UBS.

Um dos pontos que trabalham a favor do País é a questão da inflação, que, segundo Stuhlberger, “incrivelmente não para de surpreender para baixo”. E, em 2024, as estimativas estão mais baixas a cada mês que passa. “A nossa previsão, e do mercado, é de um número perto de 3,4%, dependendo do que possa acontecer com o preço da energia”, disse o CEO da Verde Asset.

Outro ponto favorável é a balança comercial, ainda que o agronegócio não vá contribuir como em 2023. Stuhlberger destacou o aumento da área plantada, da produção de minério de ferro e de petróleo, vendo a possibilidade de a balança ficar positiva em US$ 150 bilhões. No ano passado, ela ficou com um saldo positivo de US$ 98 bilhões.

A situação geopolítica do País, longe dos principais conflitos globais, também ajuda o Brasil, segundo Stuhlberger. “Não tanto quanto o México (por estar perto dos Estados Unidos), mas extremamente beneficiado”, disse.

Para Stuhlberger, a questão fiscal segue sendo o principal problema do País, mas se trata de uma situação mais preocupante em um horizonte de tempo mais amplo do que no curto prazo.

“O nosso fiscal é preocupante, mas estamos encerrando 2023 com o mesmo déficit fiscal de 2019, a gente ganhou os anos da Covid, quando se gastou muito dinheiro”, afirmou Stuhlberger. “Acho que, no curto prazo, dá para se levar com certo conforto.”

Segundo ele, a projeção de um déficit de cerca de R$ 80 bilhões para 2024 “não é um bom número, mas é um número que o mercado tem nas projeções e já assimilou nos preços atuais” e que o problema do equilíbrio das contas públicas “ficou lá para frente”.

Stuhlberger disse que o governo tem uma oportunidade “de ouro” de recompor as contas públicas caso volte com a Cide sobre os combustíveis, que foi zerada em 2022. “Dependendo do preço do petróleo e do câmbio, isso ajuda muito no problema fiscal”, disse.

Ele entende, no entanto, que dificilmente o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, vai retomar a cobrança, não vendo interesse nem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, nem do Congresso. “Temos um Congresso que não quer votar tanto aumento da carga tributária como o governo quer”, afirmou Stuhlberger.

O gestor disse ainda que o diálogo e a articulação feita por Haddad ajuda a manter a situação sob controle. “Enquanto o Lula for uma espécie de ‘chefe de Estado’ e o Haddad for um ‘chefe de governo’, eu acho que estamos bem”, disse.

O principal risco para o Brasil vem do exterior, com destaque para a China e os problemas que a segunda maior economia do mundo enfrenta. Um aumento inesperado dos juros nas principais economias é outro ponto de preocupação, embora este segundo ponto não esteja no horizonte da Verde. “Não somos uma ilha, sofremos como os mercados emergentes sofrem”, disse.

Embora veja que o momento seja bom para ter alguma exposição em ações, no real, em crédito e em NTN-B, Stuhlberger destacou que não é bom estar totalmente exposto, considerando que os ativos "não estão trabalhados" e que ainda têm espaço para cair.