O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, delineou nesta segunda-feira, 25 de agosto, as linhas gerais de como o próximo governo federal deveria conduzir a economia, num cenário mundial que, segundo ele, está migrando da economia para a geopolítica, com países se reposicionando estrategicamente.
Tarcísio participou da abertura do evento do Esfera, em São Paulo, ao lado do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, e do senador Ciro Nogueira (Progressistas-PI), que atuou como mediador.
O governador paulista foi apresentado como potencial candidato da direita na eleição presidencial do ano que vem e chamou a atenção o fato não ter citado o ex-presidente Jair Bolsonaro – que deverá ser julgado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) nas próximas semanas – nem o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que impôs uma tarifaço de 50%. Mas sobraram críticas indiretas ao atual governo federal.
Dois temas ganharam destaque nas falas de Tarcísio. Um deles é a necessidade de uma reforma administrativa para encolher o tamanho do Estado. Ele citou também a necessidade de um projeto de desindexação do Orçamento.
“A reforma administrativa é vista como essencial e o Congresso já mostrou capacidade de aprovar reformas importantes, como a trabalhista, previdenciária, tributária, o marco do saneamento e a autonomia do Banco Central, marcando um rompimento com uma era anti-business e o ingresso de uma era pró-business a partir de 2016”, disse o governador, citando a Argentina como um bom exemplo a se seguir numa reforma administrativa.
“Nosso país vizinho tem operado hoje com apenas nove ministérios, imagina a quantidade de cortes que eles conseguiram fazer e isso foi importante para impulsionar a administração pública, mostra que dá para cortar sem perder a qualidade”, afirmou.
Tarcísio fez um aceno ao Congresso Nacional ao citar como uma mudança na política orçamentária pode destravar vários gargalos.
“Uma reforma do orçamento diminuiria, acabaria e extinguiria uma série de discussões que a gente tem hoje, como, por exemplo, as discussões das emendas”, disse o governador. “Se gasta muita energia discutindo R$ 50 bilhões no universo de R$ 3,5 trilhões do orçamento, a gente tem que pensar quais são as grandes contas, o que é preciso fazer, onde a gente pode mexer”.
Cenário futuro
Pressionado pelos filhos de Bolsonaro por não atacar o STF, apesar de defender o ex-presidente, e por parte do governo federal por não atacar o tarifaço de Trump, Tarcisio tentou traçar um cenário futuro no qual vê o Brasil com necessidade de se reposicionar estrategicamente.
Neste sentido, ressaltou a necessidade de o país ter uma “liderança moderna” e união entre setores empresarial e político para superar o atraso e promover prosperidade, numa crítica indireta ao atual presidente, Luiz Inácio Lula da Silva.
“O cenário mundial está migrando da economia para a geopolítica, com países se reposicionando estrategicamente”, afirmou Tarcísio. Segundo ele, o Brasil historicamente soube equilibrar relações com a China (maior parceiro comercial e investidor estrangeiro direto) e os Estados Unidos, sem se alinhar totalmente a nenhum dos lados.
Para o governador paulista, porém, a diplomacia brasileira está abandonando o pragmatismo, o que pode afastar investimentos estrangeiros. “O Brasil está perdendo oportunidades de captar trilhões de dólares em investimentos, correndo o risco de ficar para trás e ser condenado ao atraso”, advertiu.
“É necessário evitar decisões motivadas apenas por interesses eleitorais”, prosseguiu, lembrando que afastar os EUA por questões ideológicas ou discursos sobre o fim do dólar nas relações internacionais é prejudicial, “pois apenas o Brasil mantém esse discurso no Brics, com os outros membros totalmente fora dele”.
De olho no calendário eleitoral, Tarcísio fez uma analogia dos governos de Getúlio Vargas e de seu sucessor, Juscelino Kubitschek, com a disputa de 2026. Segundo ele, Vargas e Lula voltaram ao poder após terem governado por um longo período, apenas para deixar o país em “confusão”.
Depois, disse que o País superou a morte de Vargas com um governo moderno, de JK, que construiu Brasília. Estimulado pelo senador Ciro Nogueira qual deveria ser o slogan do próximo governo, Tarcísio disse que o país deveria repetir a estratégia de JK, que sucedeu a Vargas com o famoso plano “50 anos em 5”.
“Não sou marqueteiro para dizer qual deveria ser o lema do próximo governo, mas sei que a gente precisa fazer pelo menos 40 anos em 4”, afirmou Tarcísio.