Consenso em torno do baixo crescimento da economia global em 2024, discordância sobre uma possível recessão nos Estados Unidos, além da percepção de que a crise na China é menos profunda do que se fala.
E, mais surpreendente, muitos elogios à política monetária do Banco Central do Brasil, que deu uma “lição histórica” para os BCs do mundo ao começar antes a subir e a cortar juros.
O resumo da participação de dois dos principais executivos globais do UBS nesta terça-feira, 30 de janeiro, faz jus ao tema do painel, “A Previsão Econômica Mundial”, ocorrido na 11ª edição Latin America Investment Conference (Laic), organizado pelo UBS.
Arend Kapteyn, economista-chefe global do UBS, e Alejo Czerwonko, CIO de Mercados Emergentes das Américas do banco, mapearam as grandes questões macroeconômicas para 2024.
Eles surpreenderam a plateia ao abordar ao cenário econômico da América Latina. Os dois executivos elogiaram o Brasil e colocaram em dúvida a recuperação da Argentina.
Kapeteyn diz que o Brasil está menos vulnerável em relação ao câmbio, com muita transferência da balança de pagamentos e exportação de energia.
“A economia brasileira está mais resiliente. Quando o BC cortava rapidamente os juros criava vulnerabilidade no câmbio, algo que não se aplica mais hoje”, disse Kapeteyn.
O economista-chefe do UBS citou ainda outra vantagem competitiva do Brasil. “O universo de investimento em países emergentes está menor: Turquia e Rússia estão fora, então esses investimentos certamente vão parar aqui”, afirmou.
Já Czerwonko adverte que o dólar deve se recuperar em relação ao real. Por isso, é preciso ser seletivo com a classe de ativos. “Há muito espaço no mercado de renda fixa do Brasil, que pode pagar títulos em dólar, embora as oportunidades com a moeda local sejam boas”, disse.
O CIO de mercados emergentes das Américas lembra que o Brasil precisa sempre coexistir com a “espada de Dâmocles da estabilidade fiscal”, mas elogiou o crescimento acima do esperado e a inflação sob controle.
“O ciclo de política monetária do BC brasileiro é um exemplo para o mundo”, afirma Czerwonko, citando a “lição histórica” da autoridade monetária brasileira ao lidar com a inflação e os juros elevados.
“Nunca ocorreu antes de um BC subir juros antes do Fed e, mais importante, começar a cortar os juros antes do BC americano. Isso exige maturidade e o Brasil tem um déficit de conta corrente modesto e uma boa relação do real com o dólar”, diz o executivo.
O mesmo otimismo não se aplica à Argentina. Czerwonko lembra o velho hábito argentino de tentar a mesma estratégia várias vezes, achando que o resultado vai ser diferente.
Ele afirma que, entre as opções atuais, pelo menos existe uma tentativa de fazer uma reforma radical. Mas, segundo ele, a perspectiva é binária: ou o presidente argentino vai ser bem-sucedido, ou vai fracassar.
“Não há meio-termo e, como investidor, qualquer contexto binário tem um desfecho arriscado: a probabilidade de fracasso não é pequena e a perda, nesse fracasso, pode ser considerável”, disse Czerwonko.
Kapeteyn se mostrou cuidadoso ao abordar as perspectivas econômicas americana e global, sem adotar um tom desanimador.
“A economia global terá um crescimento mais lento em 2024 em relação ao período anterior à pandemia, muito por causa da China”, afirmou Kapeteyn, chamando a atenção para o impacto causado pela oferta menor de crédito, um fenômeno que vem ocorrendo desde a crise financeira global de anos atrás.
O economista-chefe do UBS também acredita que a possibilidade de os EUA entrarem em recessão é de 60%, amparando nos dados de consumo. “A força do consumo nos EUA não é sustentável, 40% do consumo em 2023 foi pago pelo cartão de crédito”, disse.