No início de dezembro de 2022, durante um evento promovido pelo Itaú BBA, Luis Stuhlberger, CEO da Verde Asset Management, não hesitou em mostrar seu descontamento com as primeiras medidas especuladas pela equipe de transição do presidente recém-eleito Luiz Inácio Lula da Silva.

Na época, entre outras questões, o investidor deixou clara sua preocupação com os rumos da política fiscal e disse que o terceiro mandato do presidente caminhava para ser muito próximo do cenário observado na gestão de Dilma Rousseff.

Passado pouco mais de um mês da troca de governo, outro nome da Verde Asset, gestora com R$ 32 bilhões de ativos sob gestão, engrossou o coro de Stuhlberger: o economista-chefe da casa, Daniel Leichsenring.

Nesta quarta-feira, 1º de fevereiro, em sua participação no Latin America Investment Conference, ele teceu fortes críticas sobre os novos sinais enviados por Lula e sua equipe econômica. Em especial, a propensão para ampliar os gastos e a perspectiva que estaria sendo colocada na mesa de elevar a meta de inflação. E diante do desafio de fazer um ajuste de quatro pontos percentuais do PIB.

“Se você não vai aumentar imposto, se não vai cortar gastos, como vai diminuir seu déficit. A única mágica possível é inflação alta”, questionou disse Leichsenring. “E a última ‘matemágica’ que fizemos resultou na maior recessão do País, entre 2014 e 2016. A chance de prosperar nesse caminho é zero.”

Na avaliação do economista, uma eventual decisão pela elevação da meta da inflação colocaria um ponto final na única “âncora” que restou ao País, após a aprovação da PEC da Transição e da perda da âncora fiscal.

“Seria o erro mais absurdo que poderíamos cometer, aumentando a meta da inflação ou colocando pessoas no Banco Central alinhadas com algum plano de cortar os juros lá na frente”, disse. “Se formos para esse caminho, vamos passar por uma crise muito severa e muito rápida.”

Apesar de enxergar uma possível “catástrofe” à frente, Leichsenring disse acreditar que, em algum momento, o governo adotará uma “certa racionalidade” e recuará de parte desses planos. Especialmente diante da reação negativa e da resistência do mercado.

Nessa direção, ele citou possíveis movimentos que contribuiriam para aplacar um pouco dessa percepção desfavorável. Uma das principais iniciativas estaria conectada ao anúncio do novo arcabouço fiscal, previsto para o mês de abril.

“Não acho que vá ser algo, de longe, tão restritivo quanto o teto de gastos”, observou. “Mas algo que imponha alguma disciplina no gasto público ou que traga condições de visibilidade para a solvência. Isso pode dar tempo e melhorar um pouco a percepção do mercado de que será um desastre líquido e certo.”