A auspiciosa trajetória da inflação e das expectativas será plano de fundo para a penúltima reunião do Copom de 2025. A decisão sobre a Selic na quarta-feira, 5 de novembro, é o evento mais importante na agenda de indicadores da primeira semana do mês que teria como principal concorrente dados do mercado de trabalho nos EUA com divulgação atravancada pelo shutdown, que entrará em sua quinta semana.
O Copom deverá manter a Selic em 15% pela terceira vez na véspera da reunião de líderes mundiais em 6 e 7 de novembro, em Belém, na contagem regressiva para a COP 30 e em meio a outra atribulada agenda – essa de projetos em análise no Congresso. Entre eles os que substituem a MP 1.303, com parte das medidas já incorporada a outra proposta com aval da Câmara; o do devedor contumaz; o de isenção de IR para quem ganha até R$ 5 mil, que tramita no Senado; e o da Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2026.
A decisão do Copom é amplamente esperada. Portanto, a expectativa de analistas e operadores recairá sobre o conteúdo do comunicado que acompanha a decisão e poderá mudar se o Banco Central (BC) decidir sinalizar, enfim, o início da flexibilização monetária em janeiro – horizonte para o corte de juro sustentado pelo mercado na pesquisa Focus.
Parte das instituições aposta, porém, em redução da Selic em março ou literalmente no “primeiro trimestre” e por um motivo econômico e, outro, político. Primeiro, porque, apesar da evolução mais favorável do IPCA, ainda não está garantida a aterrissagem da inflação em 3%. Segundo, não há sinal, por ora, de qual será o Copom que baterá o martelo pelo primeiro corte da Selic desde maio de 2024.
Em 31 de dezembro, o comando do BC e, portanto, do colegiado, perderá dois integrantes remanescentes da gestão de Roberto Campos Neto por fim de mandato: Diogo Guillen, diretor de Política Econômica, e Renato Gomes, diretor de Organização do Sistema Financeiro e Resolução.
As duas diretorias são focadas em questões que impactam o mercado e a sociedade. Política Econômica é, em síntese, guardiã da meta de inflação e dos principais documentos elaborados pela instituição. A diretoria de Organização é guardiã de sistemas de pagamento como o Pix e responsável por autorizar a constituição e funcionamento de instituições financeiras e transferência de controle societário,, além de participar da regulamentação e alocação de recursos no crédito rural.
Para evitar desfalque na reunião do Copom de 27 e 28 de janeiro, o presidente Lula deveria indicar rapidamente substitutos a serem sabatinados e aprovados pela Comissão de Assuntos Econômicos do Senado e pelo Plenário. Embora esse ritual possa sem cumprido num mesmo dia, o calendário é ingrato porque, além da recheada pauta de projetos em análise, o Congresso inicia o recesso de fim de ano, em tese, em 23 de dezembro e retorna em 2 de fevereiro.
Os diretores que devem deixar o BC poderiam ter mandados renovados por mais quatro anos, como reza a lei de autonomia da instituição aprovada em 2021. Contudo, além da vontade pessoal, a renovação de passe depende do presidente da República, e parece improvável. Inclusive porque, a partir dessas duas indicações iminentes, o BC do terceiro mandato de Lula terá sido totalmente nomeado por ele.
O rodízio não sugere ingerência política, mas sem diretores herdados da gestão Bolsonaro a relação do BC com os três Poderes poderá ganhar nova configuração – a instituição estará fortalecida com o aval do Planalto a todo o comando. E, ao cumprir tão rígida meta de inflação, o BC ganhará prestígio porque preços sob controle vão trazer dividendos eleitorais a Lula em 2026.
Ajuste na comunicação?
A inflação, aliás, já está em marcha favorável ao governo. A Focus informa que as projeções recuam no curto e médio prazo. A variação para 2025 declinou a 4,56%, colando no teto da meta. Os prazos mais longos tiveram leve recuo – relevante pela tendência na esteira da divulgação do IPCA de setembro e do IPCA-15 de outubro. Ambos abaixo do esperado.
Mansueto Almeida, economista-chefe do BTG Pactual, reconhece que a inflação vem desacelerando de forma relativamente consistente desde o primeiro trimestre, tanto no núcleo mais amplo de serviços quanto nos serviços intensivos em trabalho. E a desaceleração da economia, avalia, deverá ajudar a reduzir ainda mais a inflação de serviços em 2026.
Dada a surpresa do IPCA de setembro, o BTG reduziu a projeção para a inflação de 2025 de 4,8% para 4,6% e manteve 4,2% para 2026, informa Almeida no relatório Brasil Visão Macro, de 17 de outubro. No documento, o economista antevia a possibilidade, anunciada no dia 20 pela Petrobras, de redução do preço da gasolina nas refinarias pela queda do petróleo no mercado internacional.
“A confirmação da desaceleração da atividade e a revisão do cenário de inflação para menos reforça nosso call de início do corte da taxa Selic em janeiro”, escreve Almeida para quem um ciclo de baixa em janeiro exige mudança de tom na comunicação do BC.
E que mudança seria? Retirar da comunicação o risco de aumento da taxa e a frase: “manutenção do nível corrente da taxa de juros por período bastante prolongado”, afirma o economista que vê chance elevada de, no início do ano, o modelo de estimação do BC indicar inflação na meta no horizonte relevante de política monetária e a desaceleração da economia estar ainda mais clara.
A despeito do comunicado do Copom, a Selic mais salgada em quase vinte anos deverá ser reprisada em 10 de dezembro na derradeira “superquarta” de 2025 – ocasião em que o BC do Brasil e o BC dos EUA anunciam decisões monetárias.
Ao contrário do BC do Brasil, o Fed já cortou sua taxa duas vezes neste ano. E pode partir para mais uma redução. Já o BC de Gabriel Galípolo continuará jogando “parado” – apenas por enquanto.
 
            
                                     
                         
                 
                                     
                                     
                                     
                                     
                                     
                                     
                                     
                                     
                                     
                                     
                                             
                         
                                             
                                             
                                            