Indicadores econômico-financeiros revelam que o Brasil em 2025 saiu melhor que a encomenda. 2026 é uma incógnita, mas pode ser uma grata surpresa, ainda que se confirme maior volatilidade e tensão – “antessala” da eleição presidencial. A variável positiva a assegurar otimismo aos investidores é a sinalização de um ajuste fiscal crível para o pós-eleição.

Embora em desaquecimento, em 2025 a economia poderá avançar 2,5% e, em 2026, até 2% contrariando prognósticos iniciais. Empurrão favorável pode vir de indicadores como risco-país que no ano, até 17 de dezembro, despencou 31,5% e o dólar quase 11% num cenário de inflação resistente, mas cadente, e abaixo do teto da meta. Em meados de 2027, o indicador deverá estar rondando 3,2% – bem próximo da meta central se o dólar não atrapalhar. O Banco Central (BC) vê 3% apenas em 2028.

Numa toada favorecida pelo mercado externo, todos os oito vencimentos de juros futuros negociados na B3, até 2035, recuaram ao nível de 13%, o Ibovespa disparou mais de 30%. E há consenso de que o pique da Bolsa não será contido. Entretanto, traz apreensão a grandes investidores a escalada da dívida federal. E a constatação é que as contas públicas deverão sofrer profundo rearranjo seja quem for o presidente.

Com o Congresso e o Executivo mergulhados na eleição, grandes mudanças dificilmente ocorrerão em 2026, inclusive, porque a equipe econômica estará em transe. O Ministério da Fazenda de Fernando Haddad entrará em “modo interino” com sua saída para colaborar com a campanha do presidente Lula. No Planejamento, a ministra Simone Tebet deverá deixar o cargo para concorrer ao Senado ou ao governo de São Paulo – destino ainda difuso que também poderá ser aplicado a Haddad.

Dois novos diretores se juntarão a outros sete no comando do Banco Central – todos indicados por Lula. Gabriel Galípolo será o único membro “efetivo” da equipe econômica, inclusive, porque o seu mandato transcende o atual governo e expira em 31 de dezembro de 2028, graças à autonomia do BC formalizada em Lei. E se hoje o BC já luta sozinho para levar a inflação à meta, em 2026, Galípolo poderá ter trabalho dobrado porque, apesar do espaço limitado, a expansão fiscal continuará atropelando a política monetária. Essa é a tônica do atual governo.

A soma dessas mudanças estrategicamente visíveis retrata a transição a que o País estará sujeito de 2026 para 2027 e que poderá elevar a instabilidade dos ativos financeiros expostos, primordialmente, à turbulência da campanha eleitoral a depender do candidato que a oposição vai escalar para enfrentar Lula – por ora vencedor no 1º e no 2º turno contra todos os “oponentes” de plantão.

O ano de 2026 será tenso, sim, mas não necessariamente negativo para o Brasil especialmente se os ventos do mercado internacional continuarem soprando a favor, como neste ano, a despeito do “tarifaço” de Donald Trump. “Tarifaço” que acabou eliminado para centenas de produtos brasileiros, mas segue em negociação que “subiu de andar” – com tratativas entre Trump e Lula. Um ganho evidente para o Brasil.

Crise na “vitrine”

Crucial para a economia, em 2025, foi o enfraquecimento do dólar no exterior que contaminou o real e ajudou a conter a inflação. O IPCA, que chegou a subir a 5,50% ao longo do ano, já rompeu o suporte de 5% e poderá até fechar o ano dentro da meta. Mas segue sob a mira cerrada do BC, como demonstrou a Ata do Copom e o Relatório de Política Monetária, tornando mais incerta a queda da Selic em janeiro. A ata afastou o risco de um BC complacente com inflação e reforçou a credibilidade da instituição.

Por ora, nada indica que, em 2026, o dólar será fortalecido no exterior. Pesa contra a moeda o ciclo de corte de juro pelo Federal Reserve que, em 2025, reduziu sua taxa três vezes. O Fed poderá cruzar os braços em janeiro, mas o ciclo será retomado. De maio para junho, a presidência da instituição muda de mãos e o sucessor de Jerome Powell será mais alinhado a Trump que, a exemplo de Lula, quer a queda do juro para que a economia engrene não só a primeira marcha.

Juro e dólar em queda, com ajuda externa e a despeito de volatilidade acentuada em 2026, poderão compor um dueto mais construtivo em 2027. Mas o desafio macro está posto: a política fiscal deverá ser redesenhada para conter a escalada da dívida.

“A deterioração das contas é evidente, pois a manutenção de déficits primários próximos a 1% do PIB levará a relação Dívida/PIB a 84%. Nesse cenário, nenhum alívio monetário altera nosso drama: o Brasil tem um encontro marcado com a restrição orçamentária em 2027”, avalia Alexandre Mathias, estrategista-chefe da Monte Bravo Corretora .

Ele entende que enquanto a eleição não entrar na fase de definição, juros baixos nos EUA e em queda no Brasil devem ditar o ritmo dos mercados.

“Assim, os próximos 10 meses ainda oferecem um respiro devido à liquidez global favorável, mas os preços dos ativos brasileiros dependerão da credibilidade do ajuste fiscal sinalizado pelo vencedor na eleição de 2026. Isso deixa o cenário binário e assimétrico”, observa.

O estrategista avalia que o Brasil está na antessala da dominância fiscal, o que pode ser constatado pelo cupom das NTN-B indexadas à inflação que pagam juro real próximo a 7%, patamar tecnicamente incompatível com a estabilidade da dívida pública no longo prazo.

Na Carta Mensal da Monte Bravo recém-divulgada, Mathias afirma que o próximo presidente herdará uma bomba fiscal. Cenário que vai requerer diagnóstico, vontade política e capacidade para articular um pacto entre os três Poderes para viabilizar superávits primários críveis e politicamente viáveis, escreve Mathias que alerta:

“Independente de ideologia, o eleito precisará buscar um ajuste antes que a dívida deflagre uma crise análoga à de 2014-2016 que patrocinou a maior recessão da história do País.”