“Você não contrata pelas competências, contrata pela postura. Competência sempre se pode aprender.” Esta frase de Herb Kelleher é perfeita para direcionar este artigo.

Se você quer ter as melhores pessoas no seu time, aprenda a vender significados, não a comprar competências. Traga os ambiciosos, pois a ambição é fundamental.

Só estes têm a sede da realização, do legado, da melhoria do mundo. Fique tranquilo, ambição não é ganância, ambição cria o futuro, ganância destrói.

Qual a sua ambição? Se a resposta traz algo de propósito, algo que tenha a ver com melhorar a vida de mais alguém, você vai ter seguidores.

Se a sua resposta traz sua realização em primeiro lugar, tipo ganhar dinheiro é o que mais o motiva, você vai ter muitas pessoas iguais a você, e aí vai curtir a pior forma de solidão, conviver com seus espelhos.

Separei dois pequenos casos de recrutamento para este artigo.

Eis o primeiro. Acho que todo mundo conhece a história do Endurance, a tentativa de Ernest Shackleton de explorar a Antártica. Do ponto de vista da exploração, a missão foi um fracasso total, mas passou para a humanidade uma das mais espetaculares odisseias de liderança.

Era novembro de 1915, quando o navio afundou esmagado pelo gelo, na Antártica, deixando Shackleton e seus 27 homens apenas com seus três pequenos botes salva-vidas. O “milagre” é que, após todos os martírios possíveis, após milhares de quilômetros e meses sem nenhuma condição segura, todos escaparam com vida.

Vale muito a pena conhecer esta história em detalhes, mas o que nunca aparece em destaque é o recrutamento. Os tripulantes da jornada foram chamados para um significado.

Shackleton não procurou os melhores, procurou os certos, os que combinavam com uma missão e um propósito

Shackleton não procurou os melhores, procurou os certos, os que combinavam com uma missão e um propósito. Sabemos disso ao ler o anúncio de recrutamento para a expedição, feito no jornal The Times, de Londres.

“Precisa-se de homens para uma jornada arriscada. Salários baixos, muito frio, longos meses no escuro total, perigo constante, retorno seguro duvidoso. Honra e reconhecimento em caso de sucesso.”

Isto é real! Os que se candidataram ao emprego não eram os melhores, eram os que se identificavam com a missão, com o significado. Eles eram sobreviventes desde o recrutamento.

Isso foi fundamental para que 28 homens conseguissem voltar juntos numa das piores condições de vida já enfrentadas. E Shackleton passou para a história como um líder que alcançou a glória, mostrando que realmente as pessoas são mais importantes do que o objetivo.

O segundo caso vem de Moby Dick. O capitão Ahab, ao reunir candidatos para caçar o terrível monstro dos mares, pergunta: “quem aqui tem medo de baleias?”. Quando alguns levantam a mão, ele prossegue: “os outros podem ir embora, pois não quero no meu barco alguém que não tenha medo de baleia.”

Este é o medo típico dos responsáveis, que combina com um propósito maior e não com a glória pessoal. Sempre é preciso recrutar os que combinam com a missão. Não ter medo de baleia combina mais com loucura ou negação. Quem você anda colocando no seu barco?

Sempre é preciso recrutar os que combinam com a missão. Não ter medo de baleia combina mais com loucura ou negação. Quem você anda colocando no seu barco?

Foram pessoas ambiciosas que inventaram o barco. Mas foi a invenção do barco que criou o naufrágio. A ambição é legitima, move o mundo, mas traz novos medos e requer sempre um novo jeito de cuidar. E isso é o lado mais bonito da liderança, cuidar.

E a melhor forma de cuidar é ter pessoas mais comprometidas e competentes do que você. Uma pequena lição, se você gerencia pessoas mais competentes do que você, você é mais competente do que elas.

Duas dicas de leitura que me inspiraram neste artigo: Comece pelo porquê, de Simon Sinek, e Endurance, de Caroline Alexander. Leia livros, isso eleva sua alma.

*Leonel Andrade é CEO da CVC Corp e foi CEO da Smiles, Credicard e Losango Financeira. Ele também é membro do Conselho de Administração da BR Distribuidora e da Lojas Marisa. Além disso, faz palestras sobre gestão de pessoas e negócios.

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