Inflação e juro compõem o binômio que dominará a cena externa nos próximos dias de anúncio de preços ao consumidor e decisões de política monetária nos EUA e na Zona do Euro.
O Federal Reserve (Fed) deve frear a alta de suas taxas. O Banco Central Europeu (BCE) deve seguir adiante. No Brasil, juro será discutido em 21 de junho. Por ora, aqui o cardápio é outro.
Indicadores de atividade poderão reforçar a percepção de que a economia surpreenderá positivamente em 2023.
O “tira-teima” virá de vendas no varejo e do Índice de Atividade do Banco Central (IBC-Br), ambos de abril. Os dados de março superaram o previsto e alavancaram melhores projeções para o PIB do ano.
A atualização de abril – para o varejo na quarta-feira, 14 de junho, e para o IBC-Br na sexta, 16 de junho – ajudará a calibrar o cenário que, neste momento, é de expansão mais forte do crescimento.
As estimativas revistas em massa, após o resultado do PIB do 1º trimestre, esticaram a algo entre 2% e 2,5% - um alento e tanto. Na leitura da Focus em janeiro, o Brasil teria de se contentar com um avanço anêmico de 0,75%.
As revisões prosseguem e com o suporte de organismos internacionais que marcaram presença na terça-feira, 6 de junho, com novas perspectivas para o PIB global e brasileiro.
O Banco Mundial elevou de 0,8% para 1,2% seu prognóstico para o país e a expectativa da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) passou de 1% para 1,7%. Para o PIB global, as duas instituições esperam, respectivamente, expansão de 2,1% e 2,7%.
Na Zona do Euro, a economia recuou 0,1% no 1º trimestre ante o anterior já negativo, anunciou a Eurostat, na quinta-feira, 8 de junho. Portanto, o bloco entrou em leve recessão técnica.
Perspectiva favorável
No geral, porém, as perspectivas de crescimento tornam-se lentamente mais favoráveis. O risco de uma recessão súbita e coletiva em função do aumento de juros pelos bancos centrais, há poucos meses dada como iminente, subiu no telhado.
Mas as consequências do aperto ainda não saíram da agenda. E o Banco Mundial e a OCDE alertam para um estresse potencial nos mercados em decorrência da forte elevação dos juros que, há pouco mais de um ano, estavam em níveis negativos (ou quase) nas principais economias.
As instituições multilaterais lembram que mensagem clara sobre a repercussão dos pesados ajustes monetários sobre as carteiras dos bancos foi dada pela quebra do Sillicon Valley Bank e o Signature neste ano.
Em contraponto, a esperada desinflação em curso não é obra do acaso. “É sinal de que a política monetária está funcionando”, avaliou Gino Olivares, professor do Insper e economista-chefe da Azimut Brasil Wealth Management, à Coluna.
O arrefecimento dos preços poderá ser registrado pelo Fed e pelo BCE, respectivamente, na quarta e na quinta-feira, 14 e 15 de junho, quando a dupla anuncia suas próximas taxas básicas.
Depois de idas e vindas nos últimos meses e de superar o conflito de subir o juro e conter a inflação ou preservar o crescimento, o BC americano deve interromper a alta de sua taxa na reunião do dia 14, quando o mercado global estará focado nas projeções macroeconômicas divulgadas pela instituição.
“O Fed já sinalizou que, desta vez, não decidirá nada sobre juro. Mas as projeções dirão o que virá a seguir. Nova alta pode ocorrer em julho. E o mercado já aposta nisso. De todo modo, estamos perto do fim do ciclo. E é ilusório acreditar que vai haver rapidamente um corte”, observa o professor.
Olivares explica que a alta das taxas básicas pelos BCs é seguida de um período de manutenção do nível alcançado – frequentemente por três trimestres – para, em seguida, começar o ciclo de queda, a depender do conforto das autoridades monetárias com a inflação.
O aperto do País
O Brasil, que iniciou o aperto bem mais cedo que seus pares, os maiores do planeta, está mais perto do corte que o mercado já vê em agosto ou setembro.
E o posicionamento do Conselho Monetário Nacional (CMN) sobre a meta de inflação ou mudança do regime, que deve ser discutida na reunião de 29 de junho, entra nesta conta. A depender da decisão do Conselho, expectativas podem ser alteradas e colocar o BC de Campos Neto na defensiva.
“O IPCA de maio, de 0,23% e 3,94% em 12 meses, divulgado na quarta-feira, 7 de junho, bem abaixo do esperado é boa notícia e confirma informações latentes”, diz o economista.
“Os preços no atacado em forte queda, o câmbio comportado e a demanda reduzindo contratam a desinflação”, cita Olivares que chama atenção para o fato de a queda da inflação de bens estar chegando aos serviços. Esse encontro afetará a inflação ‘cheia’. E esse é o dado que afeta expectativas.”
A convergência da inflação para a meta está em curso, mas a duras penas. Nos EUA e Europa, a inflação está bem acima das metas idênticas a 2%.
O bloco europeu está mais atrasado no ajuste iniciado há menos tempo e com a inflação muito elevada cenário – cenário em que o aumento de taxa pelo BCE é dado como certo, na quinta-feira, 15.
Na Zona do Euro, que ainda tem a guerra da Ucrânia no calcanhar, o juro começou a subir em junho de 2022. A inflação ainda superava 10% em outubro e novembro, mas recuou a 7% em abril deste ano. Um novo declínio – agora do indicador de maio – é aguardado para a quinta-feira, 15 de junho.
Nos EUA, onde o juro começou a subir em março de 2022, a inflação tombou do pico de 9,1% três meses depois e, em abril deste ano, já havia recuado a 4,9%. Na terça, 13 de junho, o dado de maio poderá encostar em 4,1%, estimam analistas.
A inflação, mesmo em queda, está distante das metas e desafia os bancos centrais ao descumprimento de um regime hoje questionado
O Brasil iniciou o ciclo de aperto monetário há mais de dois anos, após a Selic ter sido instalada em inéditos 2%, patamar em que permaneceu meses e produziu um juro real tão negativo que levou a um aumento de risco e à desordem das aplicações financeiras.
Em março de 2021, o Copom começou a elevar a Selic. A taxa aterrissou em 13,75% em agosto de 2022 e sem sinal de reversão.
A exemplo do que ocorreu nas grandes economias, a inflação brasileira, que atingiu 12,13% em 12 meses em abril de 2022, cravou 3,94% em maio deste ano, na mesma base de comparação.
Em todos os casos, a inflação, mesmo em queda, está distante das metas e desafia os bancos centrais ao descumprimento de um regime hoje questionado, a empurrar economias à desaceleração ou perder a própria credibilidade em busca de resultados irreais. Não há escolha fácil.