Começaram as campanhas eleitorais e o Brasil está diante de um processo peculiar. A discussão sobre a defesa e a consolidação da democracia tornou-se prioritária, mas deveríamos estar debatendo projetos para o país que queremos já e no futuro. As empresas têm papel importante nesse debate.
Por esse motivo, o Instituto Ethos acaba de lançar o Guia de Responsabilidade Social das Empresas no Processo Eleitoral 2022. A iniciativa privada não só pode como deve participar das eleições. O Ato pela Democracia realizado no dia 11 de agosto em diversos locais do país mobilizou a sociedade civil, entidades e instituições, e foi um passo importante e histórico.
Setores empresariais se fizeram representar por meio de associações, como a Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), a Federação Brasileira de Bancos (Febraban), ABIOVE e outras, que aderiram à carta “Pela Democracia e Pela Justiça”.
A atuação da iniciativa privada em uma ação transversal, de interesse público e em diálogo com trabalhadores e sociedade civil é necessária para impulsionar o crescimento do país e é praticar efetivamente a responsabilidade social empresarial nas dimensões ASG (Ambiental, Social e Governança).
As empresas e suas lideranças têm responsabilidades para assumir seu papel de agentes de mobilização social, com apoio a atos pacíficos em defesa da democracia, da justiça e das eleições coordenadas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Em pesquisa recente realizada pelo Instituto Ethos, verificamos que 90% das empresas que
responderam ao questionário acreditam na importância da responsabilidade social das empresas no processo eleitoral, mas o mesmo percentual enxerga riscos reputacionais no envolvimento com o tema e 85% não dispõem de uma política interna exclusiva para tratar do assunto. São desafios que precisam de solução.
O Brasil vive um período de tensionamento das relações políticas e este cenário, ao mesmo tempo que amplia o envolvimento de parcelas da sociedade, também leva outros contingentes à apatia política devido ao alto nível de beligerância. É necessário, porém, promover um, debate saudável para uma reflexão sobre os caminhos aspirados para o país.
O papel das empresas é fundamental. Tem o sentido de apoiar causas que fomentam uma sociedade mais justa e sustentável, alinhadas a projetos perenes como, por exemplo, a agenda 2030, os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) e a própria
agenda ASG.
Para haver coerência, cabe à empresa defender causas políticas relacionadas à sustentabilidade de seu empreendedorismo, do seu negócio e da sua responsabilidade social. Por exemplo, assumir compromissos com agendas transversais ou ações coletivas relacionadas a políticas públicas para reduzir as desigualdades de gênero e raciais, iniciativas contra o desmatamento, ações de combate ao trabalho análogo à escravidão, agenda climática com redução de emissão de carbono.
Ou, ainda, projetos locais, com apoio e investimentos em determinados setores da economia ou regiões e territórios. Estamos vivendo o mais longo período da democracia do país e nestes 33 anos a sociedade brasileira avançou em diversos aspectos.
O aperfeiçoamento da democracia é uma tarefa constante e há muito o que se fazer neste campo ainda, como o fortalecimento de outras formas de participação social e a ampliação nos cargos de poder de mulheres, população negra, indígena e LGBTQIAP+, dando voz à diversidade do Brasil.
Neste sentido, as empresas têm papel fundamental ao assumir suas responsabilidades no campo social, democrático e dos direitos humanos. Queremos construir um projeto de país em que toda sociedade esteja envolvida e que a prioridade seja a atuação no combate a todas as desigualdades, construindo uma democracia participativa que garanta
a vida, que erradique a fome e que implemente políticas públicas para o desenvolvimento sustentável.
*Caio Magri é diretor presidente do Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social