BUENOS AIRES - Para o mundo, até pouco tempo atrás, a gastronomia da capital argentina era sinônimo de parilla, doce de leite e vinho. Nos últimos anos, porém, a cidade passou a ser reconhecida também por sua mixologia.
Com três bares entre os 30 melhores do planeta, na última edição do 50Best Bars, os coquetéis portenhos atraem uma legião cada vez maior de turistas estrangeiros.
"Como bartenders na Argentina sempre tivemos que ser criativos e superar dificuldades”, conta ao NeoFeed Charly Aguinski, um dos criadores do Tres Monos. Localizado em Palermo, o bar fundado por ele e os amigos Sebastián Atienza e Gus Vocke é considerado o melhor da Argentina e está na 11ª colocação na lista do 50Best.
Tem mais prêmio. A casa foi a primeira da América do Sul a levar o Michter's Art of Hospitality Award, condecoração para o melhor serviço de bar do mundo. “Pouco a pouco, Buenos Aires está se convertendo em uma capital da mixologia", diz Aguinski.
E, no novo cenário, há bar e drinks para todos os gostos e estilos. Do Tres Monos, com sua pegada meio punk, ao discreto Pony Line, no hotel Four Seasons Buenos Aires, ou ao suntuoso Presidente, com seus lustres imponentes à la Grande Gatsby.
Indiscutivelmente, Buenos Aires vive uma espécie de "era de ouro" da mixologia.
A consolidação da cidade no universo etílico global não aconteceu de uma hora para outra, diz a bartender Mona Gallosi, proprietária do Punto Mona, ao NeoFeed. “Esse movimento é fruto de um longo trabalho”, defende a empresária.
De dez anos para cá, uma nova geração de mixologistas, altamente criativos, começou a abrir seus próprios negócios. O precursor dessa guinada foi Renato "Tato" Giovannoni, com seu Florería Atlántico.
No ano passado, o empresário levou o prêmio Roku Industry Icon, do The World’s 50 Best Bars, destinado às personalidades mais influentes do universo dos etílicos.
“Ver o meu país e a América Latina se tornarem parte importante da comunidade global da coquetelaria é um sonho que se tornou realidade", disse, ao agradecer o título.
Floricultura de dia e bar de noite, o Florería Atlántico foi eleito oito vezes o melhor bar da América do Sul. Localizada no bairro do Retiro, a casa se tornou parada obrigatória para os turistas em visita pela cidade.
Seu drink Valcheta (brandy, ayran, tâmaras, maçã e anis), uma homenagem à comunidade sírio-libanesa estabelecida na Patagônia, até hoje arrebata fãs das mais diversas nacionalidades.
A força feminina
Tato fez escola em Buenos Aires, com amigos e ex-parceiros de balcão seguindo seus passos. Um ótimo exemplo é o bar Cochinchina, criado em 2021, pela bartender e sommelier Inés de los Santos, 26º no rol do 50Best 2023.
"Eu queria muito entrar na lista porque sei o que fazemos", conta a proprietária. "É também muito significativo que, atrás deste prêmio, esteja uma mulher. Somos cada vez mais, mas ainda faltam muitas neste ranking."
No cardápio franco-asiático da casa, ela faz questão de valorizar também o patrimônio argentino. Os coquetéis criados por Inés e sua equipe têm nomes bem humorados, como La Vida que me Merezco (tequila, cordial de ananá e baunilha) ou Te Fuiste al Pasto (suco de broto de trigo, suco de uva verde, espumante brut e sal de capim limão).
O Spritz de Pomelo e Lavanda (aperol, cordial de pomelo, lavanda e espumante) é o campeão de pedidos nas noites mais quentes, e o Negroni Ti Amo (gin, bitter, vermute infusionado com café e licor Strega) já se tornou um clássico.
Outra voz feminina de peso é a bartender Mona Gallosi. Em 2022, ela abriu o Punto Mona. Inspirado em Nova York, a estética é cosmopolita e a vibe, glamourosa.
Além da carta de coquetéis criada por Mona, a casa oferece uma uma culinária de valorização dos ingredientes locais e regionais.
“Novos bares de autor abrirão e esta cultura seguirá aumentando, tanto por parte da exigência dos clientes como da qualidade do produto que servimos", diz Mona.
Shots de boas-vindas
A qualidade da mixologia portenha está indo além dos balcões dos bares e frutificando novos negócios.
Os sócios do Tres Monos, por exemplo, abriram um estúdio para workshops sobre mixologia e uma consultoria, além de um projeto social.
Com marcas próprias de sidra, gin e uísque, hoje, eles fabricam boa parte do álcool servido na casa.
Já eleito o melhor bartender do mundo, Tato, que vive parte do tempo no Rio de Janeiro, foi um do primeiros a se aventurar na produção de bebidas.
Além de vermutes e tônicas, lançou os gins Apóstoles, argentino, e Amázzoni, brasileiro.
A efervescência dos bares portenhos está sintetizada no badalado Tres Monos. Ambiente escuro, paredes cobertas por grafites e música alta, ficou famoso pelos shots de boas-vindas distribuídos pelos bartenders ao longo da noite.
O cardápio sazonal é bastante enxuto; mas os clássicos de outras estações estão sempre entre os coquetéis mais pedidos, como o Milkcillin, uma versão clarificada do clássico Penicillin que leva também whisky defumado.
O melhor lugar para degustá-lo? Definitivamente no balcão do bar, um dos mais animados de Buenos Aires.