Numa das regiões que mais atrai turistas na Amazônia, Alter do Chão, no Pará, os sócios Ruy Tone, Martin Frankenberg e Maria Teresa Meinberg acabam de lançar a Kaiara, uma empresa de navegação "comprometida com a preservação" e com o envolvimento das comunidades locais.
Navegar é a melhor maneira de conhecer a Amazônia, acredita Tone, que também é armador e opera com navegação há 20 anos, sempre pela Amazônia, mas começou no rio Negro, no estado do Amazonas. Agora, resolveu se concentrar no Tapajós.
“No Tapajós, as comunidades ribeirinhas já estão mais preparadas para o turismo do que no rio Negro", diz Tone ao NeoFeed. "Temos trilhas abertas e comunidades indígenas que explicam ao visitante como produzem o artesanato."
O empresário tem negócios múltiplos além da construtora Tone, que herdou da família e da qual é sócio-diretor. Há 22 anos ele se lançou no turismo. Em Manaus, por exemplo, é dono do restaurante Caxiri e da Casa Teatro Boutique Hotel.
Em Novo Airão, Tone tem o Flor do Luar, restaurante flutuante dentro do Parque Nacional de Anavilhanas, e é também proprietário do restaurante Camu Camu, que fica no hotel Mirante do Gavião Lodge, muito frequentado por estrangeiros.
Além disso, Tone criou três operadoras turísticas: a Mundus Travel, especializada em destinos exóticos e alternativos, a Expedição Katerre Ecoturismo, de navegação fluvial pelo rio Negro, e a Turismo Consciente, na qual era sócio de Maria Teresa.
A nova empresa surge com uma proposta de dedicação exclusiva à navegação. Para isso, ele acaba de investir R$ 2 milhões em embarcações.
Frankenberg, seu sócio, é conhecedor da Amazônia, foi presidente da BLTA – Brazilian Luxury Travel Association e sócio-fundador da Matueté, onde desenvolveu muitos roteiros na região e sabe exatamente como atrair turistas de alta renda. Para ele, o projeto é uma missão pessoal com o objetivo de “amazonizar” o Brasil.
Levar gente para conhecer a região, para ele, é uma forma de despertar a consciência através do conhecimento. “Se você perguntar para um brasileiro médio do Sudeste, muitas vezes ele não sabe dizer o nome de três rios da Amazônia”, afirma Frankenberg.
Tone conta que conheceu projetos de preservação muito bem-sucedidos na África, em Moçambique, que o levaram a entender as comunidades locais e o papel que o turismo pode ter para melhorar a vida das pessoas de uma forma menos invasiva e predatória.
“Nos nossos barcos, há um conforto rústico, sem lençóis de centenas de fios, para lembrar que estamos indo visitar comunidades simples, em casas de madeira. É um projeto para pessoas diferentes das que procuram viajar para Miami ou Paris”, diz Tone.
A Kaiara vai navegar com três barcos pelos rios Amazonas, Tapajós e Arapiuns. Com isso, o visitante poderá ver a diferença entre as águas negras, verdes e barrentas, cores presentes na bacia Amazônica. A frota fará diferentes percursos em períodos que podem variar de três a cinco noites a bordo.
A expectativa é que o fretamento por grupos de amigos, famílias ou empresas, que querem reunir o corpo de executivos, domine o movimento. Uma reserva para um casamento com 48 convidados, em dezembro, para o qual já foram fretados os três barcos que navegarão juntos, abre esse novo segmento.
Há três tamanhos de embarcação: a de cinco cabines, para 10 pessoas, custa R$ 62 mil, de 8 cabines para 16 sai por R$ 121 mil e a de 11 cabines, que comporta 22 passageiros, tem preço de R$ 214 mil.
Todas as cabines são suítes e sempre há uma a mais nos barcos que fica disponível para a tripulação. Os preços contemplam viagens de três noites e quatro dias, com tudo incluído: translado do aeroporto, passeios, comida e bebida alcoólica limitada a drinques e cerveja.
Uma adega pode ser montada sob demanda, assim como vários outros modelos podem ser desenvolvidos sob medida, como cardápios, passeios especiais e trilhas na Floresta Nacional do Tapajós. Os barcos servem comida regional e não possuem chef exatamente para dar uma imersão nos ingredientes e no modo de preparo da gastronomia local.
O caminho natural do turismo no Brasil, até por limitações financeiras da população, é apostar na massificação e no preço baixo. A Kaiara vai no sentido contrário. Investe no alto padrão, com produtos artesanais conectados à realidade e ao modo de vida local. “Não vamos levar ninguém para lá para fazer balada. Nosso trabalho tem um propósito cultural e uma preocupação ambiental”, diz Frankenberg.
O brasileiro, na opinião de Tone, ainda tem mania de depreciar o que possui e se queixa de pagar "caro" por um vinho francês em plena Amazônia, desconsiderando o custo de transporte e logística envolvidos no trajeto. Por isso, muitas vezes compara os custos e considera esse tipo de viagem dispendiosa diante de uma ida ao exterior. Mas isso tem mudado. “A elite agora está indo para lá. E o resto vai atrás”, diz.