LONDRES - Não se trata apenas de expandir o imaginário do terror sobrenatural de Stranger Things, um dos maiores hits da Netflix. A própria plataforma de streaming e os criadores da série, os irmãos gêmeos Matt e Ross Duffer, levam agora aos palcos a trama que resgata o espírito das produções de ficção científica dos anos 1980.

Como a quinta e derradeira temporada só começou a ser rodada em janeiro (com grande atraso, devido à greve dos roteiristas e dos atores americanos), a história continua a ser contada, desde dezembro, na West End de Londres. Apesar de ter estreado primeiro na Inglaterra, o espetáculo deve passar pela Broadway nova-iorquina, até o fim de 2024.

A chegada ao teatro apenas comprova o "fenômeno Stranger Things". Só a quarta temporada, lançada em 2022, somou 140,7 milhões de visualizações ao redor do mundo. Atualmente, ocupa o segundo lugar no ranking geral da plataforma de streaming, de programa de TV mais popular falado em inglês. Só perde para a primeira temporada de Wednesday, com 252,1 milhões de visualizações, em 2022.

O sucesso explica os desdobramentos da série, que também vai ganhar um spin-off em animação, explorando novos mistérios do universo de Stranger Things.

Tanto a animação, ainda em desenvolvimento, quanto a peça são assinadas pela Upside Down Pictures, produtora dos irmãos Duffer, fundada em 2020. O nome da empresas faz referência ao Mundo Invertido.

Na história, o Upside Down é uma realidade paralela, uma espécie de versão obscura daquela em que os personagens vivem. Ambientada nos anos 1980, na fictícia cidade de Hawkins, nos Estados Unidos, a trama teve início com o sumiço de um garoto, evento conectado com experimentos sinistros conduzidos secretamente pelo governo no local.

Além do audiovisual

A quarta temporada de Stranger Things tem um saldo de 1,8 bilhão de horas assistidas, apenas nos primeiros 91 dias. A influência da série vai além do audiovisual. Desde a estreia do programa em 2016, já foram lançados livros, comic books, jogos de mesa, videogames, experiências em realidade virtual, podcasts e brinquedos.

A série até inspirou uma paródia nos Simpsons e ganhou lojas oficiais, com produtos exclusivos sobre Hawkins e o Mundo Invertido – incluindo uma em São Paulo, no shopping JK Iguatemi.

Só o fato de Stranger Things chegar aos palcos, um espaço onde poucas produções para a televisão costumam ganhar desdobramentos, já dá uma ideia de quanto a Netflix e os irmãos Duffer apostam na marca.

São realmente poucos os casos de séries transformadas em espetáculos teatrais, como The Twilight Zone, que estreou na televisão em 1959 e, desde os anos 1990, inspirou produções nos palcos. Outro exemplo é o de Thunderbirds, que chegou à tevê em 1964, e, na década de 1980, ganhou um show ao vivo de marionetes.

Nos palcos, a trama, batizada de Stranger Things: The First Shadow, conta com a direção de Stephen Daldry, mais conhecido pelo filme Billy Elliot, de 2000. São basicamente os fãs da série que lotam o Phoenix Theatre, como capacidade para mais de mil pessoas.

A última temporada a ser exibida na Netflix focou no monstro Vecna (Foto: Steve Dietl/Netflix)

Com cerca de três horas de duração, as apresentações acontecem de terça a domingo e os ingressos sempre esgotam. Na noite em que o NeoFeed acompanhou a peça, a plateia era composta sobretudo por adolescentes e jovens – um público pouco usual na West End londrina.

Para não interferir no andamento dos próximos episódios, ainda sem data para estrear, a peça volta no tempo. Os irmãos Duffer escolheram os escritores do espetáculo - Kate Trefry, uma das roteiristas da série, e Jack Thorne, autor da peça Harry Potter e a Criança Amaldiçoada.

Gritos de horror

Como a última temporada focou no personagem Henry Creel, o homem antes de virar o monstro Vecna, a história no palco resgata a sua infância, na década de 1950, quando ele se muda com a família para Hawkins.

É uma espécie de prelúdio (ou prequel) para entender como Creel, interpretado por Louis McCartney, desenvolveu seus poderes sobrenaturais e quando ele começou a usá-los para o mal.

Como muitos episódios da série se desenrolam na escuridão dos bosques de Hawkins, nos laboratórios assustadores e nos sótãos das casas dos moradores, a peça consegue reproduzir perfeitamente não só os cenários, mas também a atmosfera sombria de Stranger Things.

E os efeitos especiais envolvem ainda mais a plateia. Principalmente quando Creel, como já revelado na quarta temporada da série, mata toda a sua família. Nesse momento, o teatro é tomado até por gritos de horror.