Filha da cantora Lisa Marie, a herdeira do Rei do Rock, a atriz Riley Keough sente que saiu da sombra da família, ao lançar seu primeiro filme como diretora no Festival de Cannes, onde ainda prestigiou e aprovou a cinebiografia do avô, “Elvis”, com estreia no Brasil em 14 de julho.
A californiana Riley Keough reconhece a influência de Elvis Presley em sua trajetória artística. Atriz do filme “Mad Max: Estrada da Fúria” (2015) e da série “The Girlfriend Experience” (2016), ela é produtora e, agora, também diretora. “Não sei se a memória de quem o meu avô foi me moldou. Mas talvez exista algo no meu DNA”, contou a neta do Rei do Rock.
Aos 33 anos, Riley prova que tem brilho próprio no cinema – onde o avô marcou uma geração, aparecendo em mais de 30 filmes, como “Ama-me com Ternura” (1956) e “O Prisioneiro do Rock” (1957). “Na realidade, toda a minha história familiar moldou a artista que sou hoje”, disse Riley, filha da cantora Lisa Marie Presley e neta da atriz Priscilla Presley.
Depois de mostrar talento como atriz, escolhendo sobretudo personagens ousadas, Riley assina o primeiro filme como diretora – em parceria com Gina Gammell. Ainda sem data para estrear no Brasil, “War Pony” teve première mundial na recente 75ª edição do Festival de Cinema de Cannes.
Selecionado para a mostra Un Certain Regard, o drama que captura com sensibilidade e realismo o cotidiano dos jovens na reserva indígena Pine Ridge de Dakota do Sul, nos EUA, saiu da França premiado. Levou o troféu Caméra d’Or, entregue anualmente a um cineasta estreante que participa da seleção oficial.
“Eu já queria dirigir antes mesmo de me tornar atriz. A oportunidade de atuar só apareceu antes”, afirmou Riley, em encontro com a imprensa em Cannes, do qual o NeoFeed participou. Ela esteve na Riviera Francesa não só para promover o seu filme como para prestigiar a sessão de gala de “Elvis”, cinebiografia sobre o avô assinada pelo australiano Baz Luhrmann.
“Baz conversou muito com todos nós. Desde o início, minha família esteve envolvida no projeto no sentido de dar acesso a tudo, inclusive à Graceland”, disse, referindo-se à famosa mansão de Elvis Presley, em Memphis. “Fornecemos todos os recursos necessários.”
Com lançamento agendado para 14 de julho nos cinemas, o drama musical revisita a carreira de Presley a partir do olhar de seu empresário, o coronel Tom Parker (vivido por Tom Hanks). Ele teria agido como uma espécie de tirano, defendendo sempre os próprios interesses financeiros e não os do cliente, muitas vezes forçado a muitas apresentações, o que teria afetado o astro psicologicamente.
Como insinua a cinebiografia, onde Presley é interpretado por Austin Butler, a conduta dura de Parker explicaria, de certa forma, a dependência de remédios do cantor. E isso poderia ter contribuído com a sua morte, vítima de arritmia cardíaca aos 42 anos, em 1977.
“Foi uma experiência muito intensa ver o filme. Há muito trauma familiar e um trauma de gerações que começou naquele momento para a nossa família”, contou Riley. Ela provavelmente se refere ao vício de Lisa Marie por analgésicos e opioides, um problema que veio à tona durante o seu processo de divórcio de Michael Lockwood, o quarto marido da cantora, em 2018.
“Comecei a chorar cinco minutos depois que o filme começou. E não parei mais. Eu vi ‘Elvis’ com a minha mãe, minha avó, minhas irmãs e meu pai”, disse Riley, filha do músico Danny Keough, o primeiro marido de Lisa Marie.
Embora tenha Presley no nome de batismo (Danielle Riley Presley Keough), ela preferiu usar apenas Keough no mundo artístico. Provavelmente para amenizar o peso que sentia, no início da carreira, de ser descendente do que se costuma chamar de realeza de Hollywood.
“Quando entrei nesse negócio, tinha uma impressão de que as pessoas pensavam em nepotismo, duvidando do que eu pudesse realmente fazer. Por ser sensível, isso me deixava muito nervosa. Era como se eu me desculpasse por estar lá, fazendo um teste. Mas isso pode ter sido apenas a minha interpretação do que acontecia”, contou Riley.
Ela reconhece que a família a ajudou de muitas maneiras a ingressar no showbiz, como atriz.
“Tive mais recursos. Consegui um agente com mais facilidade do que as outras pessoas. Mas, no final das contas, você precisa conseguir interpretar. E havia mais pressão sobre mim nesse sentido.”
E hoje? Será que ela sente já ter saído da sombra do avô, que ainda é um mito? “Por natureza, há uma separação, por eu não ter seguido carreira na música. Para a minha mãe, é mais difícil, por ela ser comparada como cantora. No meu caso, ainda há um nível a mais de separação, por termos mais separação geracional”, afirmou Riley.
Com mais um projeto como diretora em andamento (“sobre ganância, luxúria e relacionamentos”), Riley espera ver uma representação maior de mulheres cineastas na indústria do entretenimento, em um futuro próximo. “Por ter uma produtora (Felix Culpa, aberta em 2017), percebo que os diretores homens recebem mais dinheiro pelo primeiro filme do que as mulheres na mesma posição.”
Mesmo sem revelar quanto “War Pony” custou, Riley disse que encontrou dificuldades para viabilizar o projeto, apesar do seu orçamento baixo – para os padrões de Hollywood. E isso levando em conta que todos sabem quem ela é, antes mesmo de Riley entrar em uma reunião com investidores. Seja por sua família ou pelo trabalho que ela já fez.
“Isso me faz pensar em quantas mulheres conseguem financiar seus filmes para ter a visibilidade que tive em Cannes. Se eu tenho problemas, o que acontece com uma diretora que não tem uma carreira prévia como atriz e nem os contatos que tenho?”, perguntou Riley, pouco antes de encerrar o encontro.