"Quando meu avô fez o livro (A Menina Nina), ele me ensinou a ressignificar a partida, a cuidar da nossa memória e dos nossos melhores momentos. A encarar a dor de frente (não tem uma vez que eu não transborde lendo ele...), mas lembrar que meu avô está sempre comigo, que as pessoas que eu amo estão comigo.

Assim como ela sempre vai estar, mesmo que não fisicamente. E, ainda mais que isso, ele permitiu que a nossa história pudesse ajudar muitas outras Ninas e suas famílias a passarem por momentos difíceis como esse.

Sou a primeira neta do meu vô, a mais velha de sete netos. E tive exclusividade durante alguns anos antes da minha prima Alice nascer e o resto da trupe chegar. Durante esse tempo, aproveitei muito ele e principalmente minha vó. Quando ela dormiu pra sempre, eu ainda era pequena, tinha 7 anos.

Nunca tinha perdido ninguém. No dia, foi ele quem me deu a notícia. E para além disso, foi ele quem me fez entender o tamanho e a importância do que a gente viveu antes de ela ir e o quanto ela está e sempre estará presente em cada passo que eu dou.

-- Leia sobre a celebração dos 90 anos de Ziraldo

Para além do A Menina Nina, a obra dele tem esse poder de fazer parte e de poder transformar a vida das pessoas. De marcar momentos, de ser um lugar de reflexão, identificação, segurança, movimento e de muito aprendizado.

A Menina Nina foi lançado em 2002, teve 30 reimpressões  e vendeu 130 mil exemplares

Que tem o poder de acompanhar e marcar gerações, com um olhar muito atento, atual e à frente do tempo. Como Pererê, O Menino Maluquinho, Flicts, O Pasquim, O Menino Marrom e tantos outros trabalhos. Creio que acabo sendo reflexo de um pouco disso tudo e de uma admiração imensa. Dessa vontade de ir além.

Fiz faculdade de design no Rio de Janeiro e durante esse tempo morei com meu vô e tive a honra e privilégio de ver ele trabalhar de perto, de dividir a rapa de arroz, de ouvir suas histórias, de acompanhar seus processos e até dividir com ele seu estúdio madrugada adentro.

Ele ilustrando e escrevendo os próximos livros e eu fazendo meus trabalhos de faculdade. Vez ou outra dividíamos um pouco do que cada um estava fazendo, ele me mostrando os desenhos do próximo livro e eu pedindo ajuda com as entregas da aula de aquarela (ele é o mestre delas).

Poder vê-lo trabalhar, criar e produzir e ainda aproveitar esse vô de perto foram e sempre vão ser as melhores partes disso tudo. Mas o mais lindo é saber que muitas outras pessoas também conseguem ter acesso a esse cabeça branca e esse universo todo através das suas obras."