Três talentos musicais seriam os responsáveis por “Thriller” (1982), até hoje o álbum mais vendido de todos os tempos, com estimadas 70 milhões de cópias. O crédito sempre vai para Michael Jackson e o produtor Quincy Jones, mas o sucesso possivelmente não teria sido tão estrondoso sem a participação do engenheiro de som Bruce Swedien.

Essa é a ideia defendida pelo diretor Marcos Cabotá no documentário “Sonic Fantasy”, uma das atrações deste sábado, 17 de junho, do In-Edit Brasil, Festival Internacional do Documentário Musical, em São Paulo. “Fantasia Sônica”, na tradução literal, o filme é uma homenagem a Swedien, apontados por muitos como um dos maiores engenheiros de som da história da música.

Morto aos 86 anos, em 2020, durante a filmagem do documentário, o próprio Swedien conta um pouco da sua trajetória no filme com exibição às 17 horas na Cinemateca Brasileira, em São Paulo. Sua reapresentação será no domingo, 26 de junho, às 17 horas, no Cine Cortina, também na capital paulista.

Antes de mergulhar nos bastidores da gravação do álbum, lançado globalmente em 30 de novembro de 1982, o documentário resgata a cena musical desoladora da Los Angeles no início daquela década. As gravadoras estavam em apuros naquele período, perdendo espaço para o videogame na preferência dos jovens. A venda de discos estava em queda livre.

“Quando entramos pela primeira vez no Westlake Recording Studios (onde o álbum foi gravado), Quincy olhou para nós e disse: Estamos aqui para salvar a indústria fonográfica”, recorda Swedien, no filme.

Com um orçamento de US$ 750 mil, consumido ao longo de oito meses, “Thriller” não só cumpriu o prometido como revolucionou a indústria da música. O disco se tornou um marco de inovação que acabou apontando o caminho para a música pop, que veio depois.

Para corresponder ao que Michael Jackson almejava (um disco onde “toda faixa fosse um hit”), o trabalho é uma alquimia de rhythm and blues, pós-disco, funk, soul, rock e pop. São canções cheias de alma e carregadas de energia que atingiram uma sonoridade mais potente, usando o que havia de mais moderno em termos de instrumentação.

“Thriller” acabou levando oito prêmios Grammy, incluindo o de álbum do ano. Ao se tornar um fenômeno mundial, ele ainda deu sobrevida aos álbuns no mercado, em momento em que o setor era dominado por singles. Em termos do que ainda poderia ser feito na indústria, o disco elevou o padrão para os cantores, compositores, produtores e executivos de gravadoras.

O diretor Marcos Cabotá e o engenheiro de som Bruce Swedien

O mesmo acabou aumentando a exigência de profissionais como dançarinos e coreógrafos – já que “Thriller” mudou o conceito de promoção de discos, recorrendo à estratégia do videoclipe. Isso mesmo antes do estouro da MTV, canal que tinha sido inaugurado em agosto de 1981 e ainda era um experimento.

Da mesma forma, o álbum impôs um nível de excelência na engenharia de som. Nascido em Minneapolis, no estado de Minnesota (EUA), Swedien foi chamado de mago depois do mix e do remix que fez em todas as faixas de “Thriller”. Os remixes foram feitos faltando apenas nove dias para a entrega do disco.

O engenheiro de som passou a influenciar tanto a sua quanto as gerações posteriores com a sua forma de gravar e mixar. Ele estabeleceu novos parâmetros de sonoridade, fazendo o que o seu ouvido mandava, sem se importar com o que os outros engenheiros faziam, e inovando até no número de microfones que captavam a gravação no estúdio e na posição dos mesmos.

“Se você ouvir a faixa ‘Billie Jean’ e, na sequência, ouvir uma gravação normal que se faz hoje, a diferença é assustadora. ‘Billie Jean’ simplemente salta do disco”, comenta o próprio Swedien, em depoimento de arquivo no filme. Ele chegou a mixar a canção 91 vezes.

“O que me encantava na minha infância, quando eu ouvia uma orquestra, era o fato de eu ouvir a nota de um instrumento e imediatamente ver uma cor”, conta Swedien, ao explicar o que ele chama de “fantasia sônica”, que dá nome ao filme. “Ao fechar os olhos e ouvir os instrumentos, com toda a sua melodia e a harmonia, isso sempre criou uma imagem na minha mente. Algo que, de outra forma, não estaria lá”, completa ele.