Se oito anos atrás alguém dissesse ao empresário goiano Manuel Pereira que sua aposta na multipropriedade hoteleira iria superar seus negócios já consolidados na construção civil tradicional, ele duvidaria.

Fundada em 2014, a GAV Resorts foi uma "aventura" em um setor que, apesar de ser amplamente difundido nos Estados Unidos e Europa, só foi regulamentado no Brasil em 2018. "Começamos a trabalhar com multipropriedade de forma muito tímida. Era um negócio secundário que virou nosso braço principal em pouquíssimo tempo”, afirma Pereira ao NeoFeed.

Além de já ter investido mais de R$ 800 milhões nos oito hotéis multipropriedades já lançados, a marca espera aportar R$ 3,5 bilhões em novos empreendimentos até 2025. O investimento é do próprio caixa da empresa, sem a necessidade de empréstimos, parceiros ou empresas terceiras. “O segredo da multipropriedade é viabilizar os custos da construção ainda na planta”, diz Pereira.

Até o fim do ano, a GAV Resorts fincará sua bandeira em três destinos: Pipa (RN), Jericoacoara (CE) e Maragogi (AL). Com a empreitada nordestina, o grupo passará a estar presente nas regiões Centro-Oeste, Norte, Sul e Nordeste. Serão 11 resorts lançados e R$ 2,1 bilhões de faturamento em caixa no balanço de 2022.

Em Maragogi, o novo resort da GAV contará com uma arquitetura futurista assinada pela designer Bruna Kehrnvald. O empreendimento será construído em um terreno íngreme de 27 mil m², com dois blocos em formato de fita orgânica, diversos focos de iluminação e ventilação natural. No total, o complexo terá 364 apartamentos e vários ambientes comuns.

No destino mais cobiçado do Rio Grande do Norte, o resort de Pipa terá 246 unidades, sendo 228 apartamentos para até quatro pessoas e 16 apartamentos de dois quartos, além de dois apartamentos duplex. O terreno onde o empreendimento será construído possui 21 mil m², e o conceito do resort será integrar a natureza à arquitetura e decoração, com uso de materiais como bambu, palha, madeira e pedra.

Já o GAV de Jericoacoara ficará localizado às margens da Lagoa do Paraíso e ao lado do Parque Nacional de Jericoacoara, um dos mais buscados do destino. O resort será o maior dos três novos lançamentos: terá 56 mil m² e será composto por 288 apartamentos e 12 bangalôs exclusivos, somando 300 unidades. O endereço também contará com todas as áreas de lazer presentes nos demais resorts, com destaque para uma piscina de 4,6 mil m².

Manuel Pereira, fundador e CEO da GAV

De acordo com o CEO da marca, a venda das frações imobiliárias hoteleiras não é muito diferente da venda de um apartamento na planta. “Nós lançamos o projeto, vendemos as unidades na planta, construímos e entregamos”, diz Pereira. O faturamento da empresa é justificado pelo número de lançamentos. “Cerca de 70% de todos os nossos lançamentos foram feitos nos últimos 40 meses. Estamos colhendo os frutos agora”, afirma o empresário.

A primeira operação da GAV a sair do papel foi um resort multipropriedade de 320 apartamentos em Salinópolis, uma praia do Pará. Atualmente com oito resorts no portfólio, que vão de 150 a 990 quartos, a GAV está presente em destinos de lazer cobiçados como Porto de Galinhas (PE) e Gramado (RS). Em 2021, a marca faturou R$ 1,1 bilhão com seu modelo de multipropriedade.

As bandeiras hoteleiras que trabalham com multipropriedade costumam dividir suas unidades em 26 ou 52 cotas, em referência a quantidade de semanas que o ano tem. Se um quarto é dividido em 26 cotas, por exemplo, cada cotista pode utilizar o imóvel por 2 semanas ao ano, mas é possível que uma mesma pessoa compre mais de uma cota.

Nos resorts da GAV, o valor médio da fração imobiliária gira em torno de R$ 50 mil, o que dá direito a duas semanas de hospedagem a cada 12 meses. O público-alvo da marca é a classe média.

“A multipropriedade hoteleira é feita para despertar desejos. Ninguém sai de casa pensando em comprar um quarto de resort”, admite Pereira. Esse ano, a GAV já lançou 92 mil cotas multipropriedade de 3.210 quartos em seus resorts. A meta é chegar ao final do ano com 55 mil clientes com escritura assinada.

A ambição do grupo goiano - criado com a união de três sócios das construtoras Gratão, Amec e Vallepar - está ancorada nos números otimistas do mercado de multipropriedade brasileiro. Desde que foi regulamentado em 2018, o segmento virou uma tendência na hotelaria nacional e cresceu, em média, 24% ao ano nos últimos quatro anos, segundo a consultoria Caio Calfat.

De acordo com a consultoria, o número de frações imobiliárias disponíveis no mercado brasileiro em 2022 cresceu 31% em relação a 2021, alcançando 767.465 cotas lançadas. Já o Valor Geral de Vendas saltou 45% em relação ao ano passado, fazendo da multipropriedade um mercado potencial de R$ 41 bilhões.

As apostas no setor não se restringem apenas a bandeiras hoteleiras nacionais. A rede americana Hard Rock irá fazer sua estreia no Brasil, o primeiro país da América do Sul a receber a marca, com sete empreendimentos multipropriedade. Investimento de cerca de R$ 7 bilhões.

Os resorts da Hard Rock ficarão em Fortaleza (CE), Ilha do Sol (PR), Jericoacoara (CE), Campos do Jordão (SP), São Paulo (SP), Foz do Iguaçu (PR), Recife (PE) e Natal (RN). Desses endereços, o único hotel que não será multipropriedade é o da capital paulista. As unidades de Fortaleza e Ilha do Sol serão as primeiras entregues, ainda no ano que vem.

A incorporadora por trás da vinda da Hard Rock para o Brasil é a VCI, que já conquistou mais de 12 mil clientes e ultrapassou a marca de R$ 1,3 bilhão em vendas de cotas com a empreitada.

No caso da Hard Rock, as unidades também são divididas em 26 frações que dão direito a duas semanas de hospedagem por ano, mas diferentemente da GAV, o produto é voltado para a classe A, com cotas que partem de R$ 96.900 e podem chegar a R$ 239.900, a depender do tipo de acomodação.

“Nosso cliente tem em média 37 anos, é casado e possui renda mensal de pelo menos R$ 25 mil”, afirma Samuel Sicchierolli, CEO da VCI. “Nós queremos fazer o cliente questionar a lógica de ter uma casa de férias que é utilizada poucos dias do ano.”